terça-feira, 16 de agosto de 2011

Corrupção : A crise da vassoura

Quando a presidente Dilma deixou rolar o desgaste do PR no Ministério dos Transportes e saiu demitindo todos os envolvidos em casos de irregularidades, comprou uma briga que esgarça os limites da hipocrisia nacional, pois o combate à corrupção está longe de ser uma unanimidade no meio político e na sociedade.


O fato mais gritante dos últimos dias é que a base fisiologicamente aliada esboça uma rebelião pela postura da presidente, mas tudo que quer é a liberação dos recursos das emendas parlamentares, que tem uma parte já carimbada para pagar a empresas como a do recente escândalo do Ministério do Turismo e outras para irrigar os esquemas de obras arranjadas por empreiteiros com boas comissões para prefeitos e políticos federais.

Ontem os senadores Pedro Simon e Cristóvão Buarque, que se comportam como independentes, propuseram uma frente de apoio a Dilma na faxina da corrupção. Louvável, porém polêmico. O presidente do Senado, Romero Jucá, disse que não precisa de frente nenhuma de apoio, afinal, "todos os senadores são contra a corrupção" e alguns só querem saber de CPI.

Da banda da oposição, também não houve apoio, porque só querem saber de CPI não para apurar, mas para desestabilizar o governo. Se o DEM e o PSDB tivessem compromisso com a transparência, não fariam manobras e mais manobras para impedir investigações nos governo paulista, mineiro e na capital de São Paulo. Álvaro Dias, do PSDB-PR, acha que Dilma só tem discurso moralizante como manobra para impedir a CPI dos Transportes.

Da parte do PT também houve críticas, como a do senador José Pimentel, que enxerga na movimentação pela ética na política a reedição da campanha da campanha de faxina ética da década de 50, que culminou com o suicídio de Vargas e o golpe de 64. Defendeu Lula (que vem sendo colocado como permissivo com a corrupção em oposição à postura ética de Dilma) e disse que certos discursos são golpistas.

Da parte da grande mídia, que é estrategista acima dos partidos da direita, o importante é fortalecer Dilma no sentido de colocá-la numa camisa de força, limitando a sua ação e paralisando o governo. O método é criar a expectativa da faxina na sociedade, dizer que Dilma é comprometida com isso e os políticos em geral são todos corruptos, e que ela só tem uma alternativa: avançar na faxina, sem ligar para o estrago na base de apoio, que retaliará no Congresso na forma de rejeitar projetos de interesse do governo, permitir CPIs da oposição, chantagear em troca de mais espaços no poder, etc. Na hora que Dilma se recusar a investigar algo ou a demitir alguém, cairá em desgraça por causa dessa armadilha.

Dessa forma, restaria a Dilma a opção autoritária, passando por cima de tudo, e por isso mesmo seria combatida com mais vigor pelos aliados, engrossando a oposição para 2014. Numa manobra paralela, o combate a Lula é incessante, para que não apareça como opção nas próximas eleições, no caso do fracasso de Dilma. Não há interesse nobre nessa "cruzada ética" midiática.

Até a coluna de cartas de O Globo está cheia de opiniões favoráveis a Dilma, coisa inédita, que denota o interesse da mídia em promover essa criação de expectativas. Se o combate à corrupção voltar no tempo, os financiamentos públicos a grandes empresas de comunicação deveriam ser trazidos à luz, daí a hipocrisia desses arautos da moralidade.

Dilma não pode ter nas instituições desse sistema intrinsecamente corrupto o suporte para modificar a cultura política e econômica do Brasil. Teria que apostar no povo, na possibilidade de mobilização para pressionar o legislativo e o judiciário a tomar medidas que ultrapassem o fisiologismo e se constituam em avanços tanto nos patamares éticos como sociais.

Não sai reforma política se depender só dos políticos, assim como não teria saído o "impeachment" de Collor se o povo não tivesse ido às ruas pressionar o Congresso. Não se vai baixar os juros que alimentam banqueiros e boa parte da superestrutura do capitalismo brasileiro apenas por vontade do Banco Central. Tem que haver mobilização para isso também, e acabar com a mãe de todas as mamatas, que é o desvio de metade do orçamento federal para pagar rendas ao capital sem qualquer produção em troca.

Quando se fala em movimento organizado, também não se pode dar todo o crédito ao que temos "na praça", já que boa parte deles está dando trégua ao governo em troca dos "jabás" fisiológicos. Isso não é política, porque trai os interesses daqueles que acreditam que essas lideranças estejam defendendo seus interesses acima de tudo, em troca dos "cala-bocas". A sociedade precisa buscar novas formas de organização para defender uma plataforma de transformação social onde seja eliminada, no aprofundamento da democracia, a corrupção que azeita o sistema vigente. Precisamos substituir toda essa cara cadeia de intermediações por mecanismos de democracia direta, de empoderamento da sociedade.

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