quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Carnaval : Festa do povo na rua não é lugar de "apartheid" de coxinhas

Fui ao carnaval de Salvador pela primeira vez em 1985 e vi como os trios elétricos tinham no seu entorno verdadeiros clubes de quem podia pagar por um abadá. Em alguns não bastava ter dinheiro: tinha que mandar a foto porque só vendiam para "gente bonita", ou seja, segregação racial mesmo. E a estrutura do desfile abusava do uso do espaço público privatizado. Para quem estava fora dos cordões de isolamento, carregados por centenas de seguranças, só restava a "pipoca", ou seja, ser esmagado entre os grupos de foliões "de elite" e os tapumes que protegiam os prédios. Muito empurra-empurra, sufoco e, na oportunidade, furtos. Dentro dos blocos, espaço de sobra, bebidas, alegria para poucos.

Esse modelo se espalhou em micaretas por todo o Brasil. Em Fortaleza o Fortal ocupava a avenida Beira-Mar de forma acintosa, com serviços públicos colocados à disposição do carnaval de rua privatizado, até que a chiadeira dos moradores primeiro impôs cobrança dos serviços de segurança, bombeiros, médicos aos promotores do evento, depois que toda a festa privada fosse transferida para um local afastado, exclusivo. No Rio e em São Paulo as micaretas nunca colaram, porque a tradição é de carnaval de blocos sem discriminação. Mesmo assim tem gente querendo privatizar a rua.

Felizmente, o interesse público nas cidades do Rio e São Paulo prevaleceu, e os prefeitos Fernando Haddad e Eduardo Paes que proibiram os "cercadinhos VIPs" para "foliões diferenciados" no carnaval de rua. Não tem essa de rolezinho de coxinhas privatizando ruas cercados de seguranças. É como no slogan do ano passado nas manifestações de junho: literalmente, #vem prá rua, junto com o povão "feio", "suado" e "sem pedigree".
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