Faço parte do razoável grupo que não se sente bem vendo uma ceia farta cercada de miséria por todos os lados. Dos que perdem a vontade de comer num bom restaurante vendo pessoas garimpando comida nas lixeiras. Dos que se deprimem com o apelo ao consumismo desenfreado tendo como foco uma data que, para os cristãos, deveria ser de solidariedade e reflexão.
O sociólogo Betinho era um desses, e foi além: denunciou a miséria da fome, e aproveitou justamente o Natal para fazê-la visível. Concebeu e dedicou-se ao projeto Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e Pela Vida, que tinha como um dos desdobramentos a campanha Natal Sem Fome, conseguindo o apoio da população, da mídia e de alguns capitalistas.
Pelo menos no Natal algumas pessoas miseráveis poderiam comer, e isso aliviava a culpa cristã, mas não era suficiente para os que querem a solução estrutural para o problema. A campanha tocada pelo Betinho falou de fome quando as elites se recusavam a dizer que havia esse problema no Brasil. Desembocou na discussão do tema da Segurança Alimentar, que embasou o programa Fome Zero e, posteriormente, o Bolsa Família, para o qual as elites torcem o nariz, mas foi um dos principais pilares do movimento de ascensão social que foi marca do governo Lula.
A miséria está aí, batendo às portas até da rica Brasília, cidade do maior PIB "per capita" do Brasil, como mostra o acampamento de indigentes na entrada da Asa Norte, na foto. Todo Natal famílias inteiras se deslocam para Brasília para ganhar visibilidade e alguns presentes de envergonhados Ebenezer Scrooge, atormentados pelos seus fantasmas, como no "Conto de Natal" de Charles Dickens.
sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
Misérias de Natal
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário