domingo, 7 de dezembro de 2014

Intervenção Militar : 50 anos depois a direita não aprendeu a lição

 A foto a cores da manifestação de ontem em São Paulo pedindo intervenção militar tem elementos que merecem ser analisados à luz da história, recuando 50 anos. A moça tem um cartaz onde se pede intervenção, "faxina" e devolução do poder aos civis em 90 dias. No contexto, alimentando os gatos-pingados que vão às ruas pedir a volta dos militares, a extrema-direita anti-cubana, escândalos na Petrobrás e a mídia alimentando o ódio ao governo legitimamente eleito e focado na melhoria das condições de vida do povo.

Em 1964 era muito parecido com o que hoje os golpistas fazem. A UDN era o partido de Carlos Lacerda, governador da Guanabara, que assim como o ex-presidente Juscelino Kubistchek, Ademar de Barros, governador de São Paulo, e Magalhães Pinto, governador de Minas, desconfiava que se Jango terminasse seu mandato e fizesse as reformas de base seria reeleito em 1965. Isso foi mostrado por pesquisas do IBOPE recentemente divulgadas. A forma de evitar a derrota eleitoral seria derrubar o governo, botar os seus correligionários na ilegalidade e fazer uma eleição só entre candidatos da direita.

Dias antes do golpe Castelo Branco era contra a onda dos coxinhas
JK, Pinto, Lacerda e até o avô de Aécio, Tancredo Neves, embarcaram na onda do golpe fazendo uma campanha moralista e anticomunista. Nos bastidores atiçavam os militares para depor Jango, e assim o fizeram em 1o de abril de 1964, articulados com o Congresso, que na madrugada declararam vago o cargo da presidência mesmo com Jango em território nacional. Ranieri Mazzili, presidente do congresso, passou a ser o novo presidente. Até aí os civis estavam, aparentemente, no comando da situação.

Do lado militar o então Chefe do Estado-Maior do Exército, General Humberto Castelo Branco,  dias antes do golpe, 2em 20 de março de 1964, sentindo a pressão pela tomada do poder  pelos militares em apoio ao discurso coxinha, publicou uma circular dizendo que "as forças armadas são para defender a lei, não a baderna". No documento há uma frase interessantíssima, que diz: "AS FORÇAS ARMADAS NÃO PODEM ATRAIÇOAR O BRASIL. DEFENDER PRIVILÉGIOS DE CLASSES RICAS ESTÁ NA MESMA LINHA ANTIDEMOCRÁTICA DE SERVIR A DITADURAS FASCISTAS OU SINDICO-COMUNISTAS". Destaquei a frase para mostrar que alguns militares não queriam uma república do que hoje chamamos de "coxinhas".

Mesmo assim a UDN, partidos de hipócritas como tantos que hoje vemos com rabo preso fazendo discursos de moralidade, apostava em facilitar a vida do seu candidato na eleição futura influindo na escolha de um chefe militar aliado que pusesse na cadeia seus adversários. Nesse embalo foram os que defendiam que os militares deveriam ficar mais tempo já que a "operação limpeza vai longe", como estampava um jornal nos primeiros dias do golpe.

Os radicais militares exigiram um militar presidente pós-Mazzili. A UDN, que a princípio foi na onda, começou a sentir que perdia o controle da situação. Os mandatos começaram a ser cassados pelos militares, gente era destituída dos cargos a partir de delações de desafetos que os acusavam de "comunistas". Juscelino, que era muito inteligente, sentiu o clima e pediu "anticomunismo sem excessos". A própria UDN em seguida se colocou contra a cassação de mandatos.

Nas fileiras militares havia golpes dentro do golpe. O general Mourão, que começou a marcha para derrubar Jango, aboletou-se na presidência da Petrobrás dizendo que iria fazer uma faxina anticomunista e que ali era um antro de corruptos. Simplesmente queria tomar conta da empresa. Felizmente depois não foi confirmado no cargo, mas sua atitude ilustrar como era fácil pegar nacos do governo como feudos a partir de falsas denúncias e de poder armado.

Moral da estória: quem pediu a intervenção militar acreditando na volta do poder aos civis num curto espaço de tempo acabou vendo uma ditadura se instalar sem data para terminar. A princípio era para fazer a "faxina", completar o mandato de Jango e fazer eleições em 1965. Depois o mandato de Castelo Branco foi esticado até 1966 e 1967. Lacerda e Ademar de Barros tiveram os direito políticos cassados. Castelo Branco, que era visto como liderança militar mais "política" e "democrática", deixou o poder em 1967 e em seguida foi morto num suspeito acidente aéreo. E ficamos por toda uma geração pagando pela estupidez de quem foi às ruas em 1964 pedindo "intervenção militar", "limpeza" e "volta do poder aos civis".













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