Vendo a votação do tal acordo americano para elevar o teto da dívida, dois dados chamaram a atenção:
- A Câmara de Representantes, equivalente à nossa Câmara dos Deputados, tem 435 membros, eleitos de acordo com distritos eleitorais;
- O Senado tem 100 membros, dois por estado (lá são 50 estados).
A população norte-americana é de 309 milhões de habitantes. Como as câmaras geralmente representam a proporção das populações, lá, como aqui, há números diferentes de deputados para cada unidade federativa. Para eles, há um deputado federal para cada 710 mil habitantes, aproximadamente.
Se usássemos os mesmos critérios dos Estados Unidos, nossas representações cairiam de 81 para 54 senadores, e de 513 para 272 deputados federais. Bem menos gente para pagarmos os salários e condições de trabalho do mandato. Bem menos assessores, bem menos gabinetes custosos. Por que não? Se os Estados Unidos têm mais território, mais estados e são a principal potência mundial (ainda) na economia, no poder militar e se intitulam a nação mais democrática do mundo, por que temos bem mais representantes no Congresso? O mesmo se aplica aos legislativos estaduais e municipais.
Quanto a mordomias, os países mais sérios do mundo não dão nenhuma aos parlamentares e membros dos executivos. A idéia é que o representante continue sendo a mesma pessoa do povo que era antes de estar no poder. Paga-se o equivalente ao salário recebido, por exemplo, em Cuba, a cada um, mais um alojamento na capital, e passagens para ir às bases. Ninguém é obrigado a pagar para trabalhar, mas ninguém deve receber mais por ter sido eleito.
Tem um filme bem interessante sobre a Suécia, mostrando a quase total inexistência de mordomias. O político tem que se virar sem um séquito de servidores pagos pelos cidadãos para assessorá-lo. Não tem carro oficial, secretária, assessor disso ou daquilo. Até há algum tempo, ficavam hospedados nos próprios gabinetes, dormindo em sofás-camas. Agora ficam em quitinetes. O vídeo é repassado em e-mails com o adereço de "censurado no Brasil", dessas bobagens conspiratórias. Foi matéria produzida para algum canal de televisão daqui.
Em 2007 fui a Montevidéu, no Uruguai, e peguei uma van que fazia city-tour. Numa certa rua, a guia disse que não poderíamos fotografar, porque ali morava o presidente, em sua própria casa. Não havia nenhum aparato de segurança visível. Quando passamos em frente à casa, a moça falou : aquele homem ali botando o lixo para fora é o presidente!
Por que aqui a gente paga cada vez mais a políticos cada vez mais autônomos, que aumentam os próprios salários e criam o próprio cardápio de mordomias? Isso é representação, ou locupletação dos mandatos concedidos pelo povo? Quem deveria fiscalizar isso, e dar um basta aos excessos é o eleitor, mas não se consegue muita coisa porque os mandados são balcões de negócios de onde saem recursos que colocam os eleitos em vantagem para as eleições seguintes, e as coisas não mudam. Esperar que eles mudem isso é ilusão.
Em vez de simplesmente ficar reclamando, falta a gente botar a mão na massa e construir um movimento contra as mordomias de políticos. Eleito é para trabalhar para nós, não o contrário.
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