domingo, 30 de setembro de 2012

Japão : O primeiro tufão a gente nunca esquece

Estação de trem JR em Kobe, agora há tarde. Operação suspensa por tufão
Escrevi hoje cedo um post falando em reprogramar viagem a partir de imprevistos. Não sabia o que viria depois. Tudo que a previsão do tempo dos serviços de internet mostrou foi chuva para hoje no sul do Japão, na rota que faríamos a partir de Osaka (Kobe, Himeji, Fukuyama, Hiroshima). Chegando à estação JR Osaka fui tirar uma dúvida no serviço de informações e falei às recepcionistas sobre a programação.

Uma olhou para a outra e, com o jeitinho japonês de falar como quem pede desculpas, me falaram do tufão na área onde passaria, e que os trens poderiam ser suspensos. Mostraram num tablet o mapa meterológico onde o centro do tufão estava no mar, ao largo da costa, mas com previsão de tocar o continente próximo a Nagóia às 18h. Como não tenho a menor idéia do que seja um tufão, e vendo no mapa que estava bem distante, relevei o risco e segui viagem.

Em 25 minutos de trem estava em Kobe, onde a atração seria o porto e o memorial do terremoto que destruiu boa parte da cidade em 1998. Chovia pouco e havia ventania. Caminhamos pelas ruas cobertas (verdadeiras galerias comerciais) até próximo ao local, e a chuva era contida por um guarda-chuva sem problemas. Subimos a Torre do Porto de Kobe para ter visão panorâmica da cidade. Quando estávamos no topo, sentimos que a torre tinha pequenos deslocamentos a cada rajada de vento mais forte.

Ao descer e caminhar até o Museu Marítimo de Kobe, que fica do outro lado da avenida, sentimos a passarela balançar com o vento que já estava bem forte, trazendo a chuva na horizontal. Passamos cerca de uma hora no museu e começamos a retornar para seguir viagem. Foi aí que a ventania começou a preocupar.

Rajadas de quase derrubar a gente. Coisas pesadas vinham com o vento. Aproveitávamos breves intervalos entre as rajadas para correr de abrigo em abrigo, rumo á rua coberta. Ouvimos uma sirene que parecia de carro de polícia, mas depois entendemos que era alerta de catástrofe. Enfim, chegamos à rua coberta, mas teríamos que andar muito até a estação do trem. Enquanto a gente estava meio em pânico, os japoneses levavam a vida normalmente. Os que saíam do sufoco chegavam rindo. Ou pareciam rir.

A essa altura do campeonato o passeio para Hiroshima já era. Certamente as outras cidades até lá já haviam sido atingidas pelo tufão. Procuramos voltar para Osaka e encontramos a mensagem da foto no painel da estação. Essa linha de Kobe que vem de Osaka não é de trem-bala (Shinkansen), e nos restava a alternativa de tentar esse tipo em uma outra ferrovia, mais ao norte da cidade (Shin-Kobe). No que procurei confirmar com os operadores da estação sobre essa possibilidade, mandaram a gente entrar e pegar um trem que chegaria logo. Fizemos isso e quase chegando ao final do trajeto, faltando uns 5 minutos, depois do trem sacolejar muito com as rajadas, finalmente mandararam pará-lo.

Esperamos uns 20 min no meio do nada, o que é apenas uma figura de expressão, porque até aqui não vimos descontinuidade entre as cidades. Depois o trem se deslocou até uma estação e lá nos mandaram trocar de trem, na correria. Chegando a Osaka vimos no painel da estação a grande quantidade de trens cancelados para o norte do país. Osaka não foi muito atingida. Agora no hotel estamos vendo no noticiário da TV NHK o deslocamento do tufão, que saiu do mar e entrou a ilha principal próximo a Nagóia, onde o estrago foi grande, especialmente na fábrica da Toyota. Há enchentes em muitas áreas do país, mas as imagens mostram que os abrigos estão prontos para receber as pessoas.

Quanto à viagem, pensando bem saímos no lucro. Se tivéssemos ido mais adiante poderíamos ter ficado ilhados numa estação de cidade pequena, sem previsão para retorno. Olhando as estações e aeroportos lotados, com transportes cancelados, vimos que poderíamos estar ali. A visita a Kobe salvou o dia, porque não sabíamos da existência de um museu da Kawasaki ao lado do Museu Marítimo, muito interessante. Amanhã vamos acordar cedo e tentar o trem direto para Hiroshima. 

sábado, 29 de setembro de 2012

Viagem : Classificar as atrações para replanejar melhor

Por mais que se planeje, a execução de uma viagem de prospecção encontrará dificuldades que forçarão o reestudo dos objetivos. Para esta expedição pela Ásia criei um sistema de classificação de prioridades que está facilitando o descarte de eventos.

Através de sites que recebem feedbacks de viajantes, como o Lonely Planet, Trip Advisor, Mochileiros, de páginas de turismo das localidades e dos países, além de pesquisa em empresas que oferecem pacotes, listamos as atrações mais sugeridas. Como quase tudo hoje tem site, uma pesquisa do conteúdo é fundamental para a decisão de classificação e até mesmo de descarte.

De imediato classificamos as obrigatórias como "cinco estrelas". Exemplo: quem vai ao Rio de Janeiro e tem só um dia para conhecer a cidade, obrigatório é o Pão de Açúcar,  pelo menos uma praia na Zona Sul, ir ao Centro (pelo menos Cinelândia) e ver a noite na Lapa. Cristo Redentor, Jardim Botânico, Museu Nacional e outros são grandes atrações, mas já encontram dificuldades para deslocamento, obstáculos de horários, exigem grande tempo de visita, etc.

São "quatro estrelas". Recebem "***" aquelas coisas interessantes que podem estar pelo caminho, de rápida visitação caso haja folga na programação. Exemplos: comer um bolinho de bacalhau com um chope num bar tradicional em esquema de refeição rápida. as "**" vão para coisas mais longe, de maior curiosidade, coisas onde nem todos vão. Exemplo: andar no elevador panorâmico ou teleférico de uma favela, visitar a obra do Maracanã.

"Uma estrela" é o evento muito bom, mas que dificilmente será concretizado, mas merece estar na lista porque pode acontecer de aparecer um amigo que leve, etc. Exemplo: Barra de Guaratiba, Floresta da Tijuca, Petrópolis e outros que só quem tem mais tempo consegue realizar.

Enfim, o critério de classificação nada tem a ver com os eventos serem de maior ou melhor qualidade, mas com o retorno mais eficiente do objetivo de prospecção. No meio de uma programação estressada por falta de tempo sempre haverá chances para observações num meio de transporte, num supermercado, shopping, nas ruas, etc. Fotos servem para localizar as coisas, capturar nomes de ruas e monumentos e permitir o aprendizado pós-viagem sobre coisas interessantes que passarão pela nossa frente sem possibilidade de as assimilarmos.

Tendo a lista e as estrelas vem a depuração. Lançar no Google Earth os pontos e ver onde está a nuvem mais forte de "pins". Coisas mais longe, mas próximas a uma estação de metrô, podem não ser descartadas. Numa região onde se fará roteiros a pé pode-se ter priorizados alguns eventos de 3 ou 4 estrelas, apenas porque se vai passar na porta e pode valer a pena entrar, dar uma olhada, fotografar e seguir rumo, conforme as folgas da programação. Estabelecido o roteiro já observados os horários de disponibilidade das atrações, podem ser lançados esses eventos adicionais, descartáveis diante da necessidade de replanejamento.

Nos 4 primeiros dias desta viagem isso vem dando certo, porque os cenários mudam a toda hora. O dia pode ser mais relaxado, desde que se cumpram os eventos de 5 estrelas, que são justo os que algum amigo irá perguntar se você foi lá, e dirá que perdeu se responder que não foi. Não estamos estressando como antes e vivendo melhor os momentos da viagem, ao tirar o peso da relação custo x benefício da tomada de decisões. 

Corrupção - 20 anos : Do impeachment de Collor aos aloprados do PT

Fortaleza - 29/09/1992 - Praça do Ferreira - Manifestação "Fora Collor" acompanhando a votação do impeachment
A mediocridade das nossas instituições nos permite inferir que pode estar acontecendo um açodamento do julgamento de figuras de proa do PT para coincidir com o aniversário do impeachment de Collor ou com a data das eleições, onde o PT e seus aliados poderiam ser diretamente prejudicados.

O fato é que com ou sem mensalão, figuras do alto escalão daquele que foi o partido que veio para mudar a política fizeram, no mínimo, o crime eleitoral de caixa-dois, desviaram de empresa privada para irrigar lavagem de dinheiro e, o maior dos crimes, arrastaram na lama a história do partido que milhões de pessoas, com suor, lágrimas e sangue, lutaram para construir.

Há 20 anos, em 29 de setembro de 1992, estávamos nas praças mobilizados para pressionar a votação a favor do impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello por corrupção. Festa nas ruas depois do resultado, e em seguida a deposição do presidente. O maior responsável por isso foi o PT, que fazia oposição acirrada, ideológica, militante.

Se hoje alguns se surpreendem com a exposição de petistas como José Dirceu, José Genoíno e Delúbio Soares, que eram a alta cúpula do partido na época do "mensalão", muitos petistas já suspeitavam da perspectiva de degeneração há muito tempo. Em Fortaleza (vide foto) a nossa campanha eleitoral a prefeito pelo PT tinha como objetivo político afirmar ao partido como alternativa de esquerda ao mesmo tempo que participava das lutas dos trabalhadores. Pedíamos o impeachment de Collor pela corrupção do seu governo e pelos ataques aos trabalhadores (confisco de poupanças, arrocho salarial, privaticações).

Já em 1992 nossa campanha enfrentou forte resistência no partido, da parte dos que se alinhavam com José Dirceu & cia, no sentido de apoiar o candidato tucano a prefeito em Fortaleza em troca de apoio a outro candidato, do PT, no interior do Ceará. Uma barganha que a militância de Fortaleza, a mesma que depois elegeu Luiziane Lins contra a vontade desse mesmo grupo, não aceitou de forma nenhuma. Essa negociata sem qualquer fundamento político-ideológico não passou, mas a campanha foi bombardeada pelo PT nacional, já ferido de morte pelo ascenso das idéias pragmáticas acima de tudo para eleger Lula e chegar ao poder.

Não éramos só nós, resistindo em Fortaleza, que tínhamos noção de algo errado estar começando a se tornar monstruoso. Enquanto no partido se pedia "FORA COLLOR" e lançava livros sobre o modo petista de governar, o atual secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, publicava um artigo na revista Teoria & Debate, órgão do PT, onde já apontava para o perigo das práticas corruptas que já identificava. Elas foram hegemônicas até o mensalão, e deixaram o partido moribundo, sem sequer julgar eticamente o que os réus atuais fizeram. Era mais fácil expulsar gente decente que levantar um dedo contra mensaleiros, doleiros de cuecas, etc.

A integra do texto "Área de sombra - Era doméstica", de Gilblerto Carvalho está no link abaixo, do qual destaco o período copiado mais abaixo. Dá para entender como as relações internas apontavam para a eliminação da crítica, a vitória do fisiologismo e do pragmatismo e daí ao mensalão foi só uma questão de tempo. Parabéns á minoria que ainda resiste no PT e a todos que derrubaram Collor em 1992. Punição rigorosa a todos os corruptos.

http://www.fpabramo.org.br/o-que-fazemos/editora/teoria-e-debate/edicoes-anteriores/opiniao-area-de-sombra-era-domestica

" ... Pequenas corrupções
Os fatos são muitos e espalhados por esse Brasil afora, sem respeitar fronteiras de espécie alguma. Ameaçam ganhar o status de cultura, numa convivência aparentemente promíscua com toda a energia renovadora e libertária que temos desenvolvido; acontecimentos e atitudes que jogam sombra sobre um projeto que é depositário de uma esperança enorme e que efetivamente vai se consolidando como alternativa real para a construção de um país diferente, justo e estimulador da vida. Estou falando da progressiva quebra da fraternidade nas relações internas; dos sintomas de pequen
as corrupções; do uso de máquinas em proveito de indivíduos ou grupos; de filiações oportunistas, sem critérios, em cima da hora, para vencer convenções; da sonegação de informações aos comitês eleitorais (cada vez menos) unificados; da demarcação de currais, de feudos; do apego aos aparelhos; da criação e manutenção de uma dúbia área de pessoas sob controle político de personalidades ou grupos, com a consequente reedição de um certo lumpesinato de esquerda, muito útil em certas ocasiões; do fenômeno de "lambebotismo" (perdão pelo neologismo) em torno de lideranças; da criação de mecanismos informais e paralelos de tomada de decisão; da luta sem limites pelo poder, pela ascensão individual: do distanciamento do convívio e da dinâmica da luta social; de projetos individuais se sobrepondo ao coletivo; dos meios dúbios para se atingir fins tampouco muito claros... Lógicas estranhas presidindo e fundamentando ações, que no mínimo assustam... espécie de cansaço e capitulação ante as leis da dura "realidade"...

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Viagem : Adaptação ao Japão / andando de Metrô

No segundo dia em Nagóia o organismo ainda resiste mas já conseguimos fazer as coisas com menos dificuldade. Mesmo tendo planejado para os dois primeiros dias uma agenda mais leve, mesmo assim não conseguimos fazer muita coisa. Caminhamos até agora 16 km (medidos no Google), aprendemos a usar metrô, os ideogramas que nos assustaram no primeiro dia já começam a ser familiares (já identificamos uns 20, o que ajuda bastante).

Tivemos vários contatos com pessoas que não falam nada além do japonês e mesmo assim conseguimos informações e compramos coisas, enfim, começamos a navegar no maravilhoso mundo do analfabetismo surdo-mudo (nada entendemos da leitura nem da língua falada nem nos fazemos entender, a não ser por sinais).

O sistema de metrô é diferente de tudo que já vimos pelo mundo. Chegando à estação a primeira coisa é procurar por um mapa que em geral está acima das máquinas que vendem bilhetes. Nele haverá (pelo menos em Nagóia) os nomes das estações em japonês e em romanji (tradução para o alfabeto ocidental mais ou menos de como soa a palavra em japonês). A estação onde você está aparecerá com uma estrela, e as demais terão um número, que é o valor da passagem. Resumo: o preço do trecho é individualizado.

Guarde esse número na memória. Em seguida, vá à máquina e nela coloque a nota no local indicado (tem máquinas que trocam até notas de 10.000 iens, cerca de R$ 250, outras só até R$ 1.000 iens), marque o número de bilhetes que deseja e aperte o botão correspondente ao valor (a máquina apresentará várias opções). Instantaneamente cairão moedas e os tickets.

Superada essa etapa, e cada um com seu ticket, hora de passar no que chamam de "wicket", uma catraca supervisionada diretamente por uma pessoa que fica numa saleta. Coloque o ticket e o receba de volta. Guarde-o porque será obrigatório passar de novo na saída, chegando ao destino. Caso se tente fazer malandragem, tipo comprar o bilhete mais barato, a cancela da saída travará e o supervisor deverá dar algum tipo de esculacho em japonês que deverá ser evitado. Essas coisas devem dar multa, etc.


Um padrão que temos visto em Nagóia é que os cartazes que encontramos em português (aqui tem uma grande colônia de brasileiros) são alusivos à coibição de práticas ilícitas, tipo "não ande de skate", etc. No mais, só encontramos algo em português no saque nos ATMs. Só é possível sacar nos terminais dentro dos mercados 7 Eleven e nos correios, e é bom andar com muito ien no bolso, porque até agora não encontramos um só estabelecimento comercial ( nem Mc Donalds) aceitando cartões (crédito, débito, VTM). 

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Bancários : Greve enterrada pode iniciar "Primavera Sindical"

O peleguismo sindical no Brasil tomou novas formas desde a chegada de Lula ao poder. Sindicalistas ligados ao PT passaram a fazer dos sindicatos trincheiras contra os ataques da oposição ao governo e principalmente uma espécie de tropa de choque aliada, instrumentalizada para o controle social dos movimentos para dar ao governo "paz social" enquanto operava mudanças no país. Assim foi com a reforma da previdência, para a qual se mobilizou base aliada comprada, entrando no pantanal do mensalão e que culminou com a expulsão de muita gente boa do PT. 

A greve dos bancários, apesar do seu potencial de fogo, ano a ano vem reconquistando migalhas do que foi roubado no período FHC (reajustes zero), traduzida pelos líderes sindicais da CUT como "ganhos reais" de salário, mas que até agora não repuseram grande parte da perda anterior. Escondem essa perda para não demonstrar a incompetência do sindicalismo sem autonomia em relação aos governos Dilma e Lula, dos quais poderiam ter arrancado bem mais reajustes justo por serem governos ditos "dos trabalhadores".

Hoje estão sendo votadas propostas em assembléias manipuladas sem saber exatamente o que são. Para os funcionários do BB, até renúncia de direitos em ações trabalhistas relativos à extrapolação da jornada legal de seis horas podem acontecer em troca de algo que ainda será definido! Em todo o Brasil os relatos mostram a existência de um padrão de desmonte para a greve, com manipulações como separação de bancários, votações sucessivas até conseguir passar a proposta defendida pelos banqueiros, patrões e governo. Ninguém mais sabe onde começa um e termina o outro nesse enterro de greve. 

A última greve dos bancários foi mais um exemplo dessa falta de compromisso com suas bases. Assembléias engessadas, onde a voz dos que pensam diferente da "verdade única" dos dirigentes era cassada ou até modificada por truques eletrônicos. Pauta de reivindicações rebaixada, para não instigar movimentos maiores com prejuízos ao governo, em especial, que tem hoje no BB e CEF verdadeiras vacas leiteiras produtoras de superávit primário através dos seus lucros. Aumentar salário é reduzir lucros. Como tudo passa pelo referendum da mesa única da FENABAN, a greve foi geral até que uma proposta fosse praticamente assinada entre os banqueiros, governo e lideranças sindicais, para depois ser levada à aprovação pela base, sem cabimento de rejeição.

2012 pode ter sido o fim do mundo para um tipo de sindicalismo que se degenerou desde a revolucionária criação da CUT em 1983, que veio para acabar com o peleguismo tradicional e com o sindicalismo de aparelho estalinista. Acabou absorvendo essas culturas e hoje a geração de novos dirigentes perdeu o contato com a história e as suas bases, obtendo privilégios fisiológicos dos governos e encastelando-se na perspectiva de se aposentarem sem prestar muito serviço nas entidades. Tudo isso está muito claro nesta greve, onde a rebelião pelos meios virtuais já preocupa os pelegos. Se a organização de base, por fora das instituições, derrubou até ditaduras na chamada "primavera árabe", por que não termos em breve uma "primavera sindical", com a derrubada sistemática dessas direções traidoras?

 do BB até agora não sabem com transparência o que é a proposta de cláusulas sociais, como ficam os dias parados, a jornada de 6 horas, etc. Sindicatos dividem assembléias mesmo tendo cláusulas conjuntas da mesa da FENABAN para facilitar o desmonte. Dirigentes não se dispoem mais a continuar o movimento desde que fecharam o acordo por cima com os banqueiros, ferindo de morte as greves remanescentes. Tamanho volume de traição precisa de resposta: a "primavera sindical". 

Organizar em todo o país campanhas de filiação aos sindicatos, pegar os estatutos de cada entidade traidora, articular a nível nacional uma temporada de caça às entidades pelegas, organizar oposições de quaisquer matizes político-ideológicos e simplesmente acabar com o domínio do sindicalismo por pessoas e grupos que preferem a fidelidade ao governo e aos banqueiros. Chega disto! 

Vamos ver se agora as pessoa aprendem e não se alienam. Filiem-se aos sindicatos, nem um centavo de desconto assistencial e preparar chapas de oposição para derrubar os que dizem nos representar. Como pedras de dominós, os pelegos têm que sentir cada uma das entidades que aparelham cair, todo mundo voltar para a base, ver auditorias levantando os desmandos, etc. Democracia é assim : traiu o povo, perde o direito de representá-lo. Pode começar a temporada de caça aos pelegos pela retomada da organização sindical autônoma e independente, a partir dos ressentimentos de mais uma greve derrotada. 

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Nagóia : Laboratório de viagem

Por que Nagóia para começar a viagem? Viemos porque uma das pessoas do grupo está a trabalho, o que garante contatos com brasileiros residentes aqui para obter informações essenciais ao nosso convívio numa cultura tão diferente. Nagóia tem muitos brasileiros, talvez uma das maiores comunidades no Japão.

No pouco que andamos ontem à noite nas vizinhanças vimos algumas mensagens em português, o que ajuda a compreensão sobre coisas mais simples. Tem agência do Banco do Brasil, consulado brasileiro e lojas e restaurantes de brasileiros. Acreditamos que a chegada por aqui, além de ter sido por um dos vôos mais rápidos para cá e mais baratos a partir de Brasília, pode nos dar a dimensão do desafio de passar 45 dias aprendendo rápido a sobreviver.

Já no flat passamos  uma parte da noite e da manhã tentando entender como funcionam as coisas, que vão merecer posts especiais. Coisas básicas como vaso sanitário, chuveiro, eletrodomésticos, aqui ganham a dimensão de objetos de estudo. Não apenas porque tudo está em japonês, mas porque têm tecnologias e funções que não vemos no Brasil.

Apesar de ser uma cidade marítima, o ar de Nagóia está nos causando uma sensação de secura pior que a que recentemente encaramos em Brasília. A primeira noite pós-viagem foi de sono de pedra, literalmente, a começar pelos travesseiros, que têm como enchimento um material granular mais denso que o isopor, consistência de areia grossa e deformável quando espremido. Não saímos abrindo os travesseiros para ver o que é, mas chutaria vermiculita ou algum sintético que nunca vi. Apesar do impacto inicial, o ajuste é bom, você vai deformando o travesseiro até chegar ao ponto que quer. No apartamento também conhecemos o "futon", uma espécie de intermediário entre o edredon e o colchão, que se usa sobre o piso para dormir.

Falando em piso, não se usa sapato dentro de casa de jeito nenhum. Logo na entrada do apartamento há um armário onde devem caber todos os sapatos da casa, num hall de piso diferenciado impermeável, onde certamente se pode chegar molhado e deixar guarda-chuvas, capas, casacos, etc. O conceito é interessante, de não levar para dentro de casa a sujeira das ruas. Já tinha visto isso em casas de amigos no Rio, mas para os de fora sempre era motivo de comentários e piadas.

Vamos passar três noites aqui fazendo a ambientação, curando o jet-lag e tirando dúvidas com brasileiros, apreendendo em tempo recorde o necessário à sobrevivência. Depois vamos ficar por Osaca por três noites, percorrendo a cidade, que é muito grande, com ida-e-volta a Hiroshima e outras cidades próximas, já que o trem por sete dias já está pago para usar quanto quisermos (depois escrevo especificamente sobre isso). 

Expedição Asia 2012 : De Brasília a Nagóia (Japão)

São 21h em Nagóia (Japão) de 25/9, terça, ou seja, 9 da manhã no Brasil. Só estou escrevendo este post para dizer que chegamos, estamos instalados e arrasados de cansaço. Como não viemos aqui para férias de descanso, amanhã já vamos partir para o "batente" explorando a cidade.

Saímos de Brasília no domingo, 23, às 22h, em vôo da Delta direto para Atlanta, Geórgia, EUA. Em outros tempos acharia as 8h de viagem infinitas, mas diante do tamanho da viagem isso foi um "trechinho". De tanto trabalhar em cima do projeto da Ásia o fato de ir para os Estados Unidos passou como um detalhe. Três horas depois fomos para Detroit, no norte dos EUA.

No total foram 32 horas de viagem, sem dormir. O último trecho foi de 13 horas. Amanhã reescrevo e completo. Segue foto do Castelo de Nagóia, tirada agora há pouco do apartamento. 

sábado, 22 de setembro de 2012

Viagem : Expedição Ásia 2012

Nos próximos dias o Blog do Branquinho terá uma série de postagens a partir de registros de viagem ao Japão, Coréia do Sul e China. O nome Expedição não é exagero: diferentemente das outras viagens grandes que fizemos, desta vez o nível de aventura é muito maior. Riscos maiores, adrenalina maior, experiências maiores. Os posts serão feito à medida das disponibilidade de tempo e podem não ser sequenciados.

Desta vez teremos um suporte tecnológico bem melhor, e não deveremos cometer os erros de viagens anteriores. No ano passado encaramos o Leste Europeu, que praticamente ninguém conhece e o pouco de informação remontava à era dita socialista. Alfabeto cirílico, línguas eslavas, poucas pessoas falando língua ocidental eram dificuldades, mas de forma geral a Europa tem coisas muito parecidas em todo lugar. Na Ásia não tem essa similaridade nem com o ocidente nem entre os países.

Até tentamos dar uma passada rápida pelos radicais dos ideogramas chineses (kanji), que também são em parte usados no Japão e na Coréia. Muito tempo gasto para pouco resultado. O jeito será apelar para outras línguas, mímica e a aplicativos de celular. Num deles você escreve a mensagem e ele traduz para um texto na tela e sintetiza o som, enquanto também captura o som da resposta e traduz para o português. Noutro você bate a foto dos ideogramas e ele faz o reconhecimento e traduz para  o inglês. Nada muito perfeito, mas muito útil para evitar que entremos em ciladas além das que já prevemos.

Neste ano também investimos em planejamento, a partir da análise dos processos de viagens passadas. Quanto menos erros simples, quanto mais eficiência nas pequenas rotinas, menos chances de comprometer a programação. Folgas tiveram que ser projetadas para replanejar a partir de possíveis obstáculos, como erro de transportes, etc. Baixamos para o GPS do celular os mapas das principais cidades a visitar, o que é um avanço, não dependendo de redes de internet. Mesmo assim já sabemos onde e como comprar chips 3G, e todos os hotéis onde ficaremos obrigatoriamente terão redes wi-fi de alta velocidade.

Outra novidade é que faremos upload das melhores fotos de cada dia com o Picasa, além dos necessários backups locais. Isso reduzirá o risco de perda das principais informações, que são as imagens. Estimo que traremos cerca de 30 mil fotos e filmes. O roteiro inclui, no Japão, Tóquio, Osaca, Nagóia, Quioto, Nara, Hiroshima, Fukuyama e Kobe. Na Coréia, Seul e a zona desmilitarizada (pelo contrário, lá está a maior concentração de tropas do mundo) entre as Coréias.

Na China, metade da viagem: Pequim, Xangai, Barragem das Três Gargantas (grandes obras de engenharia haverá em todo o percurso), Xi An e mais oito localidades desconhecidas, percorrendo as províncias de Sichuan e Yunan. Tibete não deu certo, porque a instabilidade política a toda hora muda as regras para entrada por lá. Também pode acontecer interrupção na internet por conta do controle estatal de informações. Isso em toda a China. Por fim, Hong Kong e Macau.

No pacote e planejamento está o estudo da história dos três países, da geografia, dos problemas climáticos e das catástrofes naturais. Além disso o drible nas ciladas do calendário, fugindo a um feriadão de 7 dias na China (Golden Week) onde nada funciona, dos grandes prêmios de Fórmula 1 que encarecem os hotéis, etc. Estudamos moedas e outros meios de pagamento da região. Informações sobre vistos, compra de passe de trem para o Japão e outras coisas que tivemos que fazer antes da viagem.

A logística também foi um desafio. Conciliar transportes com atrações e hotéis mereceu um estudo de dois meses, até chegar a um resultado otimizado para o qual nem olho muito senão vou querer mudar de novo para melhorar mais. Estimo que tenhamos gasto cerca de 300 horas de estudo, olhando cada atração, cada opção de deslocamento, cada posicionamento de hotel para chegar melhor aos lugares. A cada uma das versões de roteiro que estudamos houve racionalização de tempo e recursos, baixando o orçamento em cerca de 25% da estimativa inicial.

Se no ano passado tivemos a experiência de ver o efeito do aprofundamento da crise européia nos países e nas pessoas, nesta viagem também será diferente. Começando pelas condições naturais: a probabilidade de viver um terremoto de pelo menos 6 pontos na escala Richter é muito alta, pois toda a região tem tremores de várias intensidades todos os dias.

Justo quanto estivermos por lá a tensão entre China e Japão por conta de três míseras ilhotas e de ressentimentos históricos de séculos irá se intensificar. E terminar de forma pacífica, esperamos. Na Coréia do Sul também não se descarta a possibilidade de um dia o ditador norte-coreano acordar de mau humor e estressar as tensões. Ler com frequência versões em inglês dos jornais da região para saber da conjuntura e do que acontece na sociedade foi mais uma tarefa necessária.

Estamos preparados como quem vai para uma viagem espacial. Bagagens estudadas para levar o mínimo possível (roupas de fácil lavagem e secagem, mínimo de parafernália eletrônica com seus cabos e carregadores, calçados adequados, etc). Quais e quantas malas, bolsas, mochilas? Onde fazer as compras para evitar andar por toda a região pagando excesso de bagagem? Remédios, comida, produtos de higiene e cuidados pessoais também entram no estudo, afinal, como explicar por lá que quer um remédio para azia? Ou como saber a diferença entre um desodorante e um inseticida sem entender nada da embalagem?

Temperaturas e durações de dias também foram vistos para evitar casacos desnecessários e surpresas de projetar atividades que não podem ser concluídas porque o dia anoitece mais cedo a cada dia do outono asiático. Estudamos os alimentos e hábitos de higiene para evitar problemas de saúde e aproveitar o melhor da culinária de lá (exceto escorpiões, cachorro, cérebro de macaco e outras iguarias finas). Há uma semana estamos dormindo cada vez mais tarde para minimizar o impacto do "jet-lag" de 12 fusos horários. Nosso organismo vai precisar mudar sua programação da noite para o dia. Além disso teremos problemas com locais de altitude acima de 3 mil metros.

Apesar da internet nos permitir achar informações que melhoram o planejamento, tivemos muita dificuldade em obter informações. Esse esforço de pesquisa resultou em pilhas de papéis e arquivos de dados que se somarão às fotos, anotações e análises que faremos e poderão resultar em muitos artigos e mesmo num livro. Tenho certeza de que os relatos tirarão muita gente da comodidade para conhecer o oriente, onde estão as mais antigas civilizações do mundo. Há muito o que aprender por lá, antes de ir e no pós-viagem.


sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Bolsa-Família reduz trabalho infantil

Faço este post com o maior prazer, não apenas pela notícia boa, mas porque fará espumar de raiva e causará convulsões histéricas nos direitistas que enchem a boca para falar mal do Bolsa Família como se fosse uma forma de viciar preguiçosos. O trabalho infantil caiu 14% entre 2009 e 2011, reduzindo o vergonhoso passivo social que ainda mantém em condições inadequadas 3,7 milhões de pessoas entre 5 e 17 anos. A direita deve achar ruim, porque quem emprega essa força de trabalho roubando-lhe o direito à infância e juventude sadias são justamente eles.
http://economia.ig.com.br/2012-09-21/com-bolsa-familia-pais-reduziu-trabalho-infantil.html

Brasil : Ou se derruba os juros ou eles nos derrubam

O Brasil fechou julho acumulando no ano o pagamento de R$ 128,462 bilhões de juros apenas em 2012. Só em julho pagamos R$ 17,435 bilhões aos banqueiros e rentistas, que ganham sem risco e sem esforço como em nenhum lugar do mundo. O Brasil não tem dinheiro para pagar tudo isso. A arrecadação no período pagou todas as despesas, e ainda sobraram R$ 71,229 bilhões, o tal "superávit primário", que não leva em conta o pagamento de juros. Moral da estória: R$ 128 bi menos R$ 71 bi dão uns R$ 56 bi que precisamos arranjar para fechar a conta. Quem tem essa grana para emprestar? Ora, os mesmos banqueiros e rentistas que sugam o resto.

No esforço de arranjar dinheiro para diminuir o déficit nominal (tudo que se arrecada menos tudo que se paga, inclusive juros), o governo Dilma está apertando do lado dos gastos. Não deu aos servidores públicos nada além da inflação como reajuste salarial para os próximos 3 anos, e deve buscar  a mesma política de arrocho nas empresas estatais (BB, CEF, Petrobrás) para maximizar lucros que irão para o caixa do Tesouro Nacional. Para saúde, educação, investimentos? Não, para pagar juros e mais juros.

Quando os dados de juros são comparados com os do ano passado, há a notícia boa e a ruim. Vamos à melhor: nos primeiros sete meses de 2011 pagamos R$ 138 bi de juros, contra R$ 128 do mesmo período de 2012. Isso vem da redução da SELIC, rolagem de dívidas a juros menores, etc. A parte ruim da coisa é que o déficit nominal está crescendo, porque caiu o total do superávit primário nos 7 meses, em função da crise, gastos do governo, investimentos, etc. No ano passado o déficit nominal foi de R$ 46 bi, e agora, de R$ 57 bi. No mês de julho de 2012 o déficit foi de R$ 12 bi, contra R$ 5 bi no ano passado.

Os números mostram virtudes e pecados do governo Dilma. Apesar de ter ampliado o investimento público com o PAC, Minha Casa, Minha Vida e outros, de estar chamando para o investimento o setor privado através de concessões por prazo determinado (e não torrando estatais), e de até ampliar os programas sociais de transferência de renda (Bolsa Família, etc) e desonerar de impostos alguns setores da economia, de forçar a queda dos juros (ainda não houve maturação do impacto disso nas contas públicas), o fato é que se manteve o déficit nominal nos primeiros sete meses igual ao do ano passado. Ou seja, os números de queda nos juros se igualam aproximadamente á redução do superávit primário.

Onde peca Dilma e antes pecaram governos por décadas e décadas? Na falta do enfrentamento duro com os banqueiros e rentistas, em condições soberanas. O governo teme uma nova enxurrada de dólares chegando ao Brasil a partir do novo pacote de estímulos à economia norte-americana. Se há dinheiro sobrando por lá procurando oportunidades de altos ganhos por aqui, certamente se pode tomar recursos a custos mais baixos, e afundar a SELIC e os juros cobrados às famílias e empresas, baixando a conta de juros a níveis toleráveis com superávit nominal, a partir do qual se poderá falar em mais investimentos, melhores gastos e menos impostos.

Dilma precisa fazer com os banqueiros o mesmo que fez com o setor elétrico, ou seja, baixar o custo da mercadoria através da redução de lucros absurdos de monopólio / oligopólio. O uso dos bancos públicos para baixar juros tem sido pouco eficiente, porque consegue atingir apenas pessoas bancarizadas com bom cadastro.

A grande maioria cai nos juros escorchantes praticados por financeiras no comércio. Ontem vi o anúncio de uma grande varejista de móveis e eletrodomésticos onde o preço à vista seria de R$ 1500 e a prazo, em 18 meses, de R$ 2500. E não é dos piores, considerado o valor em cash, mas até nesse preço há juros embutidos. O mesmo acontece numa grande rede de supermercados, de preços altos nas prateleiras, mas que dá 40 dias para pagar no seu cartão. Cartão para pagar comida já é um absurdo, mas, pior ainda, quem compra à vista leva junto juros por nenhum motivo.

A falta de efeito da redução dos juros para a nova classe média e os mais pobres aparece nos dados do Banco Central de ontem: em junho 22,38% dos ganhos mensais dos brasileiros eram para pagar juros, um recorde histórico. E está aumentando. Destes, 8,01% foram usados para pagamento de juros, abaixo do recorde de 8,13% de outubro de 2011, e 14,37% foram para amortização do principal, que também é um número recorde. Enquanto em junho de 2012 as famílias alcançaram o recorde de 43,94% da sua renda dos últimos 12 meses.

Essa situação me faz lembrar de uma frase muito ouvida na infância, quando algum dos meus antepassados se referia à corrupção política, comparando os políticos com saúvas que destruíam a lavoura : "Ou o Brasil acaba com as saúvas, ou as saúvas acabam com o Brasil". No início do século XX não havia ambientalistas para questionar o sentido genocida da frase contra os pobres insetos, mas no início do século XXI nem no futuro haverá quem defenda o parasitismo dos que praticam altos juros e sugam nações inteiras.



quinta-feira, 20 de setembro de 2012

FANOAPÁ 0016 - Intolerância gera intolerância

Esta seção do blog era para ser "Falta de Noção que Assola o País", mas a gente escreve mais sobre o mundo que sobre coisas do Brasil. Agora vem essa onda perigosa de esculachar os que seguem  o islamismo. Até no metrô de Nova Iorque botaram provocações. Botaram anúncio que liga o Islã a "homem selvagem"

Um imbecil faz um filme de péssima qualidade, colocando Maomé como pedófilo, tarado por mulher casada, assassino sanguinário, ladrão, e numa cena duas pessoas até questionam se ele seria gay. Botou essa porcaria em junho na internet, e ficou por isso mesmo. Justo no 11 de setembro alguém lembrou que isso existia, espalhou geral no mundo muçulmano e começou uma onda de protestos contra o que eles chamam de blasfêmia, onde a morte dos infames é apenas o primeiro passo para piores castigos.

Se foi armação da Al Qaeda, como alguns dizem, para incitar o ódio aos americanos e atacar embaixadas, assassinando os funcionários e destruindo tudo, até teria algum sentido. Até parece, porque não acredito que alguém que não quisesse irritar profundamente um muçulmano fizesse isso com tanta perfeição. Um verdadeiro atentado. No entanto, aí entra a falta de noção, não se pode nunca deixar de lembrar que o ser humano é capaz das coisas mais bizarras, e ter sido realmente um idiota avulso que fez isso como gracinha ou desabafo.

Se era para gerar reações violentas, quem fez o vídeo foi primoroso. Só vem à mente o comediante Mução, que nada tem a ver com muçulmano, que no seu programa de rádio tem um quadro de pegadinhas, onde liga para uma pessoa que tem algum tipo de apelido ou trauma que a faz explodir, informado por alguém ligado à vítima, e puxa assunto até que fala as palavras que fazem a pessoas perder a cabeça, xingar, bater o telefone, etc. É cutucar o nervo que todos sabem que está exposto.

Surfando na onda de violência anti-americana, e parece que perdendo a noção do perigo, o jornal Charlie Hebdo's, tradicionalmente de humor e sátira, botou uma charge também tendo como tema o profeta muçulmano Maomé, questionando sua intocabilidade, a impossibilidade de sequer ser retratado ou ridicularizado. O governo francês, prevendo a merda que isso vai dar, fechou as embaixadas e escolas para franceses em 20 países. O pessoal do jornal, tranquilo, defende seu direito à liberdade de expressão. Aí vem a direita francesa, xenófoba, doida para botar toda a comunidade árabe num barco e devolver à África, e ganha força para suas teses fascistas. Uma coisa puxa a outra. Intolerância gera intolerância.

Assim como o prefeito de Tóquio, que disse que iria comprar ilhas disputadas por chineses e japoneses tocou fogo numa disputa que pode acabar em guerra porque queria ganhar votos nas eleições locais, a falta de noção e a intolerância estão levando o mundo a uma fragilidade irracional. A China, por décadas, foi dominada pelo Japão, que fez atrocidades impensáveis, gerando um sentimento anti-japonês que resistiu a 40 anos de paz selada entre os dois países. Bastou uma fagulha para explodir o ódio.

Se fosse há uma década atrás, uma charge ou um filme feitos fora dos países de regimes teocráticos muçulmanos jamais seriam conhecidos. Imaginem se hoje alguém lançasse certas marchinhas antigas do nosso carnaval que falam de coisas muçulmanas? Caía na internet rapidinho, e tome queima de embaixada brasileira. Hoje tudo é instantâneo, simultâneo e efêmero. E perigoso também. Qualquer pessoa pode atrair para seu país ou seus compatriotas o ódio mortal a partir de um simples post de intolerância.

Não é censura o que se pretende, a bem da coexistência pacífica : é respeito aos valores dos outros, sem confundir a liberdade de expressão com a permissão para a agressão, para a difusão do ódio, da intolerância, do preconceito. Se alguém quiser fazer a provocação, pelo menos bote a cara bem visível, assuma o ato individual, para saberem quem foi e não deixar a culpa para o coletivo à sua volta, que tendo noção do ato intolerante ou preconceituoso certamente irá deixá-lo sozinho na arena. Obama condenou o filminho, o governo francês disse que não tem nada a ver com a charge, mas isso pouco adianta para quem já tem acumulado, até por razões históricas, ódio aos impérios ocidentais.

Da mesma forma, se alguém tem uma convicção e sabe que outras pessoas não têm os mesmos valores e ridicularizam seus sentimentos, devem se afastar, e não praticar atentados. Bom-senso e noção são para essas coisas. Se é para conviver pacificamente, também tem que saber ponderar e fazer-se respeitar sem partir para a violência. 

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Mensalão : Relator confunde corrupção com feladaputice aliada

Hoje no julgamento do Mensalão vimos mais uma daquelas coisas incríveis que o promotor, digo, relator Joaquim Barbosa jogou prá arquibandada aplaudir: réus do PL, partido do finado José Alencar, que foi vice-presidente de Lula e, portanto, partido organicamente da base de apoio, foram condenados por corrupção passiva por receberem dinheiro do criminoso caixa dois petista não para pagar despesas de campanha, mas para pagar pelos votos a favor do governo.

Pergunta que não quer calar: já existe no Código Penal o crime de feladaputice? Quer dizer então que não basta o partido-líder da coligação colocar vice-presidente, ministro dos transportes e mais uma porrada de cargos para consolidar a aliança com o PL, que ainda tem que dar uma grana por fora para garantir a votação de uns sacanas em matérias que deveriam ser de interesse do programa da coligação?

Alô Ministro Barbosa: o caso não seria de corrupção, mas de mau-caratismo mesmo, se não for acerto de campanha. Isso é ilegal? Se for, deveriam condenar toda a classe política, de todos os partidos. E deveria condenar o PT pela estupidez de pagar por algo que já viria no  pacote da coligação partidária. Crime de malversação do dinheiro do caixa-dois existe?

Direção do PT manda militantes defender mensaleiros

Cada vez mais se confirma o pior cenário que descrevi num outro post, "Pós-PT : O que fazer com o seu legado positivo". A direção nacional do PT, majoritariamente ligada ao grupo que está sendo julgado pelo Mensalão, lutará até o fim para defender seu líder José Dirceu, e não haverá qualquer tipo de autocrítica ou avaliação ética interna caso todos venham a ser condenados. Ninguém será punido pelo partido, essa é a vontade deles, a não ser que, numa remota possibilidade, as oposições internas venham a ganhar as próximas eleições internas.

Para dar mais ênfase à defesa aos que, no mínimo, praticaram o crime de "caixa dois" e meteram a mão no dinheiro de propaganda da Visanet, a Direção Nacional, numa nota que deveria ser para motivar a campanha na reta final, parece só tê-la feito com o sentido de pedir a defesa de Lula e das lideranças mensaleiras contra mentiras, etc. Sabem da onda que vem por aí de ataques ao PT a cada nova audiência do STF. Há uma sincronia entre o julgamento e as campanhas da direita, e vão deixar para o segundo turno a condenação de José Dirceu e da alta cúpula do PT, seguida de um amplo ataque da direita. Segue a nota.

Eleições 2012 - Comissão esteve reunida na segunda-feira (17), em São Paulo

A Comissão Executiva Nacional do PT, reunida no dia 17 de setembro, avaliou a conjuntura internacional e nacional, em especial a situação eleitoral, aprovando ao final a seguinte nota:
1.O PT apóia as medidas adotadas pela presidenta Dilma e pelo governo brasileiro, em defesa da economia popular e dos interesses nacionais. Estas medidas –entre as quais se destaca a redução da taxa de juros e das tarifas de energia elétrica— já se demonstraram essenciais para proteger o Brasil dos impactos da crise internacional, que continua se agravando.
2.A vitória do PT nas eleições municipais de 2012 deve ser vista nesta mesma perspectiva: trata-se de fortalecer nosso projeto nacional, de um Brasil soberano, politicamente democrático e socialmente justo.
3.Tendo isto em vista, a Comissão Executiva Nacional do PT convoca a militância petista, nossos filiados e filiadas, nossos simpatizantes e eleitores, nossos parlamentares e governantes, para uma batalha do tamanho do Brasil: em cada cidade, pequena, média ou grande, trata-se de obter grandes votações, elegendo vereadores e vereadoras, prefeitos e prefeitas. E fazendo a defesa de nosso Partido, do ex Presidente Lula, de nossos mandatos e lideranças, bem como do legado dos nossos governos,  que melhoraram as condições de vida e fortaleceram a dignidade do povo brasileiro.
4.A mobilização geral de nossa força militante é a condição fundamental para nosso sucesso nos dias 7 e 28 de outubro. Pois é a militância consciente quem desfaz as mentiras, demarca o campo, afirma nosso projeto, reúne nossas bases e alianças, construindo vitórias não apenas eleitorais mas também políticas.
5.Em cada bairro, em cada escola, em cada empresa, em cada movimento social, nas redes sociais, a militância petista - com nossa estrela e bandeiras - está chamada a mais uma vez cumprir seu papel histórico, de arquiteta e alicerce das grandes mudanças no Brasil.

EUA : Os marmiteiros de Mitt Romney

Em 1945 o presidente Getúlio Vargas foi deposto e duas candidaturas de militares disputavam a eleição presidencial : o Marechal Eurico Gaspar Dutra, que tinha sido Ministro da Guerra de Vargas e que participou da sua deposição, e o Brigadeiro Eduardo Gomes, que também ajudou a depor o ditador. Vargas, político populista com amplo controle sobre as massas de trabalhadores, declarou seu apoio a Dutra. Eduardo Gomes foi para a UDN, partido de viés elitista até hoje citado (udenismo) quando algum hipócrita quer parecer dono da ética e da moralidade, e tinha amplo apoio da classe média. Para levantar fundos para a sua campanha, eram vendidos docinhos de chocolate que levaram o nome de "brigadeiro".

Onde foi que Eduardo Gomes perdeu a eleição para o candidato identificado com o ditador que tinham acabado de derrubar? Morreu pela boca: declarou no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, lugar nobre, que não queria saber dos votos da malta que apoiava Getúlio Vargas. O termo "malta", que se refere a vagabundos e desocupados, depois foi traduzido por Eduardo Gomes como "grupos de operários que levam suas marmitas". Foi só o que bastou para a propaganda popular dizer que Eduardo Gomes não queria os votos de pobres, generalizando o termo "marmiteiro", ou seja, o trabalhador que leva marmita para o trabalho. Juntando-se a declaração preconceituosa ao partido de elite que representava uma minoria, estava dada a fórmula para a derrota.

Nos Estados Unidos a campanha presidencial de Barack Obama teve acesso a um vídeo onde o adversário republicano, Mitt Romney, afirma a uma platéia de apoiadores que ele tinha o apoio de 47% do eleitorado até então, e que os outros 53% eram pessoas que viviam das benesses do estado. Sendo um liberal, sua crítica foi ao fato de haver impostos para manter o seguro saúde, as aposentadorias e outros programas sociais que eles combatem para tentar reduzir a carga tributária. Só que essas coisas soam mal aos ouvidos de quem pode perder tudo se o eleito resolver tirar deles para dar aos ricos. Foi dita em ambiente reservado, mas vazou. Perda total.

Romney vai morrer explicando: já caiu na boca do povo que Romney não gosta de aposentados, de pobres, de gente desempregada, e que os 47% que ele diz ter são de pessoas arrogantes, ricaços e gente iludida. Já vi declarações de Obama tirando onda com a gafe de Romney, que a toda hora aparece na Fox News, canal de TV que o apóia, com a cara tensa dizendo que não é isso, que entenderam mal, que ele gosta de pobre sim, que tem pobre na família, etc. Enfim, pode ser que a eleição americana, mesmo sendo Obama e Romney faces da mesma moeda do imperialismo, tenha algum conteúdo de classe.

Que Obama não tenha salvado a economia é uma coisa que tira votos. Que um candidato ameace tirar o pão da boca de milhões de pessoas, é muito mais grave. Sabendo-se que os ricos a quem Romney abriu seu coração e disse o que pensa do povão são uma minoria, a pergunta que se faz agora nos EUA é : quem são esses 47% a quem o candidato republicano se refere?

Segue o link do site da revista Mother Jones, que conseguiu o vídeo do discurso de Romney aos ricaços para levantar dinheiro para a sua campanha:
http://www.motherjones.com/politics/2012/09/secret-video-romney-private-fundraiser




Pesquisa comprova : Transgênicos aumentam riscos de câncer

Nada como a ciência para acabar com achismos e mostrar a verdade incômoda para multinacionais que inventam produtos geneticamente modificados e os vendem como saudáveis. Cientistas da Universidade de Caen (França) publicaram hoje na revista "Food and Chemical Toxicology" estudo que comprova que ratos alimentados com milho transgênico têm cancer com mais frequência e morrem antes do normal. Mortalidade de duas e três vezes entre os testados e os que não foram alimentados com o milho geneticamente modificado.

A notícia não é nada boa para a Monsanto, fabricante do pesticida Roundup e produtora do milho resistente a ele, porque o estudo desencadeará uma série de medidas preventivas contra seus produtos em todo o mundo.

O lobby pró-transgênico não vai ficar parado diante da descoberta. Opiniões contrárias à metodologia da pesquisa já estão na praça, questionando as estatísticas, etc. Mais em http://www.chicagotribune.com/health/sns-rt-us-gmcrops-safetybre88i0l0-20120919,0,6609944.story





Viagem : Cálculo da duração dos dias


Tela do SolarTopo - Exemplo de cálculo para Pequim em 18/10/2012
Um parâmetro muito importante e frequentemente esquecido no planejamento de viagens é a duração do dia. 

Passeios podem ser comprometidos se, por exemplo, não se souber que num determinado local o dia clareia às 8 da manhã e escurece às 16h, dependendo da época do ano. 

Ainda bem que na internet também é possível ter esse dado à mão sem fazer muita força. 

No site  http://www.solartopo.com/daylength.htm  é possível saber os dados de nascer e por-do-sol em um grande número de cidades do mundo em qualquer data. Muito simples de usar. Basta botar o nome da cidade (de preferência em inglês) e a data que se quer saber os dados. Também informa sobre a ocorrência de horário de verão, latitude, longitude, altitude, fuso horário (GMT). 

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Greve : Banqueiros fazem chororô em vez de propostas

Brasília 17/09/12 - Assembléia dos bancários deflagra greve geral da categoria
Se há um setor da economia que vem ganhando dinheiro no mole há décadas é o bancário. Juros, juros e mais juros, com o apoio de governos, risco pouco, céu de brigadeiro. Vem a crise internacional e lá estão eles, tranquilos, faturando como nunca. Cai a Selic e eles lá, negando-se a baixar os juros ao consumidor, no cartão, nos empréstimos, num escancarado esquema de oligopólio que explora a economia popular.

Quando chega a hora de pagar salários aos seus funcionários, choram como se fossem tirar um naco da carne para entregar a um bando de ingratos, que não entendem que eles já deram muito. Botaram uma proposta de reajuste de 6% desde o mês passado, foi rejeitada pelos trabalhadores e, de lá para cá, mais nada. No dia 12 de setembro assembléias em todo o país disseram claramente: se não tiver proposta até o dia 17 de setembro, vamos parar em todo o Brasil no dia seguinte. Não deram nenhuma resposta. Veio a greve, e com ela, esse lamentável comunicado da FENABAN:

"18/09 - FENABAN confia no diálogo 
“Lamentamos muito essa decisão”, disse o diretor de Relações do Trabalho da FENABAN, Magnus Ribas Apostólico. “Greve é ruim para todo mundo: é ruim para o bancário, é ruim para o banco, é ruim para a população, que já foi muito incomodada pela onda de greves dos funcionários públicos e não merece ser mais incomodada com uma paralisação dos bancários”, salientou. "

Respaldados pela mídia que sustentam (todos os telejornais e as principais revistas semanais têm patrocínio dos banqueiros), botam no Jornal Hoje imagens de populares revoltados com a greve. Hoje escolheram a dedo a de um cidadão que chama os grevistas de vagabundos. Na outra, uma pessoa que em vez de ir à loteria pagar uma conta, ficou tentando abrir a porta do banco fechado, e esculhambando a greve. Os banqueiros têm que oferecer mais dinheiro nos salários que a greve acaba. Já não basta o que prejudicam a população com altas taxas e juros, ainda querem prejudicar os funcionários?

Viagem : Radares de controle de vôos em tempo real

Muito interessante o site  http://www.flightradar24.com/  , pois permite visualizar em tempo real os aviões em deslocamento por todo o mundo. Nem todo: há lugares onde não aparecem os vôos por motivos de segurança, ou porque não tem radar mesmo na área (os tais "buracos negros" do sistema de controle de tráfego aéreo).

Passando o mouse sobre os aviões aparece o número do vôo e a empresa. Clicando neles, aparecem as informações que estão à esquerda na foto, como rota, velocidade, altitude, posição, altitude, tipo de aeronave, etc.

As aeronaves em amarelo estão transmitindo posições online. As que estão em laranja têm atraso de 5 min. 

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Greve : Do mundo virtual à luta real

Brasília - 17/09/12 - Assembléia dos bancários que deflagrou greve geral da categoria
Entre os sindicalistas mais antigos sempre houve desconfiança em relação às novas gerações, pela ideologia do individualismo, do sucesso pessoal, em relação às lutas coletivas e à solidariedade de uma classe explorada na sua luta contra a exploradora. Essas coisas pareciam perdidas no passado, propriedade de um bando de dinossauros que combateu a ditadura que os novos não sabem que existiu. Que lutou por direitos que estão aí, usufruídos por todos, sem saber de onde vieram como hoje uma criança cosmopolita não sabe de onde vem a comida que come (acha que nasceu no supermercado).

Os métodos de disputa por hegemonia entre os sindicatos e os patrões mudaram de forma assimétrica. As empresas apelam para os meios eletrônicos instantâneos para vender suas idéias e conquistar a simpatia entre os que explora. Já os sindicatos demoram muito a entender que não basta mais colocar um carro de som e fazer barulho na porta da empresa, porque isso não atinge mais as pessoas que estão dentro. Pior: os patrões conseguem "vender" aos funcionários que eles são a modernidade, e os sindicatos são o anacronismo, por não prometerem o paraíso através de cada vez mais trabalho, mais metas e que os mais capacitados vencerão e ficarão ricos.

Desde o advento das redes sociais várias tentativas foram feitas para levar as pessoas à luta. Presenciei em Brasília o #ForaSarney, e minhas observações estão neste link. Simplesmente as pessoas não conseguiram traduzir em luta real aquilo que propunham pela internet. Por que fracassou? Faltou discussão, ganhar as pessoas, explicar para que fazer aquilo, e que a demonstração no mundo real poderia alterar as coisas. Está faltando aos novos indignados a história das lutas que os antecederam, para a partir do link da história saberem os nexos causais entre as coisas do mundo que muda em tempo real.

Acabo de chegar da assembléia dos bancários de Brasília. Pela primeira vez acompanhei a discussão por redes sociais que redundaram em ações reais, fomentando a luta, traduzindo para a linguagem das novas gerações as grandes lutas que precisam ser feitas. No Banco do Brasil, por exemplo, há o esculachante desrespeito à jornada legal dos bancários , que é de 6 horas. Nem sindicatos, nem delegacias do trabalho, nem o Ministério Público do Trabalho tentam ou conseguem fazer o BB pagar o que sonega aos seus funcionários. E fica por isso mesmo. Na última negociação, com arrogância, disseram que não vão negociar as horas-extras que não pagam. Fim de papo!

Esqueceram de avisar aos funcionários, que articulados por redes sociais foram à assembléia levantar a obrigatoriedade do cumprimento da lei. A partir do conhecimento do problema, das origens da jornada especial de seis horas pelos problemas de saúde que o estresse bancário acarreta, e da incapacidade de sindicatos e fiscalização do trabalho de fazerem cumprir a lei, foram à luta, fizeram os cartazes e deram o recado : lei é para ser cumprida, não para ser negociada. Parabéns a todos pela iniciativa. Pode ter sido um marco histórico na relação entre o mundo virtual e a luta real.


Ex-Ministro de FHC elogia Dilma e Lula

Não será surpreendente se o engenheiro (e economista) Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-Presidente do BNDES, ex-Ministro das Comunicações de FHC e ex-diretor do Banco Central vier em breve a perder seu emprego de colunista na rádio BandNews FM. Em entrevista ontem no programa Canal Livre, da Band, disse que Dilma irá se reeleger, que fará um bom governo, que apoiaria dar o nome de Lula a ruas e que se fizessem estátuas dele, etc. Essas opiniões certamente vão contra a "linha editorial" da empresa.

Ficou difícil para os jornalistas Fernando Mitre e Boris Casoy rebater os argumentos do colega, desmistificando o nível do PIB, a ameaça de inflação, a taxa de câmbio, prevendo o crescimento de 4,5% no ano que vem. Perguntado sobre o mensalão, disse que todos têm que ser punidos, os do PT e os tucanos de Minas. Muito interessante de ver. Surpreendente até. Aí vão os links do programa, que vale a pena ver. E notar o desconforto dos jornalistas a cada resposta do tucano de bico vermelho.

1 - http://www.band.com.br/canallivre/videos.asp?v=2a69f9c30839b783e12a5c58e388ea58&pg=1
2 - http://www.band.com.br/canallivre/videos.asp?v=007c570790a1711fe7dd5c4b656c3d5d&pg=1



São Paulo : Nero para prefeito?

Agora foi a vez da Favela do Moinho pegar fogo, no centro de São Paulo. Já são quase 70 neste ano. Todas atingindo gente pobre, que não tem onde morar, que ocupa áreas públicas ou privadas que têm bom valor de mercado. No final, a mesma situação: perde-se tudo, a prefeitura dá bolsa aluguel para tirar o povo dali, não se propõe nada definitivo para a habitação popular e fica essa incômoda suspeita de haver crime por trás do que se tenta entender como "acidente". O Rio tem mais favelas e é raro ter incêndio.

Com tantas "coincidências", a Câmara Municipal de São Paulo abriu uma CPI para investigar as suas causas, mas a base governista focou apenas nas práticas da Defesa Civil para a prevenção, sem tocar na possibilidade de haver um ou vários criminosos provocando os incêndios a serviço dos proprietários das terras ou de vizinhos que se incomodam com a pobreza circundante e querem a valorização dos seus imóveis.

O máximo que a imprensa blindada demo-tucana de São Paulo deixa passar é que o clima seco propicia os incêndios. Tá bom... No Rio boa parte das favelas está em morros, e neles, um tipo de capim que na secura entra em auto-combustão, provocando incêndios espontâneos a toda hora, que não provocam essa quantidade de "acidentes" de São Paulo. Nem assim assumem as proporções do que se vê em São Paulo. Nero, em Roma, foi mais "eficiente": fez sua reforma urbana, dizem, mandando tocar fogo na cidade para "limpar o terreno".


Pós-PT : O que fazer com o seu legado positivo?

A construção do PT se deu num ambiente único, onde forças únicas coexistiam cada qual com seus valores e, ao se juntarem, produziram o mais espetacular movimento de transformação de baixo para cima já visto no Brasil. Do PT saiu a CUT, que também revolucionou o sindicalismo. Um novo tipo de fazer política, rompendo com as tradições do estalinismo, unindo desde militantes religiosos a ultra-esquerdistas num só partido democrático, ético, esse foi o grande avanço político brasileiro da década de 80 e início dos anos 90.

Milhões de pessoas filiaram-se ou simplesmente acreditaram no PT como a esperança do novo, do socialismo para acabar com as injustiças, e foram às ruas pagando para fazer campanhas, enfrentando o debate com os inimigos dos trabalhadores, trazendo para o movimento os alienados. O PT deu sentido à militância como exercício cotidiano, incansável, de propagar a mudança, a esperança, e de combater o medo de lutar.

Esse sonho de milhões de idealistas não foi compartilhado por todos que estavam no partido. Havia quem pensasse em chegar ao poder por vias mais rápidas que as necessárias para construir uma revolução, através de táticas pragmáticas, cedendo terreno ideológico, aliando-se a quem se pretendia derrotar, renegando princípios. A partir dos anos 90 a militância ficava perplexa a cada ato desse grupo que se tornou hegemônico no partido, mas insistia no PT como o melhor instrumento de combate às injustiças.

A cada tentativa de eleição de Lula, uma nova rebaixada no programa do partido, um arco maior de alianças, mais descaracterização. A desconfiança começou a superar a esperança e a criar o medo de estarmos criando um monstro que iria nos devorar depois. O Lula que venceu a eleição de 2002 não carregava mais na sua bagagem as mesmas idéias de 1989. O PT também não.

A militância ainda resistiu frente às tentativas golpistas da direita no início do governo Lula. Os que o cercavam, entretanto, não quiseram empolgar os milhões que votaram e apoiaram  para ir às ruas e avançar nas conquistas com apoio popular. Preferiram usar o instrumental dos que combatiam. Buscaram a construção de uma base aliada sem ética, corrupta, através da cooptação por benesses. Assumiram o controle dos movimentos sociais pelo fisiologismo. Dissolveram o conteúdo de classe do partido.

Onde foi parar essa militância original, que encarou a ditadura, que fez as greves, que construiu o PT com suor e sangue? Certamente não está mais no PT, mesmo que muitos ainda estejam filiados e não participem mais das suas instâncias internas. Algumas correntes internas viraram partidos ou grupamentos independentes, exacerbando suas próprias características ideológicas, como o PSTU e o PCO.

O expurgo do grupo de Heloísa Helena também jogou para fora muitos insatisfeitos, que acabaram fazendo do PSOL um bote salva-vidas enquando o PT afundava nas suas práticas equivocadas. O grupo da ex-ministra Marina Silva, que era mais próxima da corrente majoritária, engoliu sapos o quanto pode, até debandar também numa aventura para o PV, anexo tucano.

A imensa maioria dos anônimos militantes, entretanto, ficou órfã. Continuam identificando o inimigo de classe, defendem Lula e Dilma dos seus ataques para não haver recuo ao passado, mas não se articulam mais. Cada um luta com o que tem. Incluo-me entre estes fazendo o combate e a conscientização pelo blog, por discussões em redes sociais.

Ainda há no PT alguns focos de resistência isolados em correntes e, particularmente, em Fortaleza. Tenho recebido informes de um campanha mobilizada, animada, com as pessoas se atirando em defesa do candidato do partido, Elmano de Freitas, apoiado pela prefeita Luiziane Lins.

Embora não esteja mais entre os quadros do partido em Fortaleza (mudei de domicílio eleitoral) e tenha restrições a algumas questões pontuais do governo na capital cearense, sinto um gostinho, uma certa felicidade, por ter feito algo que produziu esse resultado, com a campanha de resistência de 1992, da qual falarei em outro post, comemorando seus 20 anos. No Rio, essa militância viva, de ex-petistas e petistas, está na campanha de Marcelo Freixo, do PSOL. Apoio as campanhas desses dois candidatos pelo aspecto "militância" acima do que venham a propor. A cultura militante por causas justas precisa ser animada e preservada.

O julgamento do "Mensalão do PT" é político, e pretende ser um marco no combate à corrupção, que vai além das provas jurídicas. Se o mesmo rigor for aplicado ao "Mensalão do PSDB", poderemos começar um novo patamar ético na política. No PT haverá repercussões que poderão abalar sua atual direção, identificada com os que degeneraram o partido nos últimos 20 anos. Os condenados não contarão com a unanimidade do partido para defendê-los publicamente, e alguém certamente proporá um tribunal interno, que não houve desde que surgiram os escândalos. A direção do PT poderá mudar, mas nada que realimente a esperança do que foi feito no passado.

Dilma é neófita no PT. Mais técnica que política. Graças a ela Lula teve alguma realização concreta para exibir e ganhar sua reeleição, pois Dilma rompeu a inércia e incompetência de José Dirceu na Casa Civil e botou o país para andar. Dilma pegou o bonde do PT andando, filiando-se já no governo Lula, e nunca participou ativamente das suas discussões internas.

Vem governando à margem do partido, e não se envolve na defesa pública de nenhum dos envolvidos em escândalos. Ela encarna, de certa forma, um pouco do legado do PT pré-degeneração, aquela coisa do Modo Petista de Governar, de fazer reformas positivas para os mais pobres, de promover a inclusão, o combate aos preconceitos, etc. Conquistou o respeito de setores que antes eram oposição ao PT da degeneração por questões éticas, e a simpatia de parte do "limbo militante", que lhe dá apoio crítico.

O julgamento do Mensalão não será o fim do PT, como quer a direita. Poderá despertar um novo renascer no partido que tantas mudanças já fez. Ou, o mais provável, longe de uma refundação do PT, a construção de uma nova alternativa que aproveite o legado positivo construído coletivamente pelo partido e dê um novo alento à luta por transformações, reagrupando a militância que rejeita a corrupção, o hegemonismo e a arrogância dos porcos que se sentaram à mesa, como em "A Revolução dos Bichos", de George Orwell. Uma coisa certamente unirá a todos: o desejo de nunca mais voltarmos aos anos pré-2002. É daqui prá melhor.

Nesse sentido está também o texto do filósofo e teólogo Leonardo Boff, que nunca foi filiado ao partido, e, por razões outras, vai no mesmo sentido do que escrevi acima. Ele fala em preservar "a causa do PT". Eu falo em "pós-PT, entendendo que o atual partido continuará sob controle da mesma direção que o levou à degeneração, virando uma espécie de partido de centro, tipo PMDB, com grande máquina eleitoral, conchavos, armações, etc. Não acredito em virada de mesa interna nem em expurgo da turma do Mensalão, mas na construção de um novo partido. Segue o link do seu texto "Manter viva a causa do PT : Para além do "Mensalão" ".

domingo, 16 de setembro de 2012

VEJA : Mais mentiras para golpear Lula e Dilma

Na capa da revista Veja desta semana está uma foto de  Marcos Valério, dramatizada em tons de vermelho (alusão às cores do PT), onde afirmam que o réu do mensalão falou que Lula só não está no processo porque ele, o Delúbio e o  Dirceu ficaram calados.

Jogada ensaiada novamente. A manjada turma da mídia aliada pegou a matéria da VEJA e usou como verdade absoluta para pedir a condenação de Valério, Lula, etc. A oposição, com base na matéria da Veja, quer que Lula seja investigado (já tentou e não conseguiu).

Detalhe fatal: Marcos Valério nega qualquer entrevista. Como é então que a VEJA faz do seu ódio de direita matéria-prima para inventar coisas e criar clima de golpe? Novamente? E na CPI do Cachoeira ainda há quem resista a chamar os responsáveis pela revista para explicar a parceria com crimes do bicheiro Cachoeira. Pior: ainda há quem assine essa porcaria. 

sábado, 15 de setembro de 2012

Vereadores e Prefeitos : A hora de pagar as contas

Hoje nos jornais está estampado mais um desses absurdos da nossa política, com a ordem judicial para tirar da internet críticas que uma professora de Anápolis (GO) fez a vereadores da sua cidade porque foram contra uma moção de protesto pelo descaso do governador Marconi Perillo com a educação. O advogado dos vereadores citados entendeu que houve excesso e propaganda negativa, enquanto o advogado de Ângela Pureza afirma tratar-se de liberdade de expressão.

Políticos são servidores públicos especiais. São eleitos, têm mandatos definidos e, além de terem que seguir todos os preceitos da ética pública, devem ter transparência naquilo que fazem. São pessoas públicas que devem acatar a crítica política civilizada, e foi isso que a professora Ângela fez: cobrou politicamente o fato de terem se abstido de apoiar a categoria dos professores numa reivindicação por melhores condições de educação, uma bandeira que todo político defende em vésperas de eleição.

Se o vereador não cumpre o que promete, se joga contra pessoas, categorias, comunidades e outros entes da sociedade civil, a punição poderá vir pelo voto. Em Piracicaba (SP) muitos vereadores votaram pelo reajuste de 66% sobre os próprios salários, e estão candidatos à reeleição. A comunidade se rebelou criando o movimento "Reaja Piracicaba" onde divulgam os nomes e fotos de todos os que cometeram esse ato de desrespeito aos cidadãos que pagam os impostos, legislando em causa própria. O que há de calúnia ou difamação nisso?

Aqui se faz, aqui se paga, e deixar de eleger políticos que se acham acima de tudo e de todos e que podem fazer qualquer coisa é o mínimo que o eleitor pode fazer. O judiciário também pode ajudar, agilizando processos contra bandidos que roubam o dinheiro público e abstendo-se de censurar o direito das pessoas fazerem campanha contra quem contraria o interesse público no decurso do mandato eletivo. Que em todo o país as posições políticas sejam cobradas e pagas na eleição. Baixaria é outra coisa.


Eis o que a professora de Anápolis postou no Facebook:

Juiz manda professora retirar post no Facebook contra vereadores em Anápolis, Goiás (Foto: Reprodução/Facebook)





sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Bancários : Um suicídio a cada 20 dias!

Alguns podem pensar que a jornada de 30 horas semanais do bancário é um privilégio diante das demais categorias que trabalham 44 horas por semana. O que a grande maioria desconhece é o porquê da decisão que em 1933 abriu essa exceção à legislação trabalhista. E pouquíssimos sabem que a taxa de suicídios entre bancários é elevadíssima, uma minoria diante das tentativas de suicídio, recursos a drogas, etc.

O Banco do Brasil é um dos que mais desrespeita a legislação da jornada de trabalho. Perdeu milhares de ações na justiça reivindicando o pagamento das horas-extras, e ainda há um enorme estoque de processos em vias de decisão no judiciário. Prefere pagar na justiça a alguns que tomam a iniciativa do processo que fazer cumprir a lei para todos. http://oglobo.globo.com/economia/bb-caixa-estao-no-topo-de-lista-de-empresas-com-acoes-trabalhistas-5253689  .

Enquanto isso, degradam-se as condições de trabalho para atender a uma cada vez mais acirrada competição de mercado, que afeta mais o BB, que é uma empresa de economia mista com ações em Bolsas de Valores, que a Caixa, empresa 100% pública. Além de ter que apresentar vistosos lucros aos acionistas, o BB e a Caixa são hoje supridores de superávit primário ao governo federal, através do repasse da parte dos lucros ao Tesouro Nacional. Talvez esse seja um indicativo da vista grossa que o governo faz em relação aos direitos trabalhistas dos funcionários dessas empresas, preferindo a protelação judicial e o não pagamento. 

Enquanto isso, bancários vão se matando, destruindo vidas, famílias, saúde, etc. Uma dissertação de mestrado da UNB, com o título "Patologia da solidão : o suicídio de bancários no contexto da nova organização do trabalho", de autoria do mestre em administração Marcelo Augusto Finazzi Santos, qualifica e quantifica os motivos que levam à degeneração das condições de saúde dos trabalhadores a ponto de darem fim às próprias vidas. No mesmo Repositório Institucional da UNB há outros trabalhos correlatos sob os tópicos SUICÍDIO, BANCÁRIOS e AMBIENTE DE TRABALHO, onde outros pesquisadores levantaram outros aspectos sobre a matéria. 

Jornada de trabalho de seis horas para o bancário, portanto, é lei e as autoridades deveriam ser mais rigorosas com o seu cumprimento para evitar essa tragédia que mata e solapa a saúde física e mental de milhares de trabalhadores, com repercussão em famílias, amigos, clientes de bancos, etc. No resumo da dissertação citada, a conclusão é contundente:

"...Os resultados evidenciaram que as violências e/ou fatores sociais vivenciados no trabalho, como o assédio moral, o isolamento social e o individualismo foram importantes elementos intervenientes na decisão dos pesquisados em idealizar e tentar o suicídio, enquanto o caso consumado decorreu, principalmente, do rompimento com o vínculo afetivo com a empresa. Em média, entre 1993 a 2005, pelo menos um bancário cometeu suicídio a cada 20 dias, estimando-se uma ocorrência diária de tentativa (não consumada) durante todo o período. A humanização das relações de trabalho é apontada como fator indispensável para diminuírem as violências no contexto laboral. "   

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

FHC : A farsa desmentida por ex-colega economista

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, numa tentativa de sair do ostracismo político a partir da popularidade de Lula, fez-lhe uma carta onde coloca-se como salvador da pátria injustiçado, e exalta as "maravilhas" do seu governo, às vésperas das eleições de 2010, onde Dilma e Serra eram candidatos. Por amor à verdade, o economista e cientista político Theotônio dos Santos, que também escreveu sobre a Teoria da Dependência, resolveu escrever uma carta aberta a FHC onde desmente alguns dos seus mitos ligados à eficiência do Plano Real. Muito interessante, vale a pena ler o texto abaixo, extraído do blog do autor. A seguir vai a carta de FHC a Lula. Esse debate merece ser passado adiante.
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http://theotoniodossantos.blogspot.com.br/2010/10/carta-aberta-fernando-henrique-cardoso.html

Carta aberta a Fernando Henrique Cardoso
Meu caro Fernando,
Vejo-me na obrigação de responder a carta aberta que você dirigiu ao Lula, em nome de uma velha polêmica que você e o José Serra iniciaram em 1978 contra o Rui Mauro Marini, eu, André Gunder Frank e Vânia Bambirra, rompendo com um esforço teórico comum que iniciamos no Chile na segunda metade dos nos 1960. A discussão agora não é entre os cientistas sociais e sim a partir de uma experiência política que reflete contudo este debate teórico. Esta carta assinada por você como ex-presidente é uma defesa muito frágil teórica e politicamente de sua gestão. Quem a lê não pode compreender porque você saiu do governo com 23% de aprovação enquanto Lula deixa o seu governo com 96% de aprovação. Já discutimos em várias oportunidades os mitos que se criaram em torno dos chamados êxitos do seu governo. Já no seu governo vários estudiosos discutimos, já no começo do seu governo, o inevitável caminho de seu fracasso junto à maioria da população. Pois as premissas teóricas em que baseava sua ação política eram profundamente equivocadas e contraditórias com os interesses da maioria da população. (Se os leitores têm interesse de conhecer o debate sobre estas bases teóricas lhe recomendo meu livro já esgotado: Teoria da Dependência: Balanço e Perspectivas, Editora Civilização Brasileira, Rio, 2000).
Contudo nesta oportunidade me cabe concentrar-me nos mitos criados em torno do seu governo, os quais você repete exaustivamente nesta carta aberta.
O primeiro mito é de que seu governo foi um êxito econômico a partir do fortalecimento do real e que o governo Lula estaria apoiado neste êxito alcançando assim resultados positivos que não quer compartir com você... Em primeiro lugar vamos desmitificar a afirmação de que foi o plano real que acabou com a inflação. Os dados mostram que até 1993 a economia mundial vivia uma hiperinflação na qual todas as economias apresentavam inflações superiores a 10%. A partir de 1994, TODAS AS ECONOMIAS DO MUNDO APRESENTARAM UMA QUEDA DA INFLAÇÃO PARA MENOS DE 10%. Claro que em cada pais apareceram os “gênios” locais que se apresentaram como os autores desta queda. Mas isto é falso: tratava-se de um movimento planetário. 
No caso brasileiro, a nossa inflação girou, durante todo seu governo, próxima dos 10% mais altos. TIVEMOS NO SEU GOVERNO UMA DAS MAIS ALTAS INFLAÇÕES DO MUNDO. E aqui chegamos no outro mito incrível. Segundo você e seus seguidores (e até setores de oposição ao seu governo que acreditam neste mito) sua política econômica assegurou a transformação do real numa moeda forte. Ora Fernando, sejamos cordatos: chamar uma moeda que começou em 1994 valendo 0,85 centavos por dólar e mantendo um valor falso até 1998, quando o próprio FMI exigia uma desvalorização de pelo menos uns 40% e o seu ministro da economia recusou-se a realizá-la “pelo menos até as eleições”, indicando assim a época em que esta desvalorização viria e quando os capitais estrangeiros deveriam sair do país antes de sua desvalorização, O fato é que quando você flexibilizou o cambio o real se desvalorizou chegando até a 4,00 reais por dólar. E não venha por a culpa da “ameaça petista” pois esta desvalorização ocorreu muito antes da “ameaça Lula”. ORA, UMA MOEDA QUE SE DESVALORIZA 4 VEZES EM 8 ANOS PODE SER CONSIDERADA UMA MOEDA FORTE? Em que manual de economia? Que economista respeitável sustenta esta tese?
Conclusões: O plano real não derrubou a inflação e sim uma deflação mundial que fez cair as inflações no mundo inteiro. A inflação brasileira continuou sendo uma das maiores do mundo durante o seu governo. O real foi uma moeda drasticamente debilitada. Isto é evidente: quando nossa inflação esteve acima da inflação mundial por vários anos, nossa moeda tinha que ser altamente desvalorizada. De maneira suicida ela foi mantida artificialmente com um alto valor que levou à crise brutal de 1999.
Segundo mito; Segundo você, o seu governo foi um exemplo de rigor fiscal. Meu Deus: um governo que elevou a dívida pública do Brasil de uns 60 bilhões de reais em 1994 para mais de 850 bilhões de dólares quando entregou o governo ao Lula, oito anos depois, é um exemplo de rigor fiscal? Gostaria de saber que economista poderia sustentar esta tese. Isto é um dos casos mais sérios de irresponsabilidade fiscal em toda a história da humanidade.
E não adianta atribuir este endividamento colossal aos chamados “esqueletos” das dívidas dos estados, como o fez seu ministro de economia burlando a boa fé daqueles que preferiam não enfrentar a triste realidade de seu governo. UM GOVERNO QUE CHEGOU A PAGAR 50% AO ANO DE JUROS POR SEUS TÍTULOS, PARA EM SEGUIDA DEPOSITAR OS INVESTIMENTOS VINDOS DO EXTERIOR EM MOEDA FORTE A JUROS NORMAIS DE 3 A 4%, NÃO PODE FUGIR DO FATO DE QUE CRIOU UMA DÍVIDA COLOSSAL SÓ PARA ATRAIR CAPITAIS DO EXTERIOR PARA COBRIR OS DÉFICITS COMERCIAIS COLOSSAIS GERADOS POR UMA MOEDA SOBREVALORIZADA QUE IMPEDIA A EXPORTAÇÃO, AGRAVADA AINDA MAIS PELOS JUROS ABSURDOS QUE PAGAVA PARA COBRIR O DÉFICIT QUE GERAVA. Este nível de irresponsabilidade cambial se transforma em irresponsabilidade fiscal que o povo brasileiro pagou sob a forma de uma queda da renda de cada brasileiro pobre. Nem falar da brutal concentração de renda que esta política agravou dráticamente neste pais da maior concentração de renda no mundo. VERGONHA FERNANDO. MUITA VERGONHA. Baixa a cabeça e entenda porque nem seus companheiros de partido querem se identifica com o seu governo...te obrigando a sair sozinho nesta tarefa insana.
Terceiro mito - Segundo você, o Brasil tinha dificuldade de pagar sua dívida externa por causa da ameaça de um caos econômico que se esperava do governo Lula. Fernando, não brinca com a compreensão das pessoas. Em 1999 o Brasil tinha chegado à drástica situação de ter perdido TODAS AS SUAS DIVISAS. Você teve que pedir ajuda ao seu amigo Clinton que colocou à sua disposição uns 20 bilhões de dólares do tesouro dos Estados Unidos e mais uns 25 BILHÕES DE DÓLARES DO FMI, Banco Mundial e BID. Tudo isto sem nenhuma garantia.
Esperava-se aumentar as exportações do pais para gerar divisas para pagar esta dívida. O fracasso do setor exportador brasileiro mesmo com a espetacular desvalorização do real não permitiu juntar nenhum recurso em dólar para pagar a dívida. Não tem nada a ver com a ameaça de Lula. A ameaça de Lula existiu exatamente em conseqüência deste fracasso colossal de sua política macro-econômica. Sua política externa submissa aos interesses norte-americanos, apesar de algumas declarações críticas, ligava nossas exportações a uma economia decadente e um mercado já copado. A recusa dos seus neoliberais de promover uma política industrial na qual o Estado apoiava e orientava nossas exportações. A loucura do endividamento interno colossal. A impossibilidade de realizar inversões públicas apesar dos enormes recursos obtidos com a venda de uns 100 bilhões de dólares de empresas brasileiras. Os juros mais altos do mundo que inviabilizava e ainda inviabiliza a competitividade de qualquer empresa. Enfim, UM FRACASSO ECONÔMICO ROTUNDO que se traduzia nos mais altos índices de risco do mundo, mesmo tratando-se de avaliadoras amigas. Uma dívida sem dinheiro para pagar... Fernando, o Lula não era ameaça de caos. Você era o caos. E o povo brasileiro correu tranquilamente o risco de eleger um torneiro mecânico e um partido de agitadores, segundo a avaliação de vocês, do que continuar a aventura econômica que você e seu partido criou para este pais. 
Gostaria de destacar a qualidade do seu governo em algum campo mas não posso fazê-lo nem no campo cultural para o qual foi chamado o nosso querido Francisco Weffort (neste então secretário geral do PT) e não criou um só museu, uma só campanha significativa. Que vergonha foi a comemoração dos 500 anos da “descoberta do Brasil”. E no plano educacional onde você não criou uma só universidade e entou em choque com a maioria dos professores universitários sucateados em seus salários e em seu prestígio profissional. Não Fernando, não posso reconhecer nada que não pudesse ser feito por um medíocre presidente.
Lamento muito o destino do Serra. Se ele não ganhar esta eleição vai ficar sem mandato, mas esta é a política. Vocês vão ter que revisar profundamente esta tentativa de encerrar a Era Vargas com a qual se identifica tão fortemente nosso povo. E terão que pensar que o capitalismo dependente que São Paulo construiu não é o que o povo brasileiro quer. E por mais que vocês tenham alcançado o domínio da imprensa brasileira, devido suas alianças internacionais e nacionais, está claro que isto não poderia assegurar ao PSDB um governo querido pelo nosso povo. Vocês vão ficar na nossa história com um episódio de reação contra o verdadeiro progresso que Dilma nos promete aprofundar. Ela nos disse que a luta contra a desigualdade é o verdadeiro fundamento de uma política progressista. E dessa política vocês estão fora. 
Apesar de tudo isto, me dá pena colocar em choque tão radical uma velha amizade. Apesar deste caminho tão equivocado, eu ainda gosto de vocês ( e tenho a melhor recordação de Ruth) mas quero vocês longe do poder no Brasil. Como a grande maioria do povo brasileiro. Poderemos bater um papo inocente em algum congresso internacional se é que vocês algum dia voltarão a freqüentar este mundo dos intelectuais afastados das lides do poder. 
Com a melhor disposição possível mas com amor à verdade, me despeço
Theotonio Dos Santos
thdossantos@terra.com.br, /theotoniodossantos.blogspot.com/

Theotonio Dos Santos é Professor Emérito da Universidade Federal Fluminense, Presidente da Cátedra da UNESCO e da Universidade das Nações Unidas sobre economia global e desenvolvimentos sustentável. Professor visitante nacional sênior da Universidade Federal do Rio de Janeiro. 
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Aos que não tiveram acesso à carta de Fernando Henrique segue abaixo seu conteúdo.
CARTA ABERTA DE FERNANDO HENRIQUE CARDOSO A LULA / PT
SEM MEDO DO PASSADO
Fernando Henrique Cardoso 
O presidente Lula passa por momentos de euforia que o levam a inventar inimigos e enunciar inverdades. Para ganhar sua guerra imaginária, distorce o ocorrido no governo do antecessor, autoglorifica-se na comparação e sugere que se a oposição ganhar será o caos. Por trás dessas bravatas está o personalismo e o fantasma da intolerância: só eu e os meus somos capazes de tanta glória. Houve quem dissesse “o Estado sou eu”. Lula dirá, o Brasil sou eu! Ecos de um autoritarismo mais chegado à direita.
Lamento que Lula se deixe contaminar por impulsos tão toscos e perigosos. Ele possui méritos de sobra para defender a candidatura que queira. Deu passos adiante no que fora plantado por seus antecessores. Para que, então, baixar o nível da política à dissimulação e à mentira?
A estratégia do petismo-lulista é simples: desconstruir o inimigo principal, o PSDB e FHC (muita honra para um pobre marquês…). Por que seríamos o inimigo principal? Porque podemos ganhar as eleições. Como desconstruir o inimigo? 
Negando o que de bom foi feito e apossando-se de tudo que dele herdaram como se deles sempre tivesse sido. Onde está a política mais consciente e benéfica para todos? No ralo. 
Na campanha haverá um mote – o governo do PSDB foi “neoliberal” – e dois alvos principais: a privatização das estatais e a suposta inação na área social. Os dados dizem outra coisa. Mas os dados, ora os dados… O que conta é repetir a versão conveniente. Há três semanas Lula disse que recebeu um governo estagnado, sem plano de desenvolvimento. Esqueceu-se da estabilidade da moeda, da lei de responsabilidade fiscal, da recuperação do BNDES, da modernização da Petrobras, que triplicou a produção depois do fim do monopólio e, premida pela competição e beneficiada pela flexibilidade, chegou à descoberta do pré-sal. 
Esqueceu-se do fortalecimento do Banco do Brasil, capitalizado com mais de R$ 6 bilhões e, junto com a Caixa Econômica, libertados da politicagem e recuperados para a execução de políticas de Estado. 
Esqueceu-se dos investimentos do programa Avança Brasil, que, com menos alarde e mais eficiência que o PAC, permitiu concluir um número maior de obras essenciais ao país. Esqueceu-se dos ganhos que a privatização do sistema Telebrás trouxe para o povo brasileiro, com a democratização do acesso à internet e aos celulares, do fato de que a Vale privatizada paga mais impostos ao governo do que este jamais recebeu em dividendos quando a empresa era estatal, de que a Embraer, hoje orgulho nacional, só pôde dar o salto que deu depois de privatizada, de que essas empresas continuam em mãos brasileiras, gerando empregos e desenvolvimento no país. 
Esqueceu-se de que o país pagou um custo alto por anos de “bravata” do PT e dele próprio. Esqueceu-se de sua responsabilidade e de seu partido pelo temor que tomou conta dos mercados em 2002, quando fomos obrigados a pedir socorro ao FMI – com aval de Lula, diga-se – para que houvesse um colchão de reservas no início do governo seguinte. Esqueceu-se de que foi esse temor que atiçou a inflação e levou seu governo a elevar o superávit primário e os juros às nuvens em 2003, para comprar a confiança dos mercados, mesmo que à custa de tudo que haviam pregado, ele e seu partido, nos anos anteriores. 
Os exemplos são inúmeros para desmontar o espantalho petista sobre o suposto “neoliberalismo” peessedebista. Alguns vêm do próprio campo petista. Vejam o que disse o atual presidente do partido, José Eduardo Dutra, ex-presidente da Petrobras, citado por Adriano Pires, no Brasil Econômico de 13/1/2010.
“Se eu voltar ao parlamento e tiver uma emenda propondo a situação anterior (monopólio), voto contra. Quando foi quebrado o monopólio, a Petrobras produzia 600 mil barris por dia e tinha 6 milhões de barris de reservas. Dez anos depois, produz 1,8 milhão por dia, tem reservas de 13 bilhões. Venceu a realidade, que muitas vezes é bem diferente da idealização que a gente faz dela”. (José Eduardo Dutra) 
O outro alvo da distorção petista refere-se à insensibilidade social de quem só se preocuparia com a economia. Os fatos são diferentes: com o Real, a população pobre diminuiu de 35% para 28% do total. A pobreza continuou caindo, com alguma oscilação, até atingir 18% em 2007, fruto do efeito acumulado de políticas sociais e econômicas, entre elas o aumento do salário mínimo. De 1995 a 2002, houve um aumento real de 47,4%; de 2003 a 2009, de 49,5%. O rendimento médio mensal dos trabalhadores, descontada a inflação, não cresceu espetacularmente no período, salvo entre 1993 e 1997, quando saltou de R$ 800 para aproximadamente R$ 1.200. Hoje se encontra abaixo do nível alcançado nos anos iniciais do Plano Real.
Por fim, os programas de transferência direta de renda (hoje Bolsa-Família), vendidos como uma exclusividade deste governo. Na verdade, eles começaram em um município (Campinas) e no Distrito Federal, estenderam-se para Estados (Goiás) e ganharam abrangência nacional em meu governo. O Bolsa-Escola atingiu cerca de 5 milhões de famílias, às quais o governo atual juntou outras 6 milhões, já com o nome de Bolsa-Família, englobando em uma só bolsa os programas anteriores. 
É mentira, portanto, dizer que o PSDB “não olhou para o social”. Não apenas olhou como fez e fez muito nessa área: o SUS saiu do papel à realidade; o programa da aids tornou-se referência mundial; viabilizamos os medicamentos genéricos, sem temor às multinacionais; as equipes de Saúde da Família, pouco mais de 300 em 1994, tornaram-se mais de 16 mil em 2002; o programa “Toda Criança na Escola” trouxe para o Ensino Fundamental quase 100% das crianças de sete a 14 anos. Foi também no governo do PSDB que se pôs em prática a política que assiste hoje a mais de 3 milhões de idosos e deficientes (em 1996, eram apenas 300 mil). 
Eleições não se ganham com o retrovisor. O eleitor vota em quem confia e lhe abre um horizonte de esperanças. Mas se o lulismo quiser comparar, sem mentir e sem descontextualizar, a briga é boa. Nada a temer.