quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Preconceito e ódio : as heranças de Serra

Triste episódio esse da estudante de Direito (logo de Direito?) que expressou na internet com grande repercussão seu preconceito em relação aos nordestinos, incitando até o crime de homicídio. A OAB de Pernambuco já tomou as providências para o seu enquadramento legal, que inclui cadeia, mas fica a questão: onde começou esse ódio?

A moça alega que não quis esculachar os nordestinos, "apenas xingar os eleitores de Dilma de nordestinos". A explicação foi pior que o ato. "Nordestino" é palavrão? É pejorativo? O que quis dizer a moça? Cidadãos de segunda classe? Falta de noção ou elitismo exacerbado pela campanha de Serra? A estudante começou a expor seu ódio dizendo que os nordestinos elegeram Dilma. Alguns jornalistas se deram ao trabalho de mostrar que até nisso ela errou: tirando os votos do Nordeste, Dilma venceria do mesmo jeito. E foi além, explicitando um ódio de classe que a nossa sociedade encobre, mas parece que virà à ordem do dia nos próximos tempos.

O estrago feito por Serra pode estar apenas começando. Um caso de idiotia desses causou tanta repulsa que poderá gerar uma reação contrária. Dilma terá o controle do congresso, e se disporá a fazer reformas mais profundas (tributária, eleitoral, etc). Na questão dos tributos, São Paulo, ninho tucano, sempre foi privilegiado. Se hoje existe a guerra fiscal é porque o então deputado José Serra, bastante atuante na constituinte de 1988 em defesa dos interesses empresariais de seu estado, conseguiu fazer a lesiva fórmula dos "royalties" na energia, para compensar o ICMS que o seu estado ganharia.

Hoje está aí o rolo: o Rio de Janeiro, estado onde Dilma teve enorme vitória, é o mais lesado na proposta de distribuição equânime dos "royalties". Numa eventual reforma tributária, a fórmula seria mudada. Fora os interesses do "sempre culpado Nordeste". São Paulo pode levar a pior. Quem sabe Serra não liderará um movimento separatista como o de 1932?

A herança de Serra, expelida pela odiosa repulsa dos seus seguidores a pobres e assimilados, pode trazer ao movimento social o recrudescimento da velha e permanente "luta de classes". De um lado já se excluem de pagar a conta social os seguidores do bloco de direita liderado por Serra. Os que não querem desenvolver o nordeste às suas custas. Do outro, uma grande massa de pessoas que enxergaram no governo Lula o primeiro degrau para subir ao andar de cima da civilização.

Se os ricos chamarem prá briga, não faltarão instituições no movimento social para atenderem ao chamado. Se o rico quer o direito egoístico de acumular riquezas deixando o rastro de miséria como subproduto capitalista, o outro lado pode querer ter o direito à igualdade socialista, penalizando o capital e os seus privilégios. Será que vão querer encarar, ou isso é só birra pós-eleitoral? Vamos ver se a atitude da estudante é apenas um ato isolado de falta de noção ou uma tendência dos derrotados. Se for esta, poderão perder mais ainda com as provocações.

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