quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Dilma : Mãe de aluguel de filho do capital?

O núcleo duro do capital sai das sombras para ditar novas regras ao Brasil
No final da semana passada alinharam-se fatos políticos que ainda não estão bem compreendidos porque a cada dia temos um pedaço de surpresas envolvendo o embate político entre governo e oposição. Concretamente há uma guerra declarada pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, à presidente Dilma, que aponta para alguma forma de impeachment no tapetão que poderia trazer sérios conflitos sociais e mesmo guerra civil, paralisando o país e destroçando a economia com fuga de capitais, fim da atração de investimentos, desvalorização da moeda, agravamento da inflação e desemprego, etc.

Além disso Cunha foi acusado por delação premiada na operação Lava Jato de ter recebido propina de empreiteira, o que elevou o tom do seu achaque a Dilma, querendo que ela o livre disso ou terá o pior dos infernos. Como se Dilma tivesse algum poder para isso, já que Vaccari e Dirceu encontram-se presos nas masmorras do Dr. Moro. Aliado ao setor mais raivoso do PSDB, que tem Aécio Neves como expoente, uniu bancadas para passar o trator no governo em questões que podem aumentar gastos públicos e inviabilizar o ajuste fiscal para desgastar a presidente com vetos sobre reajustes salariais, etc.

O uso do Legislativo como instrumento de poder pessoal e de vingança alertou o cerne do capital, que não vê Dilma caindo sem um grande estrago. Como ela mesma disse, não é Jango para sair sem lutar, nem Getúlio para se matar. E que verga mas não quebra. Ao seu lado há setores da sociedade que, mesmo sem apoiar seu governo, se oporão a qualquer ruptura institucional como um impeachment eivado de falsas provas de algum delito. E os movimento sociais, como o MST, sindicatos e outros que podem fazer de junho de 2013 uma referência tranquila perto do que seria uma resistência ao golpe. Além disso há a predisposição dos fascistas em aproveitar o caos para espalhar terror promovendo chacinas de oponentes políticos em caso de instabilidade.

Diante de tudo isso o "hardcore" do capital, as pessoas que representam o poder de fato, acima das instituições democráticas do estado de direito, resolveram intervir para acabar com isso. Se antes apoiavam um golpe em estilo paraguaio, sem reações, acreditando na mentira dos 7% de apoio a Dilma que espalharam nas suas mídias, agora enxergam que o "timing" foi perdido. O golpe era para ter sido desfechado em abril, com manifestações de rua da direita e praticamente nenhuma reação da esquerda, perdida em críticas do governo que ameaçava direitos trabalhistas. A rejeição ao governo diante dos reajustes dos combustíveis e energia era grande, potencializada pela mídia bandida.

Eis que Cunha começou a tumultuar o ambiente político com tentativas de achaque, seguido do PMDB e do PSDB, e colocar em pauta assuntos polêmicos como a liberação da terceirização, redução da maioridade penal e financiamento público de campanhas, onde desprezou regimentos e votou de novo matérias que haviam sido rejeitadas, enfim, fez uma grande lambança.

O PSDB, que a princípio estava firme no propósito do impeachment com novas eleições, bateu de frente com a ambição de Cunha de ser candidato a primeiro-ministro parlamentarista ou entregar o governo ao PMDB via Temer, contrariando os tucanos.

Apesar dessas diferenças prejudicarem o ambiente político para o golpe, o PSDB de Aécio chutou às favas os escrúpulos e passou a se aliar a Cunha até em matérias onde deveria se opor, a serviço do capital que o sustenta e quer um estado mínimo com menos impostos. Nesse movimento lideranças como Alckmin e Serra frearam, olhando para 2018 onde avaliam ganhar a eleição com Dilma e o PT completamente desgastados.

Enquanto Cunha e Aécio se desgastavam, Lula surgiu em cena e começou a organizar, através de sua pré-candidatura para 2018, diversos setores descontentes com Dilma para resistir ao golpe e garantir as próximas eleições. Lula goza de preferência de mais de 50% do eleitorado, mesmo sendo atacado diuturnamente e ameaçado de prisão pelo circo do Dr. Moro por... sei lá, qualquer coisa que gere sua imagem algemado num camburão para divulgação na mídia.

 Enquanto as manifestações dos fascistas faliam diante de baixarias expostas e propostas como "intervenção militar" que assustam, do lado dos movimentos sociais houve crescimento, inclusive no sentido de resistir ao golpe. Enquanto os coxinhas preparam mais um ato vergonhoso de riquinhos fazendo besteiras e espalhando ódio no dia 16, centrais sindicais e outros movimentos preparam um grande ato para o dia 20 contra as medidas antissociais de Dilma e contra o golpe. A Marcha das Margaridas hoje levou a Brasília cerca de 70 mil mulheres do campo que receberam amistosamente Dilma e Lula. Isso corrobora a preocupação do capital com a perda de controle sobre o país em caso de conflito.

Com Cunha fora de controle e Aécio ensandecido a ponto de convocar a marcha da direita do dia 16 no programa eleitoral do PSDB e avaliando que Dilma resistirá até o fim e nisso o país marchará para o caos e a violência, os senhores do capital resolveram retirar o apoio ao golpe e pactuar com Dilma alguns pontos programáticos de seu interesse para que não seja necessário retirá-la do cargo. Dilma seria mãe de aluguel de uma criança do capital, é a proposta. Assim manteria baixa sua aceitação, prejudicando o PT e Lula com medidas antissociais, o Brasil manteria perante o mundo uma aparência de normalidade democrática e os investidores não fugiriam. Com medidas que passem para os mais pobres a conta do ajuste econômico e aumente os lucros garantidas pelo governo Dilma o capital teria um enorme ganho. Pior: passando para Dilma a tarefa de manter os movimentos sociais sob controle.

Eis que a FIESP e a FIRJAN lançam notas criticando as medidas do Congresso para aumentar gastos e demonstram apoio a Dilma. Os 27 governadores reunidos, inclusive os do PSDB, mostraram-se dispostos a trabalhar com Dilma. Aí veio a parte mais visível da guinada: a Globo e demais meios de comunicação da Mídia Bandida tiveram que esquecer o passado para se adaptarem à nova tática dos capitalistas. Parece coisa do livro "1984" de George Orwell, onde o estado a todo momento mudava de inimigo e sua mídia mudava tudo, inclusive a história passada.

A peça final da manobra veio pelas mãos do presidente do Senado,  Renan Calheiros, que deu declarações públicas de fidelidade a Dilma e se comprometeu a não dar andamento a medidas que desinteressem ao capital. Das suas mãos surgiu um conjunto de propostas, a "Agenda Brasil" para "acelerar o desenvolvimento" no pós-ajuste fiscal, que flexibilizam privatizações, barreiras ambientais, direitos sociais, etc. A ponto de propor que as consultas do INSS sejam pagas conforme a renda, liquidando o SUS. Como compensação o governo Dilma teria "governabilidade" sem o massacre midiático e manteria algumas conquistas sociais.

A pressão de mídia agora é para que Dilma encampe esse programa alheio confrontando os movimentos sociais. E para Cunha e o PSDB se enquadrarem ao "pacto". Cunha já descartou isso, enquanto Aécio já deixa dúvida sobre sua participação no ato do dia 16. A Força Sindical, braço do capital, também recuou de participar do ato.

O capital não ponderou que adiou uma crise grave com impeachment fora de hora para criar tensões que poderão ser muito maiores à medida que o programa de Renan for posto em prática. Sem o impeachment e com Dilma blindada pela mídia sua imagem melhorará, já que os efeitos do ajuste fiscal sobre a inflação aliados à redução do custo da energia com a inauguração de grandes hidrelétricas traz a perspectiva de melhora do cenário econômico. Além do mais o capital errou na mão apostando no golpe e suas pesquisas deram míseros 7% de aceitação a ela, ou seja, não tem mais para onde cair e a tendência será de subir, o que deverá ser lido como melhora do seu governo, o que não é bom para quem quer chegar a 2018 botando a faixa presidencial sem esforço no seu candidato. Vamos ver como as coisas se desenrolam.

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