quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Nem Jesus salva Cunha

Oposição e mídia fazem de conta que querem a cabeça de Cunha
Há que se distinguir entre a realidade pós-denúncia de Cunha e o desejo da mídia e da oposição de pautarem sua sobrevida. Em primeiro lugar tentam criar a idéia de que é possível, por acordo político, desfazer o flagrante de corrupção recheado de provas irrefutáveis que pesa sobre Cunha e sua esposa. O assunto está nas mãos do Ministério Público e na boca do povo, mesmo com a poderosa blindagem de mídia.



Esposa de Cunha é o ideal das paneleiras
Todo mundo "viu" a esposa de Cunha com a boca na botija, usando o dinheiro das contas na Suíça para irrigar cartões de crédito com os quais se gastou em futilidades. Nem a oposição, que se articulou com Cunha e o TCU para preparar um rito pelo impeachment, conseguiu escapar à obrigação de simular um "afastamento" em relação a dele. Aparentemente os seus ratos aliados abandonaram o navio.

Em uma semana Cunha foi do paraíso do poder ao purgatório, flagrado como ladrão e perdendo o poder de achacar Dilma por conta das decisões do STF que postergaram qualquer análise do "parecer" do TCU que, mesmo sem condições legais de tirar Dilma do Planalto, era a única forma de dar um golpe do tipo paraguaio, com cara de "legítimo".

A esmagadora maioria dos que pediram a cabeça de Cunha é do PT
No recente acordo do PT com o PMDB houve negócios e negócios que resultaram em mais ministérios para o Partido Mercenário Do Brasil. Entre eles poderia estar a blindagem de Cunha em troca da sua fidelidade ao governo, que ficou com a cara do PMDB e ideologicamente à direita. Cunha não se enquadrou e continuou preparando o golpe a ponto de quase conseguir abrir o processo de impeachment, o que foi abortado aos 47 do segundo tempo pelo STF. 

Se o PT teve alguma ingerência em tudo isso, já que o paspalho ministro da Justiça não manda nada na PF (e chama isso de "republicano" enquanto leva bola nas costas o tempo todo) e o governo não manda nada na Procuradoria Geral da República, foi praticamente nenhuma. Cunha foi denunciado porque a justiça na Suíça o dedurou, e aí não tem jeito: ou as autoridades brasileiras apuram ou se desmoralizam. Cunha deixou de fazer uma viagem ao exterior com medo da Interpol pegá-lo a mando da justiça suíça, como aconteceu com José Maria Marín, da CBF. 

Voltando ao que diz a mídia, Dilma teria pedido a Lula para procurar o PSDB para fazer um acordo para salvar Cunha, envolvendo o fim das ameaças de impeachment e outras sandices. Ou seja, usando dos seus superpoderes sobre a justiça suíça e a brasileira, tudo que foi dito contra Cunha seria refutado e Dilma governaria como se nada tivesse acontecido mantendo a cobra venenosa junto a ela. 

Agora tratando de realidade, e não mais de pauta de mídia para trouxas, é fato que Cunha virou um morto-vivo político que talvez nem resista até o Halloween. Sem ninguém botando a mão no fogo e até seus aliados mantendo sanitária distância, seu destino é ser crucificado. Não como Cristo, mas como o ladrão ao lado dele. Como se salvar? Prometendo a Dilma ser bonzinho, votar só no que ela mandar, abrir seu saco de maldades e achaques para entregar os crimes da oposição dos quais parece ter ciência? E Dilma, o que faria? Mandaria o Janot suspender tudo? Mandaria a PF parar de investigar como se o caso fosse um mero helicóptero de 450 kg de cocaína? 

O discurso de Dilma no XII Congresso da CUT feito na noite do desmanche da tentativa do golpe foi de virada. Falou em golpe e que resistirá (como se não estivesse fazendo o tempo todo isso) a ele, em defesa do voto popular que a elegeu há quase um ano. Disse que os que tentam o golpe não têm reputação ilibada para atentar contra a sua honra. Foi um verdadeiro discurso de posse, encerrando o episódio do golpe. Selou qualquer acordo para salvar Cunha.

E metade do PT assinando a proposta do PSOL para a Comissão de Ética da Câmara investigar Cunha? Uma verdadeira rebelião, dado que o PC do B, geralmente mais centralizado nos acordos, não ousou colocar nenhum de seus parlamentares contra Cunha, assim como o PSDB, DEM, Solidariedade e PPS e a grande maioria do PSB.
Santa Ceia de Cunha somente com os judas do Brasil

Dilma até aqui é vitoriosa. Nada que desabone sua honestidade pessoal. O caso das "pedaladas" não tira seu mandato. Seu governo se firma como aquele que mais combateu a corrupção em toda a história. Aguentou firme toda humilhação, como no tempo da tortura. E começa a dar a volta por cima. Coisa para desesperar madames que batiam panelas xingando-a, até porque a mulher de Cunha é a cara delas. Perderam qualquer resquício de moral para falar de Dilma.

O discurso de Lula fechou a porta para qualquer tentativa de resgate a Cunha. Também rechaçou o golpismo que tem com Cunha seu vetor principal.

O episódio Cunha não terminará por aqui. Ele continuará presidente da Câmara por mais alguns dias e não renunciará. Sem o poder de ameaçar Dilma ela se fortalece e pode falar mais grosso com o PMDB. A persistência de Cunha agora é positiva para o governo porque desnuda a mídia e a oposição como quadrilha igualmente capaz de roubar, lavar dinheiro  e ter depósitos fora. 

Até o poderoso juiz Moro vai ter que se mexer com o passar do tempo, pois sua omissão diante de tamanho descalabro de um ladrão de dinheiro da Petrobrás comprometerá mais ainda o seu circense Tribunal da Inquisição dirigido politicamente pela direita. Ou intima Cunha e sua esposa e os prende ou será cúmplice. Por muito menos prendeu equivocadamente a cunhada de Vaccari. 

Jesus não daria procuração a eles para salvar Cunha
Nem Jesus salva Cunha. Nem sua bancada do atraso, os obscuros fundamentalistas que faturam em nome de Cristo,o baixo clero do congresso, que domina ao absorver propostas de atraso político e de direitos sociais ao mesmo tempo que achaca com ameaças. Qualquer coisa que proponha ficará suspeita pois não tem honradez para defender mais nada. Nem sua própria pele. 


A tarefa das forças democráticas agora é usar o caso Cunha para exigir, nas ruas e com bastante barulho, uma sistemática e radical investigação de toda a corrupção que corrói o país. Em todos os níveis e poderes. Auditorias soberanas populares em contratos de obras, compras e serviços. Fim das mordomias. Redução dos salários de parlamentares, executivos e juízes. Punição exemplar para todos os que roubam o futuro do país, afinal, roubar dinheiro público é condenar gente à morte por falta de educação, saúde, comida, etc. Sem povo na rua qualquer acordo de cúpula enterra o assunto e nada muda.

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