sábado, 6 de agosto de 2011

O Globo : Bobagens contra o Minha Casa, Minha Vida

No afã de destruir o programa Minha Casa, Minha Vida, que é uma idéia bem sucedida da presidente Dilma, qualquer coisa que se diga contra as construções de habitações viram um estardalhaço em algumas mídias. É certo que em alguns casos a irresponsabilidade de construtores cria problemas estruturais ou estéticos, por falta de bons projetos e boa execução, mas há coisas que a gente não pode deixar de comentar, como uma matéria publicada no site de O Globo hoje:


Residencial entregue por Dilma na Bahia usa tecnologia de alvenaria que impede reformas, pois haveria risco de desabamento

JUAZEIRO (BA) - Os primeiros moradores do Residencial São Francisco, conjunto habitacional do "Minha Casa Minha Vida" inaugurado nesta sexta-feira pela presidente Dilma Rousseff em Juazeiro (BA), encontraram na entrada de cada bloco de prédios uma placa advertindo para que não façam reformas, sob risco de "danos à solidez". É que os prédios foram construídos com a tecnologia "alvenaria estrutural", que os levou a serem conhecidos no Nordeste como "prédios-caixão" - sem pilotis e com alicerces em alvenaria, mas de estabilidade discutível.

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/pais/mat/2011/08/05/residencial-entregue-por-dilma-na-bahia-usa-tecnologia-de-alvenaria-que-impede-reformas-pois-haveria-risco-de-desabamento-925076257.asp#ixzz1UGgljrH3
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A construção em alvenaria estrutural é usada no mundo há milênios. O concreto armado veio do século XIX, e assim, boa parte do velho mundo hoje está assentada em prédios de vários andares feitos apenas com tijolos ou pedras, com sistemas de amarração desenvolvidos ao longo de séculos. Grandes pontes e catedrais, milenares, estão lá até hoje, com seus arcos e pedras, obras-primas dos mestres da cantaria. A Europa do pós-guerra foi reconstruída praticamente em alvenaria estrutural.

No Brasil, temos um prédio considerado na época o maior arranha-céus do mundo: O Hotel Excelsior, em Fortaleza, com oito andares. Até hoje o prédio está lá, majestoso, firme e forte na Praça do Ferreira. O problema, ao contrário da matéria de O Globo, não é a técnica, mas os erros que se cometem na execução.

Estabilidade discutível ? Se é assim, não entro mais em nenhum prédio histórico, com mais de 200 anos. Apesar dessa bobagem que demonstra desconhecimento do autor no assunto, a matéria toca num ponto que é vital para quem habita: a impossibilidade de fazer modificações em paredes. É bom falarmos sobre isso, porque os leigos acham que as estruturas aguentam qualquer coisa.

Prédio-caixão, sem pilotis, com apartamentos no térreo, é errado? Também não. Se o programa visa o barateamento da construção para torná-la acessível a pessoas de mais baixa renda, reduzindo a favelização, o projeto é aceitável. Permite que as alvenarias emerjam diretamente das fundações, sem necessitar de concentração de cargas em fundações mais caras, como sapatas e estacas, e com uma laje a menos. Se for bem feita, com fundações diretas adequadas e isolamento da laje de piso com impermeabilizantes, não haverá maiores problemas como fissuramento ou infiltrações por capilaridade.

A reportagem fala dos avisos em destaque alertando para os moradores não fazerem modificações. Está correta a construtura porque procura evitar problemas estruturais futuros. Responde pela solidez estrutural por 20 anos, pela lei. Quem compra tem que saber da limitação, que também tem que constar na convenção de condomínio. Isso não quer dizer que a obra pronta apresente fragilidades. Elas virão de duas fontes: de falhas no projeto/execução, e de modificações posteriores.

Nos prédios de concreto armado, até pelos vãos maiores e pela existência de pilares e vigas expostos, as pessoas respeitam mais antes de pensar em demolir uma dessas peças. Deveriam ter, em lugares públicos do condomínio, avisos quanto á capacidade de suporte das lajes, normalmente de 100kg/m² em pavimentos residenciais (em prédios mais antigos, e 150 kg/m² em prédios mais novos, de acordo com a norma mais recente), para salas, cozinhas, banheiros e dormitórios. As lajes de cobertura têm menos resistência às sobrecargas, nos prédios regularmente construídos, pois não têm funcão de receber cargas além do peso de telhados.

Aí é que mora o perigo: vai o técnico da TV a cabo, mete a broca de vídia sem piedade em pilares e vigas para passar o fio, e tudo bem. Depois, vai o "técnico" de informática e quebra o pilar e expõe a ferragem para fazer um aterramento para o computador. Aí vem o decorador e mete um lustre pesado no meio da sala, ancorado no teto. Na reforma, quebra-se todos os pisos e acomoda-se uma pilha de 2m de entulho no meio da laje da sala, no maior vão. Na reforma do banheiro, rasga-se uma viga para acomodar uma tubulação de 100mm vinda do novo local do vaso sanitário.

E tome rasgo em laje para acomodar ralos. E tirar paredes em prédios de estrutura mista, com função estrutural. E corte em vigotas de lajes pré-moldadas. E furos em laje atingindo cabeações de lajes protendidas. E passar caminhonetes de mais de uma tonelada em rampas e lajes de prédios antigos, projetadas para carros de menor sobrecarga. E guardar todo o mármore que chegou para trocar o piso da casa empilhado até o teto no meio da sala. E o cofre de uma tonelada andando pelo elevador, corredores e pela casa toda. Como toque final, na laje de coberta, uma piscina plástica de 6.000 litros em cima do piso, ou um deck com piscina em fibra de mesma capacidade ou maior.

Aí vêm os "entendidos", que bradam aos ventos: se em favela o povo faz um andar em cima do outro na maior tosqueza, e não cai, por que num prédio de bacanas haveria de cair? Para começar, caem edificações em favelas e prédios de classe média também. Nem tudo consegue resistir à Lei da Gravidade. Nas favelas, há pessoas que, prevendo a construção de andares nas lajes, colocam concreto e aço demais nas peças estruturais, conseguindo empiricamente uma maior resistência.

Aço e concreto demais, de forma errada, podem também fazer ruir as construções, e esse excesso não garante maior estabilidade. Basta não combater as tensões corretamente. Além disso, há a fundação, que precisa aguentar o todo, e nem sempre é considerada importante pelos leigos nas construções. E tome rachadura...

É por essas e outras que se diz que o concreto armado é o melhor amigo do homem. As construções mais antigas até resistem, porque as normas eram bem mais conservadoras em termos de fatores de segurança, que aumentavam muito as cargas e sobrecargas no cálculo, exigindo estruturas mais robustas. Mesmo assim racham, o aço entra em deformação e pode haver rupturas. Ao contrário dos prédios em alvenaria estrutural, geralmente há algum abalo ou rachadura que avisa o desastre iminente, mediante sobrecargas. Mas nem sempre.

O fato é que toda construção tem limites para alterações, e para fazê-las é indispensável a consulta a um profissional de engenharia ou arquitetura com capacitação no assunto. E o devido projeto de modificação com anotação de responsabilidade técnica no CREA.

3 comentários:

  1. Tem razão o Branquinho. Constroi-se assim há seculos. Tanto que na Roma antiga os predios costumavam ruir matando centenas de pessoas.
    Que tal pedir parâmetros melhores para os nossos pobres?
    Ou eles não merecem Branquinho?

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  2. Isso, os pobres não podem ter TV a cabo, nem nunca mexer no imóvel. Além disso, os moradores do MCMV são todos engenheiros formados e sabem dos riscos de uma construção deste tipo.

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    1. Nem pobre nem ninguém que tenha um imóvel em alvenaria estrutural pode sair removendo paredes, abrindo vãos, etc. Não precisa alguém ser engenheiro para saber que existe um risco em cada ação contra uma construção. Passar uma tubulação, na maioria dos casos, não impõe riscos ao imóvel.

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