terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Tragédias "naturais" : a conta amarga da irresponsabilidade

Vi anteontem na Globonews um meteorologista da UFRJ dizendo que há ótimos técnicos em diversas instituições com teses e pesquisas sobre o clima de Angra e sua correlação com os desabamentos, mas que não há coordenação suficiente para que se estabelecer um parâmetro pluviométrico que dispare um alerta. Isso em Angra, onde a presença das usinas nucleares deveria ter criado na população e nas autoridades a cultura da prevenção de catástrofes e exercícios periódicos de evacuação, etc. No Japão, que tem terremotos, furacões e outros incidentes climáticos críticos, a prevenção e o treinamento minimizam as vítimas. Por que não nas nossas áreas sujeitas a surtos?

Outra coisa que a gente vê na cobertura da TV é a fila de autoridades reclamando das posturas populistas que favorecem a ocupação de várzeas alagáveis ou de encostas instáveis. Alguns falam que políticos, cabos eleitorais, milicianos e traficantes "vendem" áreas públicas e privadas para as ocupações, e alguns até dão o chamado "kit favela", com tijolos e telhas para criar comunidades que futuramente serão currais eleitorais.

Antes que o clima emocional da tragédia deixe os noticiários, autoridades agora correm atrás de dinheiro para a reconstrução, em cifras que as cidades vitimadas dificilmente veriam nos seus orçamentos anuais. A policitagem que agrava as tragédias climáticas por votos, corrupção, incompetência, omissão ou tudo junto, fatura também em cima da destruição e das mortes. Se não fosse assim, uma cidade como Angra, arrasada há uns 10 anos por uma outra chuvarada, não teria agora que demolir 80 casas emergencialmente e realocar mais alguns milhares de moradores a custos elevados.

Já se foi o tempo em que a principal batalha para regularizar o uso do solo em Angra era a construção de servidões e demolição de muros para acesso a praias privatizadas pelos bacanas. Depois da desgraça, agora a prefeitura proíbe a construção de qualquer edificação em encosta sem sua autorização. E antes, podia? Agora a gente paga a conta do retrabalho, e pode vir a pagar de novo, porque "esfriada" a cena da tragédia, ninguém mais vai atrás de como foram aplicados os recursos arrecadados no clima emocional onde todos querem ajudar.

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