segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Governo x Oposição : A corrida contra os relógios

Desde a reeleição Dilma tem driblado um a um os obstáculos, crises e armações da oposição, chegando a 2015 com Aécio fora do alcance do retrovisor e afastando as ameaças de golpe, intervenção militar, invasão norte-americana, revolta popular, impeachment, reprovação das contas, falta de dinheiro para fechar o ano e mitigando o potencial destrutivo da crise na Petrobrás. Graça Foster não caiu e está conduzindo o processo de combate à corrupção. Fim de papo. E não adianta virem com balão de ensaio de Meireles como presidente da Petrobrás para recuperar a imagem da empresa, que pode até ajudar na especulação com ações mas não rola de jeito nenhum. Dilma não entregaria a empresa aos tucanos depois de tudo que passou.

Por outro lado, Dilma pagou um preço alto para começar o segundo mandato governando. Trouxe para o governo uma equipe econômica que fará ajustes com impactos no crescimento e trará custos sociais, mesmo que na promessa de imediata recuperação. Seu ministério é uma mescla de tudo que tem de bom e ruim na base aliada, onde ministros batem de frente, como Kátia Abreu e Patrus Ananias. Ela diz que não tem mais latifûndio, ele diz que tem e aumentou.

Dilma enfrentará o clima golpista intensificado nos primeiros meses de 2015 primeiro porque, a longo prazo, interessa à oposição bater sempre e forte para inviabilizar o governo, levar o país à crise, estimular a insatisfação social e enfim, se não derrubarem o governo até 2018, criar as condições para vencer as eleições. A qualquer preço, mesmo que de terra arrasada.

Para a oposição há um outro relógio correndo rápido, o da própria credibilidade remanescente. Bastaram os vazamentos de acusações na operação Lava-Jato contra o ex-governador tucano Anastasia (MG) para o tucanário e a mídia entrarem em pânico. Enquanto os petistas já sofreram superexposição no escândalo e muitas das acusações foram desmentidas, a oposição está virgem, agindo como pedra enquanto pode passar a vidraça. Daqui prá frente, Lava-Jato não traz mais lucros à oposição, a não ser que Dilma saia algemada num camburão com a turba insandecida de coxinhas liderados por Lobão gritando ""a bruxa está morta, a bruxa está morta".

Mais tucanos gordos podem ter seus nomes citados na Lava-Jato. Para fugir a isso já espalham pelas redes sociais o "escândalo do BNDES", o lançamento de 2015 para abafar o anterior e ocupar as manchetes por mais um ano. E o acompanhamento judiciário do caso Lava-Jato pode ser frustrante.

O relógio mineiro é o pior, pois parece acionar uma bomba. O novo governador Pimentel (PT) em 90 dias apresentará um relatório de investigações de irregularidades nas gestões anteriores que, se não servir de "moedinha" para conchavos e for explorado como escândalo, poderá enterrar de vez não apenas Aécio, mas o "modo tucano de governar". Eles não estão preparados para enfrentar isso, mesmo com toda a artilharia de mídia. Aí cabe tudo: aeroporto de Cláudio, obra superfaturada do Centro Administrativo, lista de Furnas, mensalão tucano, censura à mídia, repressão aos movimentos sociais, descumprimento de piso salarial de professores, etc, etc. A Caixa de Pandora das Gerais está aberta.

Mais um relógio acelerado é o de São Paulo, com a seca que a qualquer momento será uma desagradável "descoberta", já que a blindagem de mídia faz prevalecer a palavra de Alckmin de que "vai chover", embora a ciência contrariá-lo. O estouro da crise deverá acontecer até julho, quando começarem os impactos mais profundos na vida da classe média paulista (hoje a periferia já vive racionamento informal), empresas tiverem problemas de manter suas atividades, poder aquisitivo cair com paliativos para fugir à seca, etc.

Do lado dos aliados a oposição tem também um relógio que gira à medida que velhas raposas sentem falta dos recursos federais. Pelo lado do PSB, que vinha servindo de linha auxiliar do PSDB, o racha pró-Dilma ganhou força. O senador Fernando Bezerra publicou artigo ontem defendendo a reaproximação, já que o PSB no governo passado foi base aliada de Dilma. Do lado de Marina Silva não vem mais nada, já que continua com partido na informalidade e saiu destroçada da campanha eleitoral com seu ecocapitalismo financeiro. O DEM não tem mais quase nada, assim como o PPS. E outros partidos de aluguel também já sentem o peso de não ter aparelhos no governo federal.

E a mídia, força armada da oposição? Vem sofrendo baixas com a pressão das bases sobre o governo para fechar a torneira das verbas federais de propaganda e pela regulamentação das mídias. Essa bandeira ganhou prioridade sobre a reforma política para minar de vez o poderio tucano. Veja, Globo e outros demitem e buscam se adaptar a tempos de vacas magras tanto pela tendência de crescimento de mídias eletrônicas como pela desmoralização no ataque ao governo.

A reforma política aponta para um prazo maior, pois precisa do calor da proximidade eleitoral. Enquanto isso deverá crescer a pressão sobre o "tucano togado" Gilmar Mendes para deixar de fazer de almofada o processo que impede o financiamento privado de campanhas. A perda do financiamento pelo grande capital pode ser a estaca final no peito do vampiro oposicionista.

Falta nessa análise o relógio da ultima cidadela de poder, o complexo judiciario-policial-promotor. Há uma vaga no STF que se Dilma deixar de republicanismo Caracu (onde a oposição entra com a cara e o governo com o resto) poderá pelo menos equilibrar a parcialidade atual da corte. Dilma manteve o patético José Eduardo à frente do Ministério da Justiça, garantindo aos tucanos sobrevida na tal "polícia federal republicana" que só atira no governo com suas investigações e vazamentos. No Ministério Público algo mudou quando a oposição colocou Janot na conta de Dilma e a mídia bandida lhe fez acusações. Perderam espaços por lá.

Qual o papel da esquerda nisso? O governo Dilma não merece cheque em branco. Deve ser criticado sem tréguas. Interessa a todos a destruição da distorção que hoje faz a direita ter metade do eleitorado e influir sobre os trabalhadores contra seus próprios interesses. O que puder ser feito nesses próximos 6 meses para focar também na direita com mais energia será positivo para acelerar o relógio da autodestruição dos inimigos dos avanços sociais.

Resumo da análise: a oposição terá uns 6 meses para jogar todas as suas fichas para derrotar Dilma num esforço último. O vale-tudo contra o tempo trará de volta agitações mercenárias de rua, anarquia, denuncismo, ódio e principalmente desinformação. Sabendo-se disso cabe a quem defende Dilma contra o atraso também se armar para derrotar de vez a direita. A partir daí se começa uma nova era democrática.


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