quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Segregação em trens e estádios educa para a civilidade?

Fui ao Maracanã comprar ingressos para o jogo Flamengo X Botafogo de hoje à noite. Entrei numa fila pequena e estranhei porque não havia ninguém com camisas do Flamengo. Perguntei a uma das pessoas que  ficam junto à fila para informações (legal isso no Maraca) e disseram que estava na fila errada. A do Flamengo era noutra bilheteria, longe dali. E que não tinha mais ingressos no Setor Norte, aquele que fica atrás do gol e é mais barato, onde sempre fica a torcida do Mengão. As partes centrais do estádio são mais caras e também são segregadas por clube. Perguntei se poderia comprar ingresso para ficar na torcida do Botafogo por curiosidade, e a resposta ingênua foi que poderia, mas seria arriscado.

O tal "Padrão FIFA" condena isso. Desestimula a segregação para que o esporte coerentemente com o desejo de fazer do esporte fator de integração e promoção do "fair play". Mandaram tirar grades e vidraças de estádios novos, colocadas para apartar torcidas. http://www1.folha.uol.com.br/esporte/2013/08/1333073-novas-arenas-terao-que-se-adaptar-para-evitar-violencia-entre-torcidas.shtml

A esse dado acrescento o de um movimento contra a criação de vagões de trem e metrô exclusivos para mulheres, que já existem no Rio e estão sendo debatidos em outros estados. Eis o ponto de vista da Articulação de Mulheres do Brasil:

"Segundo a coordenadora da Articulação no Rio, Rogéria Peixinho, a lei promove a segregação e parte de uma premissa retrógrada: "Separar homens e mulheres é como voltar atrás na luta feminina que sempre buscou a igualdade e a convivência entre os gêneros. Parece o tempo da minha avó, quando se achava melhor separar meninos e meninas até mesmo na escola".

Outro temor que ela manifestou é o de que as mulheres venham a ser ainda mais desrespeitadas por conta na nova lei: "Há apenas um vagão para as mulheres. No horário do rush, se elas forem buscar outros vagões poderão acabar molestadas e ser alvo de deboche".

Na SuperVia, responsável pelos trens urbanos, os vagões exclusivos são o primeiro ou o último da composição, dependendo do local da plataforma em que o usuário estiver. Já no metrô, o vagão feminino será sempre o segundo carro no sentido Zona Sul e o penúltimo no sentido Zona Norte.

Para Rogéria Peixinho, o trabalho deveria ser no sentido de garantir a segurança das mulheres. Ela defendeu a realização de "campanhas de conscientização ao respeito nos meios de transporte, inclusive ônibus". E a fiscalização: "Hoje, se uma mulher é molestada num transporte público ela não ter a que recorrer. Não existem seguranças em trens ou no metrô"." (fonte: http://amaivos.uol.com.br/amaivos09/noticia/noticia.asp?cod_noticia=6935&cod_canal=38)

Chegamos ao absurdo da validação da falta de educação e da brutalidade. Quer dizer então que nos metrôs e trens entupidos por causa da má gestão as mulheres que não forem para o vagão exclusivo estarão dando carta branca ao assédio sexual? Vão justificar que mulheres sofrem abusos porque usam roupas ousadas ou se metem onde não deviam, sabendo que só tem tarados, etc? Que fazem isso porque gostam?

E a família que tem torcedores de diferentes times apanhará de ambas as torcidas porque "não pode juntar adversários"? Que é normal espancar até a morte um torcedor adversário porque entrou num bar onde só tinha gente do outro time, afinal "o cara veio provocar"? É cômodo não resolver os problemas de segurança, de superlotação e de falta de educação e criar segregações. O pior é que, na falta de interesse em resolver isso culturalmente, as pessoas também validam o modelo. 

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