segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Viagem longa : primeiras conclusões.

Chegamos ontem de 50 dias de viagem ao exterior. Um balanço preliminar: 16 mil fotos, 10 países, orçamento cumprido, dois países inicialmente programados não foram visitados. Cansaço e um mal-estar que vai do adoecimento por mudanças rápidas de climas e temperaturas, jet-lag, tensão a cada instante por mudança de variáveis, etc. Adicional de cansaço por 12 horas enlatado num avião apenas na parte principal do vôo, fora as escalas para troca de aeronave.

Primeira conclusão: não se pode fazer uma viagem com essa duração com tantos objetivos. Não temos mais saúde para isso. Viagens de longa duração devem ser feitas com longas estadas em poucas cidades, sem muitas modificações de ambiente.

Segunda conclusão: vale a pena pagar um pouco mais por uma passagem que tenha a volta flexível, para que não se fique refém de uma passagem sem flexibilidade. É melhor poder mudar a data de volta, por exemplo, que perder a passagem de volta e ter que comprar uma outra a preço quase da ida-e-volta em cima da hora.

Terceira conclusão: talvez valha a pena pagar um pouco mais caro por passagens de longo curso em classe executiva, para ter qualidade no sono.

Quarta conclusão : nunca alugar carro na Itália. Há armadilhas montadas por uma indústria da multa para pegar motoristas que desconhecem as peculiaridades obscuras criadas por prefeituras e auto-estradas para sujeitar o motorista a ciladas a todo momento. Fora os estacionamentos caríssimos, onde se sabe o preço apenas depois que já estacionou.

Quinta conclusão : viagem em ritmo frenético traz para a coordenação do projeto um forte stress, que não é sensível para os demais do grupo. Decisões a todo momento, riscos a serem mitigados, exigências disciplinares, tudo isso é incompatível com o propósito maior da viagem, que é a diversão.

Sexta conclusão : todo o sacrifício vale a pena, e a gente descansa depois. Conhecer o mundo não tem preço.


sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Itália : Mais políticos (inúteis) que o Brasil no Congresso


A gente reclama da quantidade de políticos inúteis do nosso congresso, e com razão, pois boa parte apenas está lá para escapar de processos e fazer negócios com o poder de voto nas questões de interesse de lobbies de grandes grupos econômicos. Para uma população de cerca de 200 milhões de pessoas, temos 81 senadores e 513 deputados federais. Já a Itália, que tem 60 milhões de habitantes, menos de um terço do Brasil, tem na folha de pagamento paga pelo cidadão nada menos que 321 senadores e 630 deputados federais!

Em frente ao Palácio Montecitori, sede do parlamento, há mais de 3 meses há um acampamento de ativistas que pedem o corte radical da quantidade de parlamentares, redução de mordomias, de carros oficiais, de despesas com administradores, etc. E levantam a bandeira da democracia direta como alternativa.

Como me disse um deles, sem o povo na rua, nada mudará, porque o corporativismo dos parlamentares jamais os fará cortar mordomias. Ou seja, cachorro não come cachorro. Detalhe: todo ex-presidente automaticamente se torna senador. Vitalício! Vai ver que é por isso que temos mais copas do mundo que eles. 

Itália : Como é que os italianos sobrevivem com o Euro?

Nesta viagem passei por 8 países antes de chegar à Itália, entre eles 3 que usam o Euro como moeda: Áustria, Alemanha e Eslovênia. O mais caro tinha sido a Alemanha, com os preços um pouco acima dos praticados no Brasil. Isso em supermercados de Munique, que já é numa região cara. Na Eslovênia as coisas estavam mais ou menos iguais. Em Viena, também um pouco mais caras. Isso fora de áreas turísticas. No Leste Europeu, chegamos a ver garapas, como na Bulgária, com tudo bem barato, e nos demais, inclusive em Moscou, preços menores ou iguais aos do Brasil. Sempre fora das áreas turísticas.

Chegando à Itália tomamos um susto com os preços. A princípio pensamos ser pelo turismo, mas fomos a supermercados mais afastados do centro e vimos que os preços estavam realmente muito altos. Os melhores preços, nas cidades onde passamos, eram praticados pelos supermercados de cooperativas, mesmo assim um pouco mais alto que os preços brasileiros. Como a gente anda nos lugares e tem a impressão de que tudo está parado, pois as lojas estão vazias e não há movimento em geral, dá para se notar que a crise italiana vai além do déficit público. Tudo está muito caro, eliminando o poder aquisitivo do italiano.

Nas conversas com algumas pessoas havia uma unanimidade: quando o Euro foi adotado, substituindo a Lira, os preços praticamente dobraram, e não houve acompanhamento pelos salários. Num primeiro momento houve queda de alguns preços pela maior entrada de importados, mas com o tempo ficou a grande perda. O governo não consegue fugir das imposições da Comunidade Européia e cada vez mais faz concessões que impedem a retomada do crescimento.

A Itália não é o país mais caro da Europa, mas o fato de seus preços estarem sem condições de concorrer com os países mais poderosos do bloco provoca a desindustrialização, passando a viver de turismo e da exportação de produtos agro-industriais. Turismo é um serviço fortemente sensível à crise econômica global, por ser algo adiável, supérfluo. Na Grécia, com a crise explodindo em descontentamento popular, o turismo caiu fortemente, e o mesmo pode acontecer com a Itália.

Em 1995, antes do Euro, viajei a diversos países europeus e a Itália era o mais barato, sendo a Alemanha o mais caro. De lá para cá não é visível o melhoramento na infra-estrutura do país mesmo com maior aderência ao bloco europeu. As auto-estradas são as mesmas de 16 anos atrás, com alguns melhoramentos. O transporte ferroviário foi parcialmente privatizado e encareceu muito. Os imóveis estão muito caros.

Não há política energética, e o país depende de gás da Rússia, de eletricidade da França e de petróleo que tenta conquistar na Líbia. Ainda resiste o "welfare state" na previdência, nos serviços médicos e educação, cada vez mais ameaçado pelas exigências privatizantes dos programas de recuperação do FMI. Não sei como sobrevivem, mas uma coisa pareceu clara: se mexerem no pouco que ainda sustenta uma parte da população perante a carestia, a Grécia vai parecer coisa de amador em termos de agitação social.

Toscana : Belíssima, de fato.

Saindo de Porto Venere, em La Spezia, preferimos as estradas menores para ver o melhor da região da Toscana, e foi uma ótima opção. Lindas paisagens de campos e montanhas, ajudadas pela mudança de coloração das árvores neste meio outono. Para quem dirige, o desconfortável é ter que prestar atenção nas estreitas estradas, cheias de rótulas onde a todo o momento a direção pretendida muda. Escolhemos Volterra como destino e acho que acertamos. A cidade é representativa da região.  Pena termos que ir embora hoje, e ficar pouco tempo. A beleza da Toscana não é peça de propaganda: é verdade mesmo. 

Itália : Berlusconi declara guerra aos trabalhadores

Ontem, enquanto os italianos sofriam com o desastre das chuvas na região da Ligúria e a mídia dava toda a atenção aos seis mortos nas inundações, o primeiro-ministro Silvio Berlusconi apresentava à Comunidade Européia (entenda-se bancos da Alemanha e França) um plano para reduzir direitos trabalhistas na contratação, em caso da empresa estar em situação econômico-financeira ruim. Em compensação, haverá facilidades na rolagem de dívidas com bancos, salvando a pele destes diante de um risco de calote.

Os sindicatos entenderam a medida como uma provocação e prometem reação. A julgar pelo que houve por aqui no último dia 15 em Roma, pode-se prever uma poderosa jornada de greves e manifestações assim que as medidas forem para a prática. 

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Viagem : Cinque Terre arrasada por chuvas




Era para ontem termos dormido em alguma das aldeias de Cinque Terre, no litoral italiano próximo a La Spezia e Gênova. Felizmente, bateu cansaço e chovia ontem em Florença quando resolvemos ficar por lá mesmo. Hoje pela manhã, na TV se falava em tragédia das chuvas na Ligúria, uma região italiana acima da Toscana, onde estávamos ontem.

 Como a previsão do tempo para o litoral era de tempo bom, não ligamos para a informação. Acontece que |Cinque Terre fica na Ligúria, e as cidades sofreram os impactos.

Como não sabíamos de nada, estranhamos não haver praticamente ninguém se deslocando pelas estradas, até encontrarmos um trecho interditado logo depois da entrada para Corniglia e Vernazza. Tentamos descer a serra até ambas as localidades, encontrando interdições. A topografia parece com a da Rio-Santos: a estrada passa à meia-encosta, com descidas íngremes para as praias, condomínios, etc.

Nos relatos que lemos antes da viagem, faziam dessas estradas verdadeiros bichos-papões, mas a coisa não é tão ruim assim. O problema é quando se tenta parar um carro na praia, como em Riomaggiore e Manarola, que oferecem vagas de estacionamento pago em lugares ainda bem altos.

Do que pudemos ver, a região é linda. Única, com casas desafiando a gravidade nas beiradas de penhascos, e paisagens que parecem ter saído de quebra-cabeças.

Com esse problema, o mar ficou cheio de detritos e estão interrompidos os passeios de barco até as praias. Só restou a opção de Porto Venere, um recanto delicioso próximo ao porto de La Spezia, melhor ainda com a baixa estação. 

Pistóia : A memória da guerra do Brasil na Itália contra o nazi-fascismo



No início dos anos 60 ainda era bem viva a memória da Segunda Guerra Mundial, da qual o Brasil participou com a Força Expedicionária Brasileira e a Força Aérea Brasileira, deixando em solo italiano 465 mortos no cemitério na cidade de Pistóia, a cerca de 30 km de Florença. Tinha vizinhos e professores que combateram, e falavam das campanhas no centro-norte da Itália, em batalhas como Montese, Monte Castelo, Fornovo, etc. E do cemitério dos mortos brasileiros em Pistóia.

Para quem não sabe, o Brasil declarou guerra em 1942 aos países do Eixo - Alemanha, Itália e Japão - a partir de uma campanha popular, mesmo em plena ditadura Vargas, simpatizante do fascismo de Mussolini, onde se destacaram os comunistas, interessados em enfraquecer os nazistas que dizimavam milhões de soviéticos no front russo. Navios mercantes brasileiros foram afundados no litoral do nordeste, possivelmente por submarios alemães (há controvérsias e quem diga que foram os próprios americanos para afastar Vargas do Eixo).

O Brasil estava despreparado para a guerra, e só conseguiu mandar uma divisão para a Itália, para ficar sob comando dos norte-americanos, que tiveram que prover a tropa com alimentos, agasalhos, armas, etc. Quem estava melhor era a FAB, cujos pilotos já participavam de treinamentos com americanos no Panamá. Era uma grande contradição política a participação brasileira, o que talvez explique o atraso no envio de tropas: um governo fascista combatendo outros fascistas.

Quase 20.000 brasileiros foram mandados à Itália, entre soldados e oficiais, aviadores, enfermeiras, e até funcionários do Banco do Brasil para fazer os pagamentos. Participaram de batalhas que foram verdadeiras pedreiras, tomando bunkers de alemães em colinas. Relatos que ouvi quando criança também diziam que os brasileiros eram mandados pelo comando americano para as missões mais sujeitas a baixas, poupando o pessoal deles. A FAB participava do bombardeio das linhas de suprimento, que levaram à inanição toda uma divisão alemã que acabou se entregando aos pracinhas, num total de 17.000 homens. Na região também há cemitérios de alemães e americanos.

Fiz questão de ir ao local, apesar de não ter placas indicativas e ter dependido de GPS e do Google Earth, para ver o Monumento Votivo e ver como estava a memória da participação do Brasil 65 anos depois do fim do conflito. Tudo estava muito bem cuidado, até a pira, mantido por um funcionário do Itamaraty que vem a ser filho de um sargento brasileiro com uma italiana. No escritório, o livro de registro mostrava o aumento do número de brasileiros visitantes, e tinha muitos materiais didáticos, inclusive em italiano. A foto do presidente brasileiro estava desatualizada, estando Lula na parede.

Segundo o funcionário Mário, está aumentando a frequência de brasileiros na visita ao local. Também vão por lá italianos e pessoas de outras nacionalidades, para prestar homenagens. Os italianos da região, em especial, têm apreço aos brasileiros que foram além da luta pela libertação dos nazi-fascistas, prestando ajuda humanitária.

É um pedaço de Brasil que merece ser lembrado, para que o fascismo e o nazismo nunca mais prosperem em terras brasileiras. Terminada a guerra em 1945, o povo derrubou a  ditadura Vargas. A lição, entretanto, não foi totalmente aprendida. Em 1964, vários dos militares que participaram da luta anti-fascista participaram da implantação de uma nova ditadura fascista no Brasil. Este monumento, assim como o dos mortos da 2a guerra no Rio, devem ter seus significados políticos bem claros para as futuras gerações, e não servir apenas de patrimônio corporativos das forças armadas.


Kassab vai às compras no DEM

A notícia não é nova. Para criar o PSD, novo partido que pretende ser governista e tirar do ostracismo e do acesso a recursos muitos políticos sem qualquer pudor de virar casada, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, filiou uma bancada de 55 deputados. Para tanto, foi às compras no DEM. Só não sabia que a coisa era tão institucional assim. Vide foto.

Com o arrastão de Kassab, a bancada do DEM caiu de 46 para 25 cadeiras na Câmara, e já pode ser considerado um partido nanico. O PSDB perdeu apenas 3 deputados. Até o PC do B perdeu um. PT e PSB não perderam nenhum para a nova legenda.


terça-feira, 25 de outubro de 2011

Itália : A vez do primo pobre pagar a conta

 De muito pouco adiantam o jeitão bonachão de Silvio Berlusconi e sua pretensa intimidade no clube dos países ricos da Europa. No último domingo, em Bruxelas, Alemanha e França mandaram o recado duro: tem que fazer cortes na previdência social para ter ajuda contra a crise. A notícia repercute por aqui com protestos de vários partidos e do próprio Berlusconi, mas o pior para os italianos é ver que os primos ricos estão se distanciando do pobre. 

Na semana passada, Alemanha e França tentaram interferir na nomeação do presidente do Banco da Itália. Logo haverá conflito de interesses em relação à Líbia, onde a França quer a parte do leão no petróleo, disputando com a Itália. Pelo visto, a Itália entrará logo na espiral de protestos que tomou conta da Grécia, onde o povo não aceita cortes. Na quinta haverá reunião da União Européia e Berlusconi terá que levar a Angela Merkel e Sarkozy uma proposta para aplacar a fome dos mais ricos. 

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Viagem : Veneza em um dia

Conhecer Veneza não é fácil, ainda mais em apenas um dia. Quando fiz a análise de alternativas para viajar a Veneza a partir de Roma, a de ir de carro alugado venceu com facilidade a ida e volta de trem para duas pessoas.  Com gasolina e pedágio inclusos. O ideal seria chegar lá de trem, passar uns dois dias e voltar de trem, mas acabamos fazendo diferente: viajamos de carro até Pádua, pegamos um hotel barato para os padrões italianos e fomos hoje cedo para Veneza, retornando agora há pouco, às 21h. No total, 12 horas em Veneza. Muito pouco para conhecer tudo, mas  o que vimos foi suficiente para afirmar que é uma cidade única, talvez a mais bonita que já conheci. Dizer que Recife é a Veneza brasileira é uma heresia.

Em 30 minutos de carro pela autoestrada A4, pagando 3 euros de pedágio, se chega à ilha de Troncheto, praticamente encostada em Veneza. O estacionamento, para quem passa mais de 6 horas, é de 21 euros na parte coberta, e 16 euros na parte ao ar livre. No próprio terminal deve-se comprar o passe para os barcos, por 16 euros por pessoa, válido por 12 horas. Uma única viagem custa 6,50 euros, daí o passe ser uma opção bem mais em conta. Há um outro passe, de 26 euros por pessoa, que inclui barcos até o aeroporto, mas isso foi desnecessário. O passe que compramos também dá direito a trens e ônibus até a cidade vizinha de Mestre, que também é um bom ponto de apoio para quem não quer dormir em Veneza e morrer em uma grana pesada em hotéis.

Comprado o passe, junto ao terminal há uma estação de barcos. Validamos os tickets numa maquininha que tem em toda estação (fundamental, senão pode dar em multa), pegamos um barco até a estação Pl. de Roma e de lá o barco direto para a ilha de Murano, que é onde está o grande diferencial  da produção artística de Veneza. A tradição em vidraçaria é de séculos, e a ilhota é uma grande fábrica de artefatos de todos os tipos, cores e preços em vidro. Tem até um Museu do Vidro, onde se pode aprender como fazer arte no material.

Em Murano resolvemos o problema de abastecimento de itens básicos, como água, já que em Veneza os preços são estuprantes. Uma garrafinha de água de 500 ml pode custar 2 euros. Uma coca de 500 ml pode ir a 3 fácil. Qualquer coisa que se coma, como um pedaço de pizza , custa no barato 6 euros (uns 18 reais). Até para ir ao banheiro o preço corrente é de 1,50 euros, ou seja, R$ 3,75 por uma simples mijada. Logo que descemos na estação Colonne, encontramos um supermercado bem malocado num centro comercial, onde os locais fazem compras a preços razoáveis, e compramos de tudo para nos tornar auto-suficientes na estada em Veneza. Na mesma galeria também compramos logo artesanatos a preços bem mais baratos que nas lojas externas.

Em Murano o tempo começou a virar, e corremos logo para a Praça de São Marcos, atração número 1 de qualquer excursão que vai à ilha. Incrível como numa segunda-feira, baixa estação, o lugar estava tomado por turistas. Veneza recebe 13 milhões de pessoas por ano. Para se ter idéia do que é isso, o Brasil inteiro recebeu, em 2010, 5,1 milhões de turistas estrangeiros. E em Veneza o que se vê é brasileiro, indiano, chinês, coreano, alemão, praticamente todos em excursões. Chegamos a ver cardápios em mandarim e em russo, e bandeiras brasileiras em lojas.

A cidade estimula andar a pé. Tem na sua maior dimensão 4,3km, e não tem nenhum terreno que não seja construído. Praticamente todos os prédios são de bela arquitetura, bem conservados ou não. O sistema de transportes aquáticos é bom, preciso, seguro e interessantíssimo. As gôndolas continuam caríssimas, e são apenas para passeios mais ou menos românticos. Hoje quando começou a  chover vi casais fazendo passeios de gôndolas tomando a maior água, mas sem perderem a pose, afinal, tais passeios são sonhos dessas pessoas.

O Grande Canal corta Veneza em dois grandes pedaços,e vale a pena andar por ele pelos barcos 1 ou 2.  Este também dá uma volta por fora, parando na ilha em frente em vários lugares e chegando à Praça de São Marcos vindo da lagoa, não do Canal.




Veneza também é famosa pelas máscaras de carnaval. Numa pequena rua que fica poucos a poucos metros do cais da Praça de São Marcos há uma loja e uma fábrica de máscaras e fantasias muito bonitas. E caras também. Vale a pena ver. Quando retornar ao Brasil e tiver mais tempo vou completar este post com fotos e indicações mais precisas.

Uma boa caminhada da Praça de São Marcos até Rialto mostrará um comércio variado do artesanato local, não apenas de vidro e máscaras, mas confecções e ourivesaria, além de grifes famosas italianas, em especial. Preços muito salgados. Em torno da praça, ao entardecer, há música de qualidade nos cafés, com pianos, sax e vocais.

A visita à Catedral de São Marcos é gratuita, mas deve-se deixar mochilas e bolsas num local próximo. Uma boa visão da cidade é na torre em frente, que tem elevador, e cujo ingresso é de 8 euros. O ruim é a fila que parece não andar.

À noite a iluminação das lojas dá um novo colorido, ocultando os prédios antigos, em algumas áreas da cidade. Nas demais, o silêncio e a penumbra tornam o lugar especial para quem pode pagar um hotel na cidade. Não é o nosso caso. Depois de 44 dias de viagem, com o orçamento rigorosamente executado, um pernoite desses seria um ato perdulário. 

domingo, 23 de outubro de 2011

Viagem : De Roma a Pádua

Depois de ver que o aluguel de carro mais o combustível compensava comparado com as passagens de trem, alugamos um Lancia Musa, que é 1.3 ou 1.4, mas não é do tipo "pônei maldito" e encaramos os quase 600 km de Roma a Pádua, com o objetivo de ir a Veneza sem pagar uma fortuna. Pádua fica a 30 km, tem hotéis baratos em lugar estratégico para ganhar a estrada e chegar a Veneza rápido. Lá tem um estacionamento caro, mas dentro da ilha praticamente.

Pegamos o carro no aeroporto de Ciampino, porque é de lá que sairemos na próxima sexta e fica mais fácil deixar por lá. Da estação ferroviária Termini pegamos um ônibus (do lado de fora, para ser mais exato) por 4 euros e depois de 45 minutos estávamos no aeroporto. As locadoras ficam no estacionamento 8. Uma van passa a cada 20 minutos no ponto de táxi para pegar as pessoas para levar até lá. O caminho para sair de lá é um anel viário que circula Roma. Depois se pega a autoestrada A1, que vai até Milão, no sentido de Florença (Firenze).

Essa estrada parece as de São Paulo: uma Via Dutra piorada, mas que tem um pedágio pesado. De Roma a Pádua foram 31,70 euros, uns R$ 75 para uns 560 km. Em muitos trechos não há sequer acostamento, e predominam os trechos com apenas duas faixas. As curvas têm raios dignos da Rio-Petrópolis ou da Dutra na Serra das Araras. A sinalização avisa muito em cima as saídas, em alguns casos. Por fim, a velocidade máxima é de 110km /h.

Se for encarar essa estrada, compre comida e bebidas em supermercado antes de viajar, porque os preços cartelizados do restaurante das paradas é absurdo. Tivemos que sair num certo momento para uma cidade para comprar coisas, porque não dava para encarar os absurdos. Também fica a dica para quem vê uma cidadezinha nos penhascos e acha que vai lá conhecer rapidinho: os centros históricos são fechados, e você tem que parar o carro num estacionamento longínquo e andar a pé por um bom tempo. Se estiver com pressa, não tente fazer esse turismo.

O trecho mais complicado é entre Florença e Bolonha, por causa de uma serra com curvas, túneis e trechos estreitos. Dá para dirigir á noite, mas é recomendável a ajuda de um GPS. 

sábado, 22 de outubro de 2011

Londres : Cidade das Barracas denuncia capitalismo

O mais interessante da manifestação de hoje em Londres foi o título dado pela mídia internacional: ato anti-capitalista. Os movimentos do tipo Occupy Wall Street, que se espalharam pelo mundo sem um programa, aparentando apenas serem protestos contra a crise, começa a ganhar contornos ainda não politizados nem partidarizados, mas claros quanto à vilania do sistema de exploração que vige no mundo.

A exclusão capitalista atingiu níveis mundiais, complexos porém de mesmas características visíveis aos povos. Ontem aqui em Roma vi uma turista norte-americana com um botton na blusa que dizia "Tax the riches", ou seja, taxem os ricos, e era uma pessoa de classe média que dizia isso. Nos EUA está muito patente que os ricos pouco pagam, deixando para as camadas trabalhadoras todo o ônus dos programas sociais. Na Inglaterra a exploração potencializa revoltas, como a que ocorreu há dois meses. Em outros países, mesmo nos sem tradição democrática formal, há lutas por justiça social porque a exploração atingiu níveis absurdos.

Tomara que esses movimentos anti-capitalistas continuem crescendo e avançando para uma formulação mais clara de uma alternativa não-capitalista, democrática, inclusiva. No Brasil, não é porque os governos Lula / Dilma impediram os efeitos mais perversos da crise sobre emprego e renda que não haja motivos para ser anti-capitalista. Tudo que está aí pode se desmanchar no ar, mesmo na aparente bonança, devido à complexa interdependência entre os países capitalistas.


quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Europa : Quem será a primeira Síria?

À medida que planos de austeridade econômica ditados pelo FMI vão sendo aprovados por parlamentos e começam a produzir efeitos devastadores sobre empregos, previdência e programas sociais nos países europeus, as reações ficam mais radicalizadas. Na Grécia o confronto está no nível de greve geral com pancadarias nas ruas. Em Roma, no sábado passado, uma manifestação pacífica "Ocupem Roma" descambou para a pancadaria e vandalismo, aparentemente pela infiltração de um grupo mais radical. Na Inglaterra, há alguns meses, uma espiral de violência explodiu, causando devastação em alguns bairros.

Tem muita pólvora espalhada, e qualquer centelha faz disparar distúrbios. A questão econômica está presente na "primavera árabe" e no "verão europeu". As frustrações e perdas fertilizam o solo da radicalidade em todos os países em crise. A questão que fica no ar é : qual será o primeiro país "democrático e civilizado" que usará tanques e munição real contra uma revolta do seu povo? Na hora que um  deles fizer isso, todo o discurso aplicado aos países produtores de petróleo como argumento para fomentar ações militares cairá por terra. Quando isso acontecer, haverá sanções, ou haverá "compreensão" para que não se deixe os banqueiros sem receber as sagradas rendas dos seus capitais?

Enquanto o governo brasileiro diz que não se deve comemorar a morte de ninguém e aposta no apoio ao novo governo para reconstruir a Líbia, o presidente norte-americano, Barack Obama, seguindo a linha sanguinária da execução de Osama Bin Laden, comemorou a eliminação de Kadhafi.

O editorial de Carta Capital levanta as preocupações com a irracionalidade que tomou as relações internacionais e com os  abusos aos direitos humanos para os quais as potências fazem vistas grossas em nome dos seus interesses maiores:


LÍBIA, PETRÓLEO E DEMOCRACIA
 
Quatro semanas de bombardeios intensos dos caças da Otan precederam a captura e morte de Kadafi, nesta 5ª feira, na Líbia.  Sirte, a cidade nuclear no centro das operações, foi reduzida a ruínas. Mais de 100 pessoas morreram nos últimos 10 dias. Há centenas de feridos e encarcerados. A violência não se limita aos combates.Um relatório da Anistia Internacional, de 13 de outubro, "Detention Abuses Staining the New Libya",denuncia a persistencia de prisões arbitrárias, sem julgamento, por parte de milícias incorporadas ao governo provisório rebelde. A prática da tortura é generalizada nas prisões, seja por vingança, seja como método sancionado de coleta de  informação. Se o Conselho Nacional de Transição (CNT) não der mostras de "uma ação firme e imediata", diz o Relatório da Anistia, a Líbia corre "um risco real de ver algumas tendências do passado repetirem-se.O documento resume as conclusões de uma delegação da Anistia Internacional que, entre 18 de agosto e 21 de setembro, recolheu os testemunhos de perto de três centenas de prisioneiros em 11 instalações de detenção da capital, Tripoli, bem como de Zawiyah e outras regiões do país. As imagens de Kadafi banhado em sangue, com o rosto desfigurado, morto após captura, ocuparam hoje um espaço de destaque, algo jubiloso, em veículos tradicionalmente empenhados em cobrar o respeito aos direitos humanos, sobretudo de regimes cujos governantes, em sua opinião, não comungam valores democráticos.  Carta Maior repudia a tortura, o arbítrio e a opressão --política e econômica, posto que são indissociáveis--  em qualquer idioma e latitude. Não se constrói uma sociedade justa e libertária com o empréstimo dos métodos que qualificam o seu oposto. A história dirá se o que assistimos hoje na Líbia atende às justas aspirações das etnias líbias por liberdade e justiça social, ou configura apenas uma cortina de fumaça feita de bombas e opacidade midiática para lubrificar o assalto das potências ao petróleo local.
(Carta Maior; 6ª feira, 21/10/ 2011)

Libia : Kadhafi executado sumariamente

Para o governo transitório da Líbia, a agenda democrática (eleições, etc) deveria ter início com a captura de Kadhafi. Evidentemente que a execução sumária de Kadhafi no meio da rua, sem prisão, julgamento ou qualquer outro procedimento civilizado, acelera tudo, porque com ele preso haveria condições de montar um circo para durar meses e adiar eleições. O que pode vir agora, já que o grupo vencedor é heterogêneo e guarda contradições internas profundas, é a guerra pela hegemonia, destroçando mais ainda a Líbia.

Como ficam as potências que "humanitariamente" apoiaram a oposição a Kadhafi com esse ato de barbárie? Aqui pela Itália há debates acalorados sobre o caso, porque os italianos estão envolvidos até os cabelos no processo de deposição de Kadhafi. Os franceses também, pela mesma razão : petróleo. Quem bancou essa execução? Quem vai bancar a barbárie que vem por aí, de eliminação dos aliados de Kadhafi também ao arrepio das convenções jurídicas? A OTAN vai lá dar "ajuda humanitária" também? A ONU? Bem fez o Brasil, que se absteve de aprovar as ações armadas que respaldaram essa execução, irá respaldar outras e até uma guerra civil, destruindo um país. 

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Bancários : OCUPEM O COPOM

Os bancários e o restante da população têm um compromisso em comum, cotidiano, fora de campanha salarial: acabar com as mamatas dos banqueiros, que levam grande parte do orçamento da saúde, educação, habitação e programas sociais para engordar seus lucros através de gordos juros que impoem aos governos. Os bancários sabem que pagam um preço adicional à exploração dos banqueiros, com seus salários aviltados a cada campanha salarial, por isso está na hora de encampar uma grande luta, estratégica, contra os seus patrões, convocando a população para agir.

Se as pessoas se revoltam com uma classe política safada que rouba migalhas perto do PIB brasileiro, por que não fazer o mesmo em relação a uma minoria que nos leva o grosso dos recursos? Chega de cortes nas áreas sociais e nos investimentos! Com menos juros, o dinheiro aparece, e depois se poderá até falar em cortar impostos.

Começa hoje mais uma reunião do Conselho de Política Monetária - COPOM - que é a instância que determina os juros que o governo vai pagar aos banqueiros. Leia-se : OS JUROS QUE NÓS VAMOS PAGAR AOS BANQUEIROS! Essas reuniões acontecem a cada 40 dias. A presidente Dilma sinalizou que quer baixar os juros, apesar da mídia dos banqueiros fazer pesada campanha para dizer que a inflação irá disparar se isso acontecer.

Por que os sindicatos governistas, que são 90% dos que aí estão, mais as oposições de esquerda, que também são contra a extorsão dos banqueiros, não aproveitam essas reuniões para fazer um movimento OCUPE O COPOM ? Se o governo sozinho não tem como encarar o poder dos banqueiros, que é mundial e está levando fome e miséria a muitos países que agora se revoltam, por que não darmos uma força para detonar esse privilégio aos rentistas e especuladores? As redes sociais e as máquinas sindicais estão aí para isso mesmo.

Brinquedos de engenharia : Merkur

Há algum tempo escrevi sobre a falta de brinquedos  científicos, que ao meu ver estimulam a criatividade das crianças e adolescentes, em especial para áreas de engenharia. No Brasil praticamente não há nada além dos bloquinhos de montar para crianças, pequenos jogos de química, Lego, entre outros.



No ano passado encontrei em Toronto o jogo de armar Meccano, em metal, para montar 2 projetos de motos. A busca era pelo Erector, brinquedo de engenharia fabricado desde o início do século 20, descontinuado na década de 60, que tive na infância.


Agora, em Praga, encontrei o Merkur, fabricado na República Checa, que  lembra o Erector em variedade de elementos, numa versão de mais de 1000 peças, bem pesado (5,6kg) para carregar na viagem, mas comprei mesmo assim. Permite montar 100 modelos diferentes, uma festa para as crianças, e estímulo para a engenharia. 

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Greve dos bancários : Mais um final traumático

A campanha salarial dos bancários há anos segue a mesma rotina: um encontro nacional que define os índices e reivindicações, onde por maioria passa uma proposta modesta e sai derrotada uma proposta bem mais arrojada feita pelas oposições às direções que controlam os sindicatos. Com a pauta de reivindicações já rebaixada, há as negociações com os banqueiros, que não dão em nada até o início de setembro.

Com a demora, as oposições sindicais batem os tambores e os dirigentes têm que fazer assembléias para trazer as propostas miseráveis feitas pelos banqueiros para serem rechaçadas. Chega-se a um clímax quando os banqueiros dão uma melhorada na proposta para algo em torno de 1% acima da inflação, e em geral estoura a greve pela desfaçatez, já que até os sindicatos mais pelegos não aceitam isso para não pegar mal.

A greve começa devagar, vai se alastrando por todo o país e em 15 dias já está estabilizado o cenário: quem está em greve vai cuidar da vida, quem fura a greve fica jogando paciência no computador fingindo que trabalha dentro de um banco, e não há negociações. Diante do impasse e da impaciência dos grevistas, os banqueiros, que não são filantropos e têm em suas folhas de pagamento profissionais de RH que negociam seus interesses, chamam os dirigentes e fecham uma proposta que todo mundo no início da greve já sabia que viria, com mais uma merreca de índice de reajuste, cláusulas sociais e principalmente criação de grupos de trabalho para discutir carreiras, saúde, etc, que nunca serão implantados.

Os dirigentes sindicais que negociam fecham o acordo com os banqueiros e depois vão às bases empurrar goela abaixo o resultado. As oposições sindicais, que se credenciam nas campanhas salariais, certamente irão votar contra a tal proposta traidora, pelega, etc. Os dirigentes e negociadores, articulados com os banqueiros, conseguirão nas assembléias uma expressiva quantidade de fura-greves que irão lá para acabar com o movimento e aceitar a proposta. Detalhe: primeiro se fará assembléias de bancos privados, onde ninguém vai, além dos prepostos dos banqueiros, para aceitar a merreca. Depois as de bancos públicos, cheias de engravatados, mandados pelo patrão que é algum governo.

Algum banco público, BB ou CEF, não aceitará a proposta e continuará a greve, mesmo que alguns estados a tenham aprovado. Haverá mais uns dias de movimento, e tudo acabará na dispersão, com as pessoas abandonando o movimento desordenadamente, ou numa sessão do TST.

Na última sexta-feira foi feita uma proposta de reajuste de 9%. Considerada a inflação de 6,7%, são 2,3% de reposição de perdas (ganho real só depois que as perdas forem todas repostas, e isso está muito longe). Até aqui, 15 dias de greve para avançar 1%, que de antemão os banqueiros tinham na manga, e que dirigentes e bancários já sabiam disso pelas greves anteriores. Falta ao movimento sindical bancário inovação, desenvolver mobilizações que realmente façam os banqueiros ter urgência em negociar. Ganhando dinheiro com tarifas extorsivas e mamando nas tetas do governo com os juros que impoem, eles parecem pouco se importar com greves dos trabalhadores que exploram no Brasil. Um paradoxo, considerando-se que pelo mundo afora há manifestações contra a exploração do sistema financeiro.

Vamos ver o que acontecerá neste ano. Se depender das direções sindicais, acaba tudo hoje com mais um "ganho real" e "grandes conquistas", na visão deles, e de "avanços na organização e no desgaste dos pelegos ", no discurso das oposições aguerridas, que desde que Lula chegou ao governo não ganharam nenhum sindicato da pelegada. Para os bancários que fizeram greve, ainda há a conta dos dias parados a descontar com horas extras. Falta inovação para todo mundo nesse jogo, onde só os banqueiros ganham. 

Viagem : Quando feijão e arroz fazem falta

Se fizerem uma autópsia num europeu irão encontrar no estômago apenas pão, macarrão, pizza, carne de porco e café. O padrão é mais ou menos assim: nos cafés se toma evidentemente o café, com um copo d'água, fuma-se muito e eventualmente se lê jornal. Vez por outra um doce. Relaxante, passa-se horas nisso. Comida que é bom, nada!

Outra opção é a padaria. Baguetes, enrolados em geral, croissants, pão, etc. Mais café. O melhor do cardápio é um cai-duro de origem árabe, chamado quebab. Desce bem com um refrigerante, e mata a fome. Nos restaurantes, o esquema menu, com 3 pratos, sendo que apenas a entrada já daria para matar a fome. Se você interrompe a ordem e pede apenas o prato principal, te tratam como um bárbaro. Na Alemanha e Áustria, é tudo de porco. Pior, com nomes que não te dizem praticamente nada, mas depois que se come, acha bom. Falando em cardápios, alguns até têm explicações em inglês, mas que podem também não explicar nada.

Self-service só vimos na Bulgária e na Rússia, mesmo assim cada coisa é pesada individualmente. Nesses casos a variedade é bem maior, com legumes, verduras, carne, etc. E ainda tinha a páprica, uma espécie de pimentão vermelho ou amarelo, mas que em algumas versões pode ser igual à pimenta propriament dita.

Ainda há a opção de coisas de supermercado: batatas fritas, biscoitos (muito bons, mas enjoam), eventualmente um iogurte, onde há condição de armazenar.  Queijos têm o mesmo problema. Poucas frutas, que são um item difícil de preservar em viagem. Ontem compramos 1 kg de mandarina, um cítrico muito produzido na Croácia, do qual se faz licor, etc. Muito bom até para acompanhar bebida alcoólica. Mas teve que ser consumida rápido para não estragar. Só encontramos bananas verdes nos mercados, que levam uns 4 dias para amadurecer. Maçãs são uma boa opção.

Na maioria das capitais havia lojas das franquias de fast-foot (Mc Donalds, KFC, Subway), com seus cardápios de arrepiar quem recentemente emagreceu 10 kg contando calorias. Pelo menos os banheiros dessas instituições são de qualidade internacional. Alguns deles são até pagos. E o Mc Donalds tem internet wi fi liberada. Apesar de tudo, são uma opção para quem não quer comer coisas suspeitas e ter riscos de passar mal e acabar a viagem.

Neste quesito, as cervejas são de boas a muito boas. Não tomamos nenhuma ruim, mas algumas foram muito boas. Difícil julgar, porque para quem bebe cerveja não há muito lero-lero que nem os bebedores de vinho, de coisas de buquê, encorpado, etc. Cerveja tem poucos tipos: muito boa, boa, fraca, uma merda. E ainda estupidamente gelada, gelada, quente e choca.

Vodkas são de difícil análise, porque os critérios caem depois do primeiro gole. Em Moscou é proibida a venda de bebidas com mais de 15% de teor alcoólico das 23h às 8h. Absinto, que tem muito para vender em Praga, com 70% de álcool, deixa tonto só de segurar a garrafa. Lá vimos também uma vodka que tem sementes de Cannabis Sativa.

Depois de mais de um mês de viagem você não aguenta mais comer essas coisas, e tudo que quer ver é um prato de feijão, arroz, um bom bife para cravar os dentes e um doce tipo goiabada. Mesmo que você não coma nada disso habitualmente, fica a vontade de escapar do empanturramento daqui. Já engordei 2 kg, mesmo com toda a atividade da viagem e com o frio, que força a queima de calorias. Ainda bem que agora vamos para a Itália, que tem um cardápio bem mais variado...

domingo, 16 de outubro de 2011

Croácia : Muito bom!

De tanta propaganda anti-comunista que enfiaram na nossa cabeça desde crianças, tendemos a achar que os países que foram ditos socialistas seriam coisas tenebrosas, sombrias, de povos oprimidos, tristes, escravizados. Esta viagem está derrubando esse maldito paradigma, e mostrando que as pessoas são amáveis, solidárias, muito simpáticas, e vivem muito bem em relação ao Brasil, mesmo as mais pobres.

A Croácia é um exemplo disso. Andamos 1600 km de carro fazendo questão de passar pelo máximo de cidades e vilarejos para ter uma visão real da vida das pessoas. Assim como nos outros países do leste, não existem favelas nem gente mendigando, nem crianças famintas, nada disso. Apesar do capitalismo, as estruturas de bem-estar sociais ainda não foram totalmente destruidas, garantindo um básico de qualidade para todo mundo. Até vendedor de fruta de beira de estrada nos atendeu falando inglês suficiente para fecharmos negócio e para passar mais informações. Assim foi em Zagreb, Split, Dubrovnik, Zadar e Karlovac, principais cidades onde passamos toda uma semana. E a sensação é de que tínhamos que passar um mês por lá.

Não dá para fazer comparações com o Brasil, porque temos história e cultura diferentes. As belezas naturais também são incomparáveis, por serem diferentes. Apesar de terem passado por uma guerra há 20 anos de fortes atrocidades, o povo é tranquilo, sem estresse, e nas cidades não se vê qualquer marca de destruição. Mas o passado não foi esquecido: em todo lugar há memoriais em homenagem aos combatentes da independência. Gostaria de ter grana para voltar lá e curtir mais tempo as mesma cidades e mais outras, inclusive Zagreb, tranquila, acolhedora. 

sábado, 15 de outubro de 2011

Viagem : De Split a Dubrovnik (Croácia)

Dubrovnik, na Croácia, é uma cidade costeira que disputou com Veneza a hegemonia do Mar Adriático nas rotas comerciais para o oriente. Durante um bom tempo foi a República da Ragúsia, até a ocupação e anexação por impérios vizinhos. Cidade fortificada belíssima, tem hoje no turismo sua atividade principal, recebendo mais de 6 milhões de turistas por ano. Na guerra de independência da Croácia em relação à Iugoslávia, a cidade foi cercada por mais de 3 meses, resistindo com 750 soldados ao ataque de mais de 11 mil. Bombardeada por aviões e navios, foi bastante avariada, mas agora, 20 anos depois, não restam mais marcas nos prédios, embora o mesmo não se possa dizer da memória das pessoas que viveram momentos de terror na guerra.

Por conta da divisão da Iugoslávia, a Croácia, que se espalha pelo Mar Adriático com litoral de 1700 km, teve seu território descontinuado para manter a Bósnia e Herzegóvina com seu acesso ao mar na cidade de Neum. Dubrovnik ficou isolada do resto do território croata.  Dessa forma, para passar de carro para Dubrovnik, há duas opções: passar por 9 km em território bósnio/hezergóvino ou pegar um ferry-boat em Ploce, até Trpanj, uma península croata que passa em frente a Neum. Quando pesquisei essa viagem, os relatos falavam que os carros alugados deveriam pagar um acréscimo de seguro para cruzar a Bósnia / Herzegóvina tão caro que seria compensador o ferry-boat.

O fato é que isso mudou. Na locadora do carro obtive a informação disso estar superado graças a um acordo entre a Croácia e o país vizinho, que exige visto de brasileiros para cruzar seu território, coisa que não obtivemos porque é muito complicado e não dava tempo. Trocando em miúdos: o acordo entre os dois países colocou em ambos os lados do "corredor" postos de fronteira conjuntos, mas de fato quem fica lá é a polícia croata. Não vimos ninguém da Bósnia / Hezergóvina por lá. 

Os croatas carimbaram o passaporte, passamos meio cabreiros, afinal, estávamos num país sem visto nenhum, e sentimos grande alívio ao chegar ao outro posto de fronteira e dar tudo certo. Na volta, esticamos os limites da liberalidade, parando para lanchar, tirar fotos, etc. Como o carro tinha placas croatas, a suspeita de que fôssemos brasileiros possivelmente ilegais era mínima. O fato é que conosco deu certo, mas há a possibilidade de termos realmente corrido riscos. Depois que fomos e voltamos é que caiu a ficha: carro é uma coisa, pessoas são outra coisa, para efeito de passagem pelo país. Não recomendo que se faça isso sem uma confirmação.

Alguém poderia até pensar que bastava pegar uma estrada que dava no "corredor" litorâneo e ir embora para o interior do país, mas na Europa sempre há algum tipo de fiscalização invisível que pegaria o esperto em outro lugar. E lá nem embaixada brasileira tem tirar os aventureiros do rolo. Vou procurar informações se há necessidade mesmo do visto para qualquer turista passando de carro, ou se é só o veículo que pode passar com cidadãos croatas sem necessidade de visto. Para a Croácia, tanto faz. Tudo que ela sabe é que um brasileiro saiu de um lado do seu território e apareceu do outro. Assim que souber, posto nos comentários. 

O ferry-boat agora só tem 3 horários (manhã, meio-dia e fim da tarde) e leva 1 hora no percurso. A auto-estrada A1, que sai de Zagreb, chega até a entrada de Ploce, estando em construção por vários quilômetros adiante. É muito boa, com padrões da comunidade européia, e vai merecer um outro post pela quantidade de novidades que vimos. Daí em diante pega-se uma variante até a estrada que vai para Neum, e até Dubrovnik em mão-dupla, extremamente sinuosa com vistas espetaculares. Lembra a Rio-Santos, só que sem acostamento e com poucas possibilidades de ultrapassagem.  Esse trecho não chega a 100km. 

Esse relato deverá caducar em uns 2 anos, porque o ritmo de construção da continuação da A1 é acelerado, com vários túneis e viadutos prontos. Acredito que seja intenção do governo croata levar a estrada até Dubrovnik em alguns anos. A estrada é toda pedagiada. Ao acessá-la, há sempre um posto de pedágio automático, tipo estacionamento de shopping, onde aperta-se um botão para receber um ticket, que deverá ser apresentado ao sair da estrada para cálculo da tarifa. Entre Zagreb e Split, num trecho de 420km, pagamos 157 Kuna, equivalentes a uns R$ 50,00. Pela qualidade da estrada, onde a velocidade permitida é de 130km/ na maioria do seu percurso, vimos que no Brasil há pedágios que são um verdadeiro assalto. 

Ocupar Wall Street : e depois?

Qualquer que tenha sido a real motivação do movimento de ocupação do centro financeiro de Nova Iorque (Wall Street), o fato é que se espalhou pelo mundo pelas redes sociais, e já há manifestações em frente a outras bolsas de valores. Em grande parte as pessoas são "contra", e parecem esperar que o sistema capitalista se auto-ajuste, na falta de uma pauta de reivindicações unificadas ou de um programa de mudanças. Para subsidiar essas indagações, segue o artigo do prof. Giovanni Alves, da UNESP:


Ocupar Wall Street...e depois?

Os novos movimentos sociais compõem o quadro da barbárie social que impregna a ordem burguesa mundial, abrindo um campo de contradições sociais que dilaceram por dentro a ordem do capital – dilaceram, mas são incapazes, em si e por si, de ir além. Talvez, falta-lhes clareza do próximo passo ou do elo mais próximo da corrente de indignação coletiva que clama, por exemplo, pela democracia real. Por isso, nos interrogamos: Ocupar Wall Street...e depois? O artigo é de Giovanni Alves.

Giovanni Alves
O M12M, Movimento 12 de Março ou “Geração à Rasca”, em Portugal; o M15M, Movimento 15 de Março ou movimento dos indignados, na Espanha e o “Occupy Wall Street”, nos Estados Unidos, surgem no bojo da aguda crise financeira que atinge o núcleo orgânico do capitalismo global desde 2008. O movimento “Occupy Wall Street” nos EUA se inspirou nos movimentos sociais europeus como o M15M da Espanha. Por conseguinte, o movimento dos indignados espanhóis se inspirou nas rebeliões de massa que impulsionaram a “Primavera Árabe” e que derrubaram governos na Tunísia e Egito. 

A profunda crise do subprime de 2008 foi muito sentida pelos países norte-africanos, piorando os níveis de pobreza, e tendo como detonador a elevação do preço dos alimentos e outros produtos básicos. A multidão árabe, composta em sua maioria por jovens trabalhadores precários e desempregados, se mobilizaram por meio das redes sociais. 

Em todos os novos movimentos sociais, o papel das redes sociais, como o facebook e twitter, na organização das manifestações sociais de massa foi importante. Na verdade, “Occupy Wall Street”, o movimentos dos indignados e o movimento “geração à rasca” são exemplos candentes da verdadeira globalização “dos debaixo” que se contrapõe hoje a globalização dos “de cima”. 

Podemos salientar algumas das características desses novos movimentos sociais:

Primeiro, são movimentos de densa e complexa diversidade social, exprimindo a universalização da condição de proletariedade (os 99%). No caso europeu, muitos dos manifestantes são jovens empregados e operários precários, trabalhadores desempregados, estudantes de graduação subjugados pelo endividamento e inseguros quanto ao seu futuro, constituindo o denominado “precariato”; incluem também, no caso do “Occupy Wall Street”, veteranos de guerra, sindicalistas, pobres e profissionais liberais, anarquistas, hippíes, juventude desencantada, trabalhadores organizados, sindicalistas, etc. 

Entre milhares de pessoas, encontraram-se, lado a lado, por exemplo, jovens anticapitalistas e enfermeiras em defesa do sistema de saúde. Há cartazes de protesto contra o racismo, o presidente Obama, os republicanos, os democratas, a fome, as guerras no Iraque e Afeganistão. 

Em contrapartida, defende-se os direitos dos trabalhadores, os dos prisioneiros em greve de fome, mais impostos para os milionários e a reestruturação do sistema financeiro. No movimento dos indignados espanhóis, defendem, por exemplo, a “democracia real”. Enfim, trata-se do denso e vasto continente do novo (e precário) mundo do trabalho e da proletariedade extrema que emerge no bojo dos “trinta anos perversos” de capitalismo neoliberal. 

Segundo, são movimentos sociais pacíficos, recusando-se a adotar táticas violentas e contra a lei, evitando, deste modo, a criminalização. Eles têm profunda consciência moral e senso de justiça social, o que explica o sentido da expressão “indignados” (a crítica do capitalismo hoje implica, no plano da consciência contingente, um vetor intelectual-moral radical capaz de mobilizar o conjunto da “multidão” de proletários que se vêem ultrajados em sua dignidade humana). 

Terceiro, utilizam-se das redes sociais, como facebook e twitter, ampliando sua área de intervenção territorial e mobilização social. Produzem sinergias sociais em rede, tecendo estratégias de luta territorial num cenário de crise social ampliada. Há tempos o MST - Movimento dos Sem-Terra, no Brasil, e o Zapatismo, no México, utilizam estratégias de ocupação como tática de luta e visibilidade social. Eles nos ensinam que, hoje, a luta contra o capital global que desterritorializa é a luta pela territorialização ampliada, difusa e descentrada (todos esses novos movimentos sociais não têm um líder). 

Quarto, são movimentos sociais capazes de inovacão e criatividade política na disseminação de seus propósitos de contestação social. Por exemplo, os manifestantes do “Occupy Wall Street” vestiram-se de zumbis corporativos para expor o caráter da ordem burguesa em sua etapa de crise estrutural, ou ainda, em virtude da proibição de utilizarem megafones, a multidão mais próxima dos oradores repete suas frases, para que os mais distantes pudessem ouvir e, por sua vez, repeti-las também. É o "microfone humano"; 

Quinto, expõem, com notável capacidade de comunicação e visibilidade, as misérias da ordem burguesa no pólo mais desenvolvido do sistema apodrecido pela financeirização da riqueza capitalista. A luta social anti-capitalista hoje é a luta para dar visibilidade às suas contradições candentes. Sob o capitalismo manipulatório, a regra é a ocultação das misérias da ordem burguesa. Os indignados europeus e norte-americanos expõem e criticam a concentração de riqueza (eles dizem representar os 99% contra os 1%), a precariedade do trabalho e da vida e principalmente, desmitificam a democracia ocidental. 

Sexto, os novos movimentos indignados, incluindo, é claro, o “Occupy Wall Street”, são movimentos que reivindicam a democratização radical contra a farsa democrática dos países capitalistas centrais. Esses movimentos sociais possuem um sentido de “agrietar” o capitalismo, isto é, fazer rachaduras no capitalismo global (expressão utilizados por John Holloway em seu último livro). Rachaduras que podem dar visibilidade ao Inferno do Real. De certo modo, sem o saber, os indignados buscam “negar” o capitalismo no interior do próprio capitalismo. Na medida em que ocorre a democratização radical da sociedade, desefetiva-se o Estado político do capital. Entretanto, os novos movimentos sociais da proletariedade extrema são, como a Esfinge do mito grego, uma incógnita social. Enfim, dizem eles: “decifra-me ou devoro-te”. 

O detalhe crucial que podemos salientar das características indicadas acima é que são movimentos democráticos de massa que ocorrem em países capitalistas sob o Estado de direito democrático - o que não era o caso, por exemplo, da Tunísia e Egito. A ampliação do desemprego e precariedade social no decorrer da década de 2000 nos EUA e União Européia, e principalmente a partir da crise financeira de 2008, impulsionaram a radicalidade das massas de jovens (e velhos) precários e indignados com governos sociais-democratas e conservadores incapazes de deterem o “moinho satânico” do capitalismo global. Portanto, os novos movimentos sociais são reverberações radicais do capitalismo financeiro senil. 

A crise financeira de 2008 expôs a mediocridade do governo democrata de Barak Obama que não conseguiu deter a influência de Wall Street na política norte-americana, frustrando muitos norte-americanos que acreditaram que ele deteria a hegemonia financeira. A crise da divida soberana de 2010 e a crise financeira da Zona do Euro expuseram a venalidade dos partidos social-democratas e socialistas nos elos mais fracos da União Européia. Os partidos hegemônicos da esquerda européia aceitaram a política neoliberal de austeridade da “troika” (FMI, Comissão Européia e Banco Central Europeu) aplicadas com zelo e fervor pela direita conservadora (o caso da Grécia e Portugal é paradigmático!). 

Na verdade, a crise do “núcleo orgânico” do sistema mundial do capital diz respeito não apenas a crise financeira com o estouro da bolha imobiliária em 2008 e a crise da dívida soberana européia em 2010 em virtude da incontinência fiscal de alguns países europeus; ou mesmo, a crise social devido a ampliação do desemprego e da precariedade laboral no bojo da corrosão do Estado social europeu que, diga-se de passagem, precede a crise financeira; a crise do nosso tempo histórico é também, e principalmente, a crise política dos partidos da ordem burguesa, partidos conservadores-liberais e partidos social-democratas ou socialistas, que nas últimas décadas, constituíram uma rede de interesses promíscuos com a grande finança especulativo-parasitária, iludindo, o tempo todo, seus eleitores incautos. 

Ao mesmo tempo, vislumbramos a crise do pensamento critico corroído pelo pós-modernismo e neopositivismo. No caso do continente europeus, berço do Iluminismo ocidental, a crise intelectual-moral da inteligência crítica é dramática. Na medida em que renunciou, em sua maioria, à critica radical do capitalismo a título da crença na possibilidade do “capitalismo ético” capaz de articular bem-estar social com interesses de acumulação de valor, a inteligência européia hoje, com honrosas exceções, encontra-se como os personagens divagantes do romance “Ensaio sobre a Cegueira”, de José Saramago. Como diz Slavoj Zizek, falta-lhes a tinta vermelha!. Ao mesmo tempo, no cenário político da crise européia, o ilusionismo da esquerda social-democrata ou socialista só é comparável ao cinismo dos conservadores de direita na preservação incólume da ordem burguesa. 

Os novos movimentos sociais que ocorrem na bojo do capitalismo senil têm o sentido radical dos carecimentos vinculados à condição de proletariedade e a vida reduzida de amplos contingentes de jovens órfãos de futuridade. Os jovens indignados nos obrigam a refletir sobre as formas e metamorfoses da consciência social. Eles representam um cadinho complexo e rico de formas de consciência social critica que emergem no estado de barbárie social. 

Num primeiro momento, a presença da massa de jovens e velhos rebeldes nas ruas e praças nos fascinam. O fervor em reconquistar de forma coletiva e pacífica, territórios urbanos, praças e largos, verdadeiros espaços públicos marginalizados pela lógica neoliberal privatista que privilegiou não espaços de manifestação social, mas espaços de consumo e fruição intimista. O que assistimos hoje nos EUA e Europa é quase uma catarse coletiva. Trata-se de individualidades pulsantes de indignação e rebeldia criativa, cada um com suas preocupações e dramas humanos singulares de homens e mulheres proletários; cada um com seus sonhos e pequenas utopias pessoais capazes de dar um sentido à vida por meio da resignificação do cotidiano como espaço de reivindicação coletiva de direitos usurpados. 

Num primeiro momento, os novos movimentos sociais não incorporam utopias grandiosas de emancipação social que exigem clareza politico-ideológica. Pelo contrário, eles expressam, em sua diversidade e amplitude de expectativas políticas, uma variedade de consciência social critica capaz de dizer “não" e mover-se contra o statu quo. Possuem em sua contingência irremediável de movimento social, um profundo lastro moral do impulso critico. Como indignados, eles fazem, mas não o sabem (como diria Marx). No plano contingente, fazem uma critica radical do capitalismo como modo de produção da vida social. Mas não podemos considerá-los, a rigor, movimentos sociais anti-capitalistas. Na verdade, o que predomina entre os manifestantes é um modo de consciência contingente capaz de expor, com indignação moral, as misérias do sistema sociometabólico do capital, mas sem identificar suas causalidades histórico-estruturais (o que não significa que não haja os mais diversos espectros de ativistas anti-capitalistas). 

Os movimentos sociais agem no plano da cotidianidade insubmissa, rompendo com a pseudo-concreticidade paralisante da rotina sistêmica, mas permanecendo no esteio da vida cotidiana. Talvez, falta-lhes clareza do próximo passo ou do elo mais próximo da corrente de indignação coletiva que clama, por exemplo, pela democracia real. Por isso, nos interrogamos: Ocupar Wall Street...e depois?

Entretanto, acreditamos que a função heurística magistral dos novos movimentos sociais é tão-somente expor as misérias da ordem burguesa senil. Mobilizam múltiplas expectativas, aspirações de consumo e sonhos da boa vida, projetando no movimento coletivo fantasias pretéritas, presentes e futuras de emancipação social ainda não bem discernidas. Talvez eles representem o espectro indefinido e nebuloso do comunismo que, como espectro do pai de Hamlet, nos anuncia que há algo de podre no Reino da Ordem burguesa. 

Ora, enquanto cientistas sociais (e não apenas como ativistas sociais), temos que analisar os novos movimentos sociais com objetividade e na perspectiva da lógica dialética capaz de apreender a riqueza do movimento contraditório do real. Aviso aos navegantes pós-modernos: hoje, mais do que nunca, o método dialético tornou-se indispensável no exercício da crítica social. Torna-se imprescindível apreender no movimento do real, a dialética candente entre subjetividade e objetividade, alcances e limites, contingência e necessidade, barbárie e civilização. Não podemos ser tão-somente seduzidos pelo fascínio da contingência indignada nas praças e ruas. Os novos movimentos sociais de indignados compõem o quadro da barbárie social que impregna a ordem burguesa mundial, abrindo um campo de sinistras contradições sociais que dilaceram por dentro a ordem do capital – dilaceram, mas são incapazes, em si e por si, de ir além. 

Nessas circunstancias criticas, surgem interrogações candentes que nos afligem irremediavelmente: 

(1) terão os movimentos sociais de indignados capacidade de elaborar em si e para si uma plataforma política mínima capaz de exercitar a hegemonia social e cultural, preparando-se para uma longa “guerra de posição”, acumulando forças sociais e políticas sob o cenário da barbárie social e do capitalismo manipulatório?; 

(2) terão eles possibilidade de criar condições efetivas (politico-ideológicas) para o surgimento de novas organizações de classe, capazes de traduzir, no plano da institucionalidade democrática, as medidas necessárias para realizarem os anseios dos indignados, sob pena da frustração irremediável? (é importante lembrar, como nos alerta Boaventura de Sousa Santos, que o colapso de expectativas é o esteio do fascismo social). 

Enfim, até que ponto movimentos sociais como o “Occupy Wall Street” e os movimentos de indignados europeus terão a densidade histórica necessária para derrubar ou pautar governos, refundar ou enterrar partidos, fortalecer ou descartar lideranças ? 

(3) Finalmente, até que ponto seriam eles efetivamente capazes de fazer história numa perspectiva para além do capitalismo que, em si e para si, é incapaz de incorporar as demandas sociais do precariato, tendo em vista a nova fase do capitalismo histórico imerso em contradições sociais candentes? 

Estamos diante de impasses históricos inéditos. Por um lado, o aprofundamento da crise social na década de 2010 na Europa e nos EUA, a perspectiva de guerra – desta vez contra o Irã - e de recessão global; e por outro lado, a falta de estratégia de poder e anti-poder dos movimentos sociais, o extremismo conservador e a hesitação (e mediocridade política) de partidos políticos da esquerda social-democrata e socialista, coloca-nos diante de um caldo ameaçador do fascismo político sob o pano de fundo da barbárie social. 

Não podemos subestimar, num cenário de barbárie social, a capacidade de resposta reacionária do establishment. É ingenuidade política acreditar que o Estado burguês não utilizará mecanismos de administração policial, no tempo certo, que vise isolar os novos movimentos sociais, na medida em que eles se ampliam; invisibilizá-los de modo midiático, caso se torne necessário (há uma intensa batalha midiática ocorrendo em todo o mundo!) ou então, dissuadi-los e absorve-los com concessões residuais capazes de preservar a ordem burguesa; no limite, pode-se simplesmente reprimi-los a título de preservar a ordem pública com o apoio da “classe média” perplexa e amedrontada pelo ameaça do terrorismo auto-induzido do estado de exceção. 

A crise do capitalismo global colocará para a humanidade, sob pena de irmos à ruína, a necessidade do controle social, capaz de dar resposta aos carecimentos radicais postos pelos movimentos sociais que ocupam espaços públicos do mundo do capital e lutam contra o estado de barbárie social do capitalismo global em sua fase senil. Como diria o velho barbudo:Hic Rhodus, hic salta! 

(*) Giovanni Alves é professor da UNESP, pesquisador do ,CNPq, atualmente fazendo pós-doutorado na Universidade de Coimbra/Portugal e autor do livro “ Trabalho e Subjetividade – O “espírito do toyotismo na era do capitalismo manipulatório” (Editora Boitempo, 2011). Site: www.giovannialves.org /e-mail:giovanni.alves@uol.com.br

Fonte: Agência Carta Maior

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

EUA : As velhas armações eleitorais na versão Obama

Essa estória de um atentado que só os serviços de inteligência americanos sabiam contra um diplomata para a partir daí começar todo um processo de sanções contra o Irã, na reta final eleitoral norte-americana, cheira muito mal. Outros já fizeram isso, e o assunto é tão manjado que há filmes e filmes de ficção sobre isso. Inventa-se um inimigo, o povo se solidariza com o presidente, reeleição na certa. O filme "Operação Canadá" é uma comédia muito interessante onde um presidente americano, com problemas na economia, busca os russos, Kadafi e outros para fazer uma guerra e reelegê-lo, e acaba inventando que o Canadá é comunista e quer atacar a América.

Outra coisa que surgiu do nada, e será boa enquanto dure, é a ocupação popular de Wall Street. Quando Obama fez jogo de cena com os republicanos no processo de ampliação do valor de  dívida, que quase levou os mercados à loucura, ficou muito claro que faltou povo apoiando-o já que os ricos conseguiram impor cortes orçamentários até sobre programas sociais para não pagarem mais impostos. Agora, reta final das eleições, apareceu o povo, estranhamente indignado com tudo isso. Tomara que esteja errado e finalmente os americanos estejam acordando para a luta de classes, mas até isso tem cara de armação. 

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Casamento entre capitalismo e democracia acabou, diz Zizek

Falando em Eslovênia, aqui vai a contribuição do filósofo esloveno Slavoj Zizek à luta dos milhões que pelo mundo enfrentam a crise do capitalismo pagando com seus empregos e vidas para que uma minoria gananciosa e egoísta lucre sempre. Seu discurso na manifestação em Wall Street merece ser lido.


Zizek: o casamento entre democracia e capitalismo acabou

O filósofo e escritor esloveno Slavoj Zizek visitou a acampamento do movimento Ocupar Wall Street, no parque Zuccotti, em Nova York e falou aos manifestantes. “Estamos testemunhando como o sistema está se autodestruindo. "Quando criticarem o capitalismo, não se deixem chantagear pelos que vos acusam de ser contra a democracia. O casamento entre a democracia e o capitalismo acabou". Leia a íntegra do pronunciamento de Zizek.

Slavoj Zizek
Durante o crash financeiro de 2008, foi destruída mais propriedade privada, ganha com dificuldades, do que se todos nós aqui estivéssemos a destruí-la dia e noite durante semanas. Dizem que somos sonhadores, mas os verdadeiros sonhadores são aqueles que pensam que as coisas podem continuar indefinidamente da mesma forma.

Não somos sonhadores. Somos o despertar de um sonho que está se transformando num pesadelo. Não estamos destruindo coisa alguma. Estamos apenas testemunhando como o sistema está se autodestruindo.

Todos conhecemos a cena clássica do desenho animado: o coiote chega à beira do precipício, e continua a andar, ignorando o fato de que não há nada por baixo dele. Somente quando olha para baixo e toma consciência de que não há nada, cai. É isto que estamos fazendo aqui.

Estamos a dizer aos rapazes de Wall Street: “hey, olhem para baixo!”

Em abril de 2011, o governo chinês proibiu, na TV, nos filmes e em romances, todas as histórias que falassem em realidade alternativa ou viagens no tempo. É um bom sinal para a China. Significa que as pessoas ainda sonham com alternativas, e por isso é preciso proibir este sonho. Aqui, não pensamos em proibições. Porque o sistema dominante tem oprimido até a nossa capacidade de sonhar.

Vejam os filmes a que assistimos o tempo todo. É fácil imaginar o fim do mundo, um asteróide destruir toda a vida e assim por diante. Mas não se pode imaginar o fim do capitalismo. O que estamos, então, a fazer aqui?

Deixem-me contar uma piada maravilhosa dos velhos tempos comunistas. Um fulano da Alemanha Oriental foi mandado para trabalhar na Sibéria. Ele sabia que o seu correio seria lido pelos censores, por isso disse aos amigos: “Vamos estabelecer um código. Se receberem uma carta minha escrita em tinta azul, será verdade o que estiver escrito; se estiver escrita em tin ta vermelha, será falso”. Passado um mês, os amigos recebem uma primeira carta toda escrita em tinta azul. Dizia: “Tudo é maravilhoso aqui, as lojas estão cheias de boa comida, os cinemas exibem bons filmes do ocidente, os apartamentos são grandes e luxuosos, a única coisa que não se consegue comprar é tinta vermelha.”

É assim que vivemos – temos todas as liberdades que queremos, mas falta-nos a tinta vermelha, a linguagem para articular a nossa ausência de liberdade. A forma como nos ensinam a falar sobre a guerra, a liberdade, o terrorismo e assim por diante, falsifica a liberdade. E é isso que estamos a fazer aqui: dando tinta vermelha a todos nós.

Existe um perigo. Não nos apaixonemos por nós mesmos. É bom estar aqui, mas lembrem-se, os carnavais são baratos. O que importa é o dia seguinte, quando voltamos à vida normal. Haverá então novas oportunidades? Não quero que se lembrem destes dias assim: “Meu deu s, como éramos jovens e foi lindo”.

Lembrem-se que a nossa mensagem principal é: temos de pensar em alternativas. A regra quebrou-se. Não vivemos no melhor mundo possível, mas há um longo caminho pela frente – estamos confrontados com questões realmente difíceis. Sabemos o que não queremos. Mas o que queremos? Que organização social pode substituir o capitalismo? Que tipo de novos líderes queremos?

Lembrem-se, o problema não é a corrupção ou a ganância, o problema é o sistema. Tenham cuidado, não só com os inimigos, mas também com os falsos amigos que já estão trabalhando para diluir este processo, do mesmo modo que quando se toma café sem cafeína, cerveja sem álcool, sorvete sem gordura.

Vão tentar transformar isso num protesto moral sem coração, um processo descafeinado. Mas o motivo de estarmos aqui é que já estamos fartos de um mundo onde se reciclam latas de coca-cola ou se toma um cappuccin o italiano no Starbucks, para depois dar 1% às crianças que passam fome e fazer-nos sentir bem com isso. Depois de fazeroutsourcing ao trabalho e à tortura, depois de as agências matrimoniais fazerem outsourcing da nossa vida amorosa, permitimos que até o nosso envolvimento político seja alvo de outsourcing. Queremos ele de volta.

Não somos comunistas, se o comunismo significa o sistema que entrou em colapso em 1990. Lembrem-se que hoje os comunistas são os capitalistas mais eficientes e implacáveis. Na China de hoje, temos um capitalismo que é ainda mais dinâmico do que o vosso capitalismo americano. Mas ele não precisa de democracia. O que significa que, quando criticarem o capitalismo, não se deixem chantagear pelos que vos acusam de ser contra a democracia. O casamento entre a democracia e o capitalismo acabou.

A mudança é possível. O que é que consideramos possível hoje? Basta seguir os meios de comunicação. Por um lado, na tecnologia e na sexualidade tudo parece ser possível. É possível viajar para a lua, tornar-se imortal através da biogenética. Pode-se ter sexo com animais ou qualquer outra coisa. Mas olhem para os terrenos da sociedade e da economia. Nestes, quase tudo é considerado impossível. Querem aumentar um pouco os impostos aos ricos? Eles dizem que é impossível. Perdemos competitividade. Querem mais dinheiro para a saúde? Eles dizem que é impossível, isso significaria um Estado totalitário. Algo tem de estar errado num mundo onde vos prometem ser imortais, mas em que não se pode gastar um pouco mais com cuidados de saúde.

Talvez devêssemos definir as nossas prioridades nesta questão. Não queremos um padrão de vida mais alto – queremos um melhor padrão de vida. O único sentido em que somos comunistas é que nos preocupamos com os bens comuns. Os bens comuns da natureza, os bens comuns do que é privatiz ado pela propriedade intelectual, os bens comuns da biogenética. Por isto e só por isto devemos lutar.

O comunismo falhou totalmente, mas o problema dos bens comuns permanece. Eles dizem-nos que não somos americanos, mas temos de lembrar uma coisa aos fundamentalistas conservadores, que afirmam que eles é que são realmente americanos. O que é o cristianismo? É o Espírito Santo. O que é o Espírito Santo? É uma comunidade igualitária de crentes que estão ligados pelo amor um pelo outro, e que só têm a sua própria liberdade e responsabilidade para este amor. Neste sentido, o Espírito Santo está aqui, agora, e lá em Wall Street estão os pagãos que adoram ídolos blasfemos.

Por isso, do que precisamos é de paciência. A única coisa que eu temo é que algum dia vamos todos voltar para casa, e vamos voltar a encontrar-nos uma vez por ano, para beber cerveja e recordar nostalgicamente como foi bom o tempo que passámos aqui. Prometam que não vai ser assim. Sabem que muitas vezes as pessoas desejam uma coisa, mas realmente não a querem. Não tenham medo de realmente querer o que desejam. Muito obrigado

Mais detalhes e o discurso em vídeo em
http://operamundi.uol.com.br/conteudo/opiniao/A+TINTA+VERMELHA+O+DISCURSO+DE+SLAVOJ+ZIZEK+NO+OCCUPY+WALL+STREET_1659.shtml

Viagem : De Zagreb (Croácia) a Liubliana (Eslovênia)

Como a viagem passou por reprogramação em virtude de cansaço / estresse, a Eslovênia acabou excluída do roteiro, e a Croácia foi mantida, ambos países da ex-Iugoslávia. Ir à costa da Croácia no Adriático, conhecer a Dalmácia, passando por Zagreb para assistir ao concerto de Jean Michel Jarre era o plano. Ir a Dubrovnik, também, mas as dificuldades seriam enormes porque a distância é longa para o tempo disponível.

Por outro lado, Liubliana, capital da Eslovênia, fica a 120km de Zagreb, e o nosso hotel fica em frente à estação ferroviária, e tem vários trens para lá todo dia. Diante da dificuldade de conhecer Dubrovnik sem sacrifício de outras cidades litorâneas, resolvemos deixar de ir por lá e visitar Liubliana.

Pegamos o trem das 9:00h, pagando aproximadamente R$ 110 por duas passagens de ida e volta. Em meia hora o trem chega à fronteira Croácia/Eslovênia e funcionários da imigração e da alfândega eslovenos carimbam passaportes e fazem perguntas sobre o que vamos fazer por lá, e se levamos algo que mereça ser descrito para a alfândega. Dá para notar que ficam meio chateados quando falamos que apenas vamos à capital deles visitar e voltar no mesmo dia, porque chegaram a perguntar por que não ficamos mais, porque há mais coisas a conhecer, etc. Acho que muita gente faz isso, afinal, a distãncia entre as duas capitais equivale à do Rio a Cabo Frio, e Liubliana não tem muita coisa a conhecer.

No território da Eslovênia a paisagem é muito bonita. Numa boa parte os vales profundos lembram o alto da serra de Petrópolis. O traçado da linha do trem segue um rio de águas muito limpas, onde várias pequenas centrais hidrelétricas estão em construção e se espalham indústrias de gesso que felizmente nada poluem. Pelo menos aparentemente. O trem praticamente não para em lugar nenhum.

O trem chegou a Liubliana pontualmente às 11:10h. Na estação ferroviária há um bom serviço de informações que disponibiliza mapas e livretos sobre a cidade e o país. Uma caminhada de 15 minutos é suficiente para chegar à praça Preseren, centro de toda a área histórica e turística. De lá, num raio de 400m se chega a tudo de interessante em termos de prédios e museus, e até o castelo. Apesar de pequena, a configuração do centro histórico com um rio limpo passando pelo meio de tudo, mais os calçadões, muito verde e sem tráfego, exceto bicicletas, com muitos cafés, dão à área um ar de tranquilidade difícil de se ver em outras cidades.

Lugar ideal para sentar num café, tomar uma cerveja e deixar o tempo passar. Do castelo se vê tudo, inclusive a neve nas montanhas que circundam a cidade. Chega-se lá através do plano inclinado que fica ao lado de um mercado de frutas muito variado, pagando-se 6 euros que incluem a subida, descida e visita à torre do mirante e um museu virtual com a história da Eslovênia (20 min). Rapidamente percorremos o centro, paramos num café e resolvemos voltar mais cedo, pegando o trem das 18:35 para Zagreb. Na volta, mesmo ritual na fronteira, só que o pessoal da Croácia se limita a carimbar o passaporte e nem aparecem funcionários da alfândega. Às 20:50 estávamos de volta, sem cansaço, porque os trens são excepcionalmente confortáveis e silenciosos.