Reproduzo abaixo interessante texto do deputado federal Chico Alencar, do PSOL-RJ, sobre essa sensação de passividade diante da realidade política, que chama de "neoconformismo", que atende a alguns interesses.
O vírus da apatia | ![]() | ![]() | ![]() |
Política |
Chico Alencar |
Sex, 05 de março de 2010 10:30 |
![]() Chico Alencar Apesar disso, "la nave va", pois as forças dominantes na economia, na política e na produção do imaginário social nacional não necessitaram, até o momento, de uma repaginação da estrutura partidária. As práticas patrimonialistas, mesclando autoritarismo, demagogia e clientelismo, e imbricando interesses privados e públicos, seguem sustentando governos e viabilizando vitórias eleitorais. Todos, "modernos" e "atrasados", num assemelhamento crescente das legendas, navegam nas águas aparentemente tranquilas da economia. Sempre se dizendo "progressistas", controlam a vida pública brasileira, animando a "platéia" com uma polarização de fantasia nas disputas eleitorais. A anemia da cidadania crítica facilita a afirmação de personalismos e da "cultura do favor", terreno fértil para essas deformações. Todos os grandes partidos brasileiros - e a maioria dos pequenos - são sócios nada honorários do clube da degradação política nacional, da qual o escândalo mais recente, do escabroso "mensalão" do DEM, é emblema documentado. Esse modelo político formalmente representativo, apesar do descrédito popular (que produz mais apatia que ativismo crítico), parece intocável. Tanto FHC quanto Lula, ao longo dos últimos 15 anos, proclamaram a urgência da "mãe de todas as reformas", a política. Mas as bases de sustentação de seus governos rejeitaram essas conclamações retóricas da "vanguarda do atraso". Não se muda o que tem assegurado vitórias e "governabilidade". O Legislativo tem pouca autonomia: o Executivo continua "domesticando" a maioria dos Parlamentos, usando métodos legais e, por vezes, ilegais. Os partidos e a própria política, no sentido lato, tornaram-se fins em si mesmos, com interesses específicos, corporativos, na defesa monolítica e monocórdia do "caminho único". Procedimentos predadores e egoístas são naturalizados. Fora dessa rede apodrecida vigora uma espécie de neoconformismo esclarecido: "não há outro jeito de se fazer política no Brasil", reza o senso comum distópico. Mas ainda há quem aposte em participação, formulação de programas e mobilização em torno de ideais e causas. Nem tudo está perdido. Chico Alencar é professor e deputado federal (PSol-RJ) |
Nenhum comentário:
Postar um comentário