Vi agora há pouco na CNN que os serviços de inteligência americanos não conseguem obter informações seguras sobre o que acontece na Líbia. Não sabem, por exemplo, qual o potencial das forças de oposição, que agora têm armamentos, oficiais rebelados do exército líbio e deixaram a condição de civis desarmados para agora ser considerados um exército. As TVs mostram cenas de rebeldes com tanques, baterias anti-aéreas, lançadores de mísseis, metralhadoras, etc.
Kadafi, por sua vez, estancou com forte repressão a contestação em Tripoli, que tem o dobro da população de Benghazi, principal reduto oposicionista. Com seu carisma, conseguiu motivar seus correligionários e reorganizar o poder militar que agora emprega contra os rebeldes em batalhas para retomar pontos estratégicos, como a cidade de Brega, onde estão as principais refinarias, e estão nas mãos de rebeldes. Se conseguir retomar qualquer cidade, abaterá o moral dos rebeldes.
Com a indecisão dos EUA de entrarem ou não em mais um atoleiro militar, da União Européia não querer uma guerra sem controle a curta distância do continente europeu, e da comunidade árabe, que não quer saber de intervenção em território líbio nem sequer o bloqueio aéreo para tirar a vantagem de Kadafi sobre os rebeldes, e na incapacidade política da oposição de atrair apoios para a revolta, o movimento poderá entrar em recuo ao custo de um banho de sangue.
Kadafi agora adota o discurso anti-imperialista para falar em plano para derrubá-lo apenas para garantir o petróleo. Se as superpotências entrarem no jogo, o mundo árabe poderá responder em bloco, e isso não interessa a quem depende de petróleo. Ganhou tempo precioso a partir da incapacidade da oposição tomar a capital, e agora, num cenário de guerra civil assimétrica, pode virar o jogo.
A idéia de "duas líbias" em confronto não bate com a realidade geográfica do país. Tirando as cidades do litoral, que concentram a grande maioria da população, o interior é árido, com uma grande área saariana, onde estão pequenas populações de diversas tribos e os campos de petróleo. O teatro de guerra, portanto, está em áreas facilmente alcançáveis pelos aviões e navios sob controle do governo, numa distância máxima de 1200 km. Reorganizado, Kadafi terá bem mais chances de sucesso que a oposição, que está exaurida, sem visibilidade política, com suprimentos escassos.
Os fatos da Líbia servirão para os EUA tomarem mais cuidado quando, por exemplo, estimularem uma rebelião no Irã. E a atitude repressiva de Kadafi poderá servir de exemplo para outras tiranias da região reprimirem as revoltas em curso. Dependendo da Libia, as revoltas na região podem estancar e mesmo sofrer retrocessos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário