segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Brasil : Eu, Ele, Nós e a prosperidade

No Facebook a elite se desnuda, e alguns padrões parecem convergir para três categorias quando o assunto é demonstrar prosperidade, essencial ao exibicionismo:
- a turma do EU : pensam que o individualismo é a chave do sucesso, que conquistaram tudo por mérito e não têm que dividir nada com ninguém.
- a turma do ELE : pensam que um deus deu tudo, ou foram ungidos, ou um emissário divino lhes abriu o caminho para o sucesso, e mais ninguém.
- a turma do NÓS : pensam que as conquistas são coletivas e que o sucesso pessoal vem de apoios que tiveram de instituições ou governo que botaram as escadas para que daí subissem.

A turma do EU é fácil de ser identificada, porque desce às raias do ridículo ao defenderem seus pontos de vista egóticos. Rechaçam qualquer solidariedade. Malthusianos e meritocratas, acham que todos poderiam chegar ao topo da riqueza e poder se trabalhassem duro, e quem não conseguir isso naturalmente deveria apodrecer e morrer. São contra programas de inclusão social. São contra impostos para não pagarem a conta da redução de desigualdades. São contra cotas de todo tipo. Não querem dividir espaços em aviões, restaurantes, festas, hotéis e outros lugares que consideram privativos das pessoas de "sucesso".

A turma do ELE é mais discreta, mas mesmo sendo evidente a correlação entre ascensão social dos últimos 10 anos e políticas públicas e sociais, atribuem a prosperidade à divindade. Não costumam comprar muitas brigas, e postam mais mensagens humanistas, e por essa vertente às vezes contribuem com a turma do NÓS para divergir da turma do EU. Para eles não existem Bolsa Familia, Prouni, ENEM, Mais Médicos, valorização salarial, crédito mais barato, Minha Casa, Minha Vida, enfim, tudo foi ELE que fez.

A turma do NÓS não é monolítica. Pelo contrário, o NÓS chega às raias do "Poucos". Unem-se para atacar a turma do EU taticamente, embora uma parte se una a eles para combater o NÓS governista com as figurinhas geralmente sensacionalistas e mentirosas compartilhadas mais comentários arrasa-quarteirão. Nem quando se trata de avanços que poderiam ser celebrados por todos. Tendem ao "pequeno-mundismo", ou seja, brigar por vírgulas e pontos ao defender assuntos restritos. Uns acham que os programas sociais criam oportunidades em meio à lógica da exclusão. Outros acham que só uma revolução mudaria as coisas, e todo o resto é empulhação.

E assim parece se estruturar o jogo do Facebook. Logo vai ter gente migrando para outra rede social, porque, segundo a turma do EU, está se "orkutizando", ou seja, tem muito pobre falando coisas que os horrorizam. 

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