Hoje haverá eleições parciais para os legislativos americanos. Por lá elegem-se deputados e senadores a cada dois anos. Hoje Obama tem maioria na Cãmara dos Representantes e pouca vantagem no Senado, o que permitiu aprovar a reforma do sistema de saúde a duras penas, estendendo a cerca de 30 milhões de pessoas, que hoje padecem da falta de hospitais públicos. Se o americano não tem emprego formal, com convênio médico, paga uma fortuna, se puder.
A eleição de Obama, por si só, mexeu com os preconceitos de muita gente. Ninguém fala, mas o fato é que a tolerância a um negro na presidência da maior potência mundial não é uma coisa pacífica. A gente conhece isso, a partir da chegada de um operário ao governo no Brasil, onde durante a eleição recente muita gente boa não apenas batia pesado no "apedeuta" Lula, como ficou irada com a possibilidade de eleger uma mulher.
Por ter uma formação acadêmica superior e um dos pais brancos, a direita americana "engoliu" parcialmente Obama. Quando eleito, até a fascista Ku Klux Klan, organização racista radical conhecida pelas suas roupas brancas com máscaras em cone e por cruzes queimadas, além, claro, de perseguir, torturar e matar negros, disse algo como Obama ser tolerável como um "negro de alma branca".
É aquela coisa: se o governo de Obama estivesse indo bem, calava a boca de muita gente. Como enfiou a economia americana num ralo ao ajudar bancos e manter duas onerosas guerras, aumentando o déficit fiscal e tirando boa parte da capacidade de criar empregos, o pau come. Imaginem se o governo de Lula fosse um fracasso? O preconceito seria oculto pelo "senso comum" implícito, como quem diz "alguém poderia esperar algo diferente?", ou seja, seria "normal" o governo de alguém sem formação superior fracassar, sendo uma questão de tempo os oposicionistas dizerem: "eu não disse que ia dar merda?".
A capa da revista The Economist tem como manchete "Angry America", ou "América Furiosa", com uma ilustração de uma turba ensandecida em torno de Obama exigindo empregos, menos impostos, criticando a política de saúde. É o retrato do movimento ultra-direitista chamado "Tea Party", que cresceu na classe média pregando furiosamente a oposição a Obama. O ódio é muito parecido com o da campanha daquele candidato que concorreu com a Dilma... como é mesmo o nome dele? Pelo menos o aborto e a submissão religiosa não estão na pauta por lá.
A campanha do Tea Party lembra a triste tentativa de golpe do "Cansei" brasileiro, aquele bando de riquinhos que queria derrubar Lula tendo por fundo o preconceito, mas aparentemente porque o governo seria responsável pelo caos aéreo.
A extrema-direita cresceu e apareceu nestas eleições americanas, e seu discurso empolga classes médias em outras partes do mundo, não porque apele ao senso comum das bandeiras óbvias (emprego, menos impostos, menos gastos supérfluos, menos burocracia), mas porque tem uma carga de preconceito implícita que reforça a crítica às políticas sociais. Na Europa está acontecendo o mesmo. Aqui mesmo no Canadá há um movimento contra as políticas sociais e pela redução dos impostos, colocando em risco o sistema de saúde, a assistência social e conquistas históricas que os americanos consideram coisas de comunista, pois por lá o comum é a pessoa ficar à mercê da caridade quando perde sua capacidade de vender trabalho ou adoece.
A mesma extrema-direita, também por causa do preconceito, botou as asinhas de fora nas eleições brasileiras. O mapa dos resultados mostra claramente que Dilma venceu no Nordeste todo, em Minas, no Rio e parte da Amazônia. Serra venceu no sul rico, em São Paulo e nas áreas de expansão rural do centro-oeste e Amazônia. Considerando a eleição do segundo turno presbicitária, pois se colocou o governo Lula e seus avanços contra a volta ao passado de fracasso e o preconceito, o que justifica que o eleitorado mais escolarizado e de maior renda tenha optado por um modelo que destruiu o país? Há muito o que explicar, porque a política parece ficar em segundo plano ante os preconceitos. Isso é uma das vertentes para o fascismo.
terça-feira, 2 de novembro de 2010
EUA: direita radicaliza contra Obama
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Fernando, vejo com muita consternação os percalços por que passa o presidente Obama nos EUA: um prato cheio para aqueles que, antes do governo começar, apostariam num panorama como esse, sob a justificativa de que um negro não poderia fazer coisa melhor. É certo que a América já teve outros presidentes de atuação sofrível e nem precisamos ir a um passado longínquo: Bush filho nos faz as "honras". Porém a carga impingida pelas idéias de um país impregnado do ranço conservador, são ainda maiores sobre esse presidente. Apesar de sua inexperiência no executivo, muito desse cenário revela que alguns dos problemas de Obama certamente vão além de suas competências como administrador.
ResponderExcluirO pragmatismo americano requer resultados evidentes: menores taxas de desemprego, menos impostos e revitalização da economia. Nem todo carisma e mitificação do presidente serão suficientes pra fazer o povo relevar essa fraca atuação. Mas estou na torcida para que Barack Obama reverta a situação e seja mesmo uma quebra de paradigmas na história dos EUA.