Casamento real é o de nós outros, aquele das dimensões domésticas, das demandas nem sempre correspondidas por ofertas de recursos, das crises, dos problemas do cotidiano. O casamento dos nobres da Grã Bretanha não tem nada de real: é uma peça de ficção, de contos de fadas. O casal real jamais saberá o que é um sufoco, ter que gerenciar um orçamento doméstico, acordar cedo para levar os filhos à escola, algo irreal para nós.
É uma brincadeira cara: os contribuintes ingleses pagaram R$ 105,6 milhões no ano de 2009 para sustentar os luxos da familia real, cujo patrimônio, em 2007, era de 14,5 bilhões de dólares.
Pagam e poucos chiam: até hoje a figura da rainha Elizabeth II é venerada nos países da Commonwealth, a Comunidade Britânica, que tem 55 países, e é a chefe de estado no Canadá, Austrália e Nova Zelândia. A monarca também é a Governadora-Suprema da Igreja Anglicana. Na Roma Antiga, a receita que popularizava os governantes era pão e circo. No caso presente, é escândalos e circo ligados à família são fontes de assunto para boa parte da mídia. No dia que isso acabasse, a vida do povo ficaria mais monótona sem fofocas e intrigas da corte.
Grupos anti-monarquistas querem que a família real arque com os custos do casamento, entendendo que ao mesmo tempo que na Inglaterra milhares são demitidos, salários e direitos são rebaixados, programas sociais minguam e empresas quebram, não se pode dar ao luxo de fazer uma gastança como essa para mostrar ao mundo um certo "glamour" da tradição imperial inglesa.
As autoridades de Londres e da Inglaterra dizem que o espetáculo real rende muito em turismo e consumo das porcarias associadas ao evento, como o anel da princesa, canecas, réplicas de vestidos e outras tranqueiras feitas na China que inundam os camelódromos globalizados.
Como efeito colateral, o show televisivo servirá à alimentação do sonho de milhões de plebéias que almejam, um dia, casar-se com um príncipe e viver felizes para sempre. Na falta de um bom partido, vai jogador de futebol mesmo ou qualquer um que dê condições a essas pobres coitadas.
Privilégios para sustentar ricos e nobres não são, infelizmente, apenas um fetiche inglês. No Brasil, na cidade de Petrópolis (RJ), um quinto das terras são aforadas à família real brasileira. Detalhe: na Inglaterra, a rainha não manda nada, mas tem um cargo institucional de chefe de estado, e aqui, não tem nada disso, e a idéia foi enterrada no plebiscito de 1993, quando 86,6% dos brasileiros disseram não à monarquia. Toda vez que um imóvel das terras imperiais é transacionado, 2,5% do valor cai nos cofres da família irreal brasileira.
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