terça-feira, 11 de março de 2014

Ucrânia : O verão russo de Obama

Viena - Monumento aos soldados soviéticos pela libertação do nazismo
A estupidez do governo Obama de buscar no cenário externo realizações que tragam popularidade a qualquer preço está prometendo um custo muito alto. Ataca em várias frentes, sendo as de maior impacto junto ao tacanho eleitorado americano os enfrentamentos com inimigos do imperialismo, como o chavismo venezuelano, ou os antigos inimigos da guerra-fria, como a Rússia.

O front ucraniano prometia resultados rápidos. País falido, com imensa dívida, devendo até a conta do gás à Rússia (US$ 4 bi) e vivendo de favores destes, ouviu o canto da sereia da Comunidade Européia prometendo dinheiro em troca da alma, a exemplo de outros países do leste europeu. Candidato forte a ser uma nova Grécia, depois de saqueada por processos de privatização ou venda de toda atividade econômica estratégica.

 E os Estados Unidos esperando pela cereja do bolo: cravar a OTAN em território geopoliticamente ligado à Rússia. Botar mísseis e tropas na fronteira russa pela primeira vez. A partir da Ucrânia, trazer para o bloco do império americano, num dominó, as ex-repúblicas soviéticas do Cáspio e estabelecer um cinturão em volta da Rússia. O bônus seria tomar bases russas na Criméia sem disparar um tiro. Golpe de mestre. Popularidade para Obama semelhante à de quando capturou Bin Laden.

Foi então que o presidente ucraniano refugou da proposta da Comunidade Européia e resolveu aceitar ficar do lado russo. A Comunidade Européia vacilou a ponto da secretária de estado norte-americana xingá-los, como foi mostrado numa ligação grampeada falando com os diplomatas americanos na Ucrânia. Resolveram agir e fomentar a "revolta popular": patrocinaram grupos neonazistas para cercar o palácio presidencial, tocar fogo em prédios públicos e principalmente criar mortos e atribuí-los ao governo ucraniano. A CIA tem gente com larga experiência nisso para dar suporte.

Até derrubar o governo eleito foi uma moleza. Botar os fascistas no poder, tranquilo. Só se esqueceram de algumas coisas essenciais nas quais os americanos são muito ruins: história e geografia. Parecem desconhecer que Kiev, capital ucraniana, é considerada "berço da civilização russa", ou seja, há uma forte ligação histórica e cultural russa com a Ucrânia. Aí vai o governo ilegítimo e torna a língua russa secundária, revoltando a imensa colônia russa e dos seus descendentes no país. Outro grande erro foi pensar que o neo-tzar Putin iria ficar só olhando essa festa sem fazer nada. E fez: tomou a Criméia sem disparar um tiro, e montou o processo político para a anexação dessa república autônoma à Rússia, com plebiscito e tudo.

Obama então falou que isso seria ilegal, de acordo com leis internacionais. Mas promoveu um plebiscito em Porto Rico, território invadido pelos americanos no fim do século XIX. E não pode muito falar em respeito internacional, porque seu governo vem matando muita gente com drones assassinos, sem respeitar fronteiras ou governos. Tem grampeado comunicações em massa e de lideranças até aliadas por todo o mundo. Promove rebeliões e derrubadas de governos sem perguntar nada a ninguém. Bola nas costas.

Bratislava (Eslováquia) - Panteão dos soldado soviéticos da 2a guerra mundial
O novo governo ucraniano dá poder aos neonazistas do partido Svoboda, que já vinha promovendo ações anti-semitas pelo país, causando a saída de uma grande parte de judeus e perseguindo ciganos. Ficaram à vontade a ponto de espalhar símbolos neonazistas até em prédios públicos. Gradualmente, os aliados americanos na Europa começam a ter reticências sobre o governo imposto, pelo risco do movimento nazista ter como base um país grande na Europa para espalhar, via comunidade européia, suas práticas e idéias em todo o bloco.

O desastre não seria ainda bastante se o vice de Obama, John Kerry, não tivesse feito ameaças ao governo russo em caso de intervenção militar. Putin simplesmente disse que haveria também retaliações. Para bons entendedores, isso significa: "vou mandar fechar o registro do gás, e a Europa vai mergulhar na Idade Média sem grande parte da sua energia. ". Obama recuou e mudou de assunto, porque sentiu que sua alternativa seria começar uma guerra de grande porte na região, o que não interessa a ninguém.

Mais um desastre norte-americano foi promover o autoritário Putin perante os russos. Ucrânia significa berço. Nazismo significa genocídio russo, pois mais de 36 milhões de soviéticos, em grande maioria russos, foram trucidados pelo regime de Hitler. Não há uma só capital no Leste Europeu sem um monumento à bravura dos soldados soviéticos contra o nazismo, vistos então como libertadores. E, do nada, os Estados Unidos dão a Putin, que estava desgastado, a oportunidade de dar a volta por cima.

Moral da estória: já dividiram a Ucrãnia, com a saída de fato da Criméia, e correm o risco de ter os russos invadindo o resto da Ucrânia em nome do combate ao nazismo. E qualquer retaliação ocidental teria grande impacto em toda a Europa. Se a idéia de Obama é deixar os Estados Unidos fora do teatro de guerra e ver a Europa se arrebentar, está bem perto disso. No mais, Obama pode estar se alinhando a Napoleão e Hitler, que perderam guerras depois de chegar muito perto de Moscou por causa do inverno rigoroso. A diferença é que Obama, o Prêmio Nobel da Paz (lembram-se disso?), pode perder em pleno verão.



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