segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Greve : Do mundo virtual à luta real

Brasília - 17/09/12 - Assembléia dos bancários que deflagrou greve geral da categoria
Entre os sindicalistas mais antigos sempre houve desconfiança em relação às novas gerações, pela ideologia do individualismo, do sucesso pessoal, em relação às lutas coletivas e à solidariedade de uma classe explorada na sua luta contra a exploradora. Essas coisas pareciam perdidas no passado, propriedade de um bando de dinossauros que combateu a ditadura que os novos não sabem que existiu. Que lutou por direitos que estão aí, usufruídos por todos, sem saber de onde vieram como hoje uma criança cosmopolita não sabe de onde vem a comida que come (acha que nasceu no supermercado).

Os métodos de disputa por hegemonia entre os sindicatos e os patrões mudaram de forma assimétrica. As empresas apelam para os meios eletrônicos instantâneos para vender suas idéias e conquistar a simpatia entre os que explora. Já os sindicatos demoram muito a entender que não basta mais colocar um carro de som e fazer barulho na porta da empresa, porque isso não atinge mais as pessoas que estão dentro. Pior: os patrões conseguem "vender" aos funcionários que eles são a modernidade, e os sindicatos são o anacronismo, por não prometerem o paraíso através de cada vez mais trabalho, mais metas e que os mais capacitados vencerão e ficarão ricos.

Desde o advento das redes sociais várias tentativas foram feitas para levar as pessoas à luta. Presenciei em Brasília o #ForaSarney, e minhas observações estão neste link. Simplesmente as pessoas não conseguiram traduzir em luta real aquilo que propunham pela internet. Por que fracassou? Faltou discussão, ganhar as pessoas, explicar para que fazer aquilo, e que a demonstração no mundo real poderia alterar as coisas. Está faltando aos novos indignados a história das lutas que os antecederam, para a partir do link da história saberem os nexos causais entre as coisas do mundo que muda em tempo real.

Acabo de chegar da assembléia dos bancários de Brasília. Pela primeira vez acompanhei a discussão por redes sociais que redundaram em ações reais, fomentando a luta, traduzindo para a linguagem das novas gerações as grandes lutas que precisam ser feitas. No Banco do Brasil, por exemplo, há o esculachante desrespeito à jornada legal dos bancários , que é de 6 horas. Nem sindicatos, nem delegacias do trabalho, nem o Ministério Público do Trabalho tentam ou conseguem fazer o BB pagar o que sonega aos seus funcionários. E fica por isso mesmo. Na última negociação, com arrogância, disseram que não vão negociar as horas-extras que não pagam. Fim de papo!

Esqueceram de avisar aos funcionários, que articulados por redes sociais foram à assembléia levantar a obrigatoriedade do cumprimento da lei. A partir do conhecimento do problema, das origens da jornada especial de seis horas pelos problemas de saúde que o estresse bancário acarreta, e da incapacidade de sindicatos e fiscalização do trabalho de fazerem cumprir a lei, foram à luta, fizeram os cartazes e deram o recado : lei é para ser cumprida, não para ser negociada. Parabéns a todos pela iniciativa. Pode ter sido um marco histórico na relação entre o mundo virtual e a luta real.


2 comentários:

  1. VERGONHOSA E NOJENTA A POSIÇÃO DO BANCO DO BRASIL. FALTA RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL. DEFINITIVAMENTE NÃO É "BOMPRATODOS".

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  2. Acho que vc tá sendo injusto com o sindicato dos bancários de Brasília, o único a fazer,de fato, a luta pela jornada de 6 horas. Inclusive pelos meios judiciais.

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