sábado, 9 de agosto de 2014

EURÁSIA 2014 - 001 - Estudando o Irã

Avalio o Irã como a etapa mais difícil de planejar dada a pouca informação, muita desinformação e preconceito e principalmente a vida prejudicada por um embargo imposto pelos Estados Unidos via ONU por conta do programa nuclear. A "exclusão" do Irã do "mundo civilizado" aconteceu a partir da revolução iraniana na década de 70, quando o fantoche xá Rehza Pahlevi foi surpreendentemente derrubado mesmo com todo apoio americano e o povo partiu com tudo para a embaixada dos EUA em Tehrã, vasculhando documentos que sequer houve tempo de destruir. Foi um golpe tão grande para os interesses geopolíticos norte-americanos nas áreas petrolíferas que os EUA usaram o fantoche Saddam Hussein para fazer uma guerra de sete anos contra o Irã, que acabou empatada e só custou muito ao povo. Tudo que os EUA podem fazer contra o Irã será feito.

Sob certos aspectos pode-se dizer que o Irã é a Cuba da Eurásia, aos olhos norte-americanos. Como os muçulmanos persas (não são árabes como muitos pensam) são em maioria da corrente xiita, a mídia pró-americana tratou de tornar o termo "xiita" sinônimo de "radical". Os tempos recentes e mesmo uma leitura mais profunda sobre islamismo, além do legado ocidental do Irã, permitem dizer que são o que há de mais avançado nessa cultura. A eles também foi imposta a pecha de terroristas, embora hoje no mundo os sunitas estejam por trás das maiores atrocidades: talibãs (Afeganistão); Al Qaeda; ISIS, etc. E estão no poder em países que sustentam grupos terroristas mesmo sendo fantoches norte-americanos, como a Arábia Saudita, os Emirados Árabes, Catar e Kwait.

Em 2010 o Brasil e a Turquia costuraram com o Irã de Ahmadinejad um acordo nuclear que a princípio teve o patrocínio de Obama e por ele foi traído em seguida. Aos americanos não interessa uma solução que permita o Irã respirar e se estabelecer como potência regional, já que no tabuleiro do Oriente Médio, para os EUA, só cabem Israel e os países árabes que patrocinam. Os iranianos apoiam os palestinos de Gaza contra Israel e os xiitas do Iraque na luta contra o ISIS sunita, além do Hezbolah libanês, todos grupos de resistência.

Sobre o Islã também há muito preconceito religioso por parte dos ocidentais. Lemos alguma coisa pelo olhar dos iranianos (compramos bons livros em espanhol editados no Irã) e vimos que conjunto de idéias obedece à realidade do século 6 DC e, assim como no cristianismo, há coisas que apesar de anacrônicas são preservadas pela tradição. O que temos a fazer é respeitar, afinal, é a casa deles. Mesmo que isso custe a mulher usar véu (eles são mais liberais nisso) e andar separados em ônibus. Até isso é algo que veremos no local. Não são intolerantes com estrangeiros, nem com os norte-americanos. Pelo contrário, os relatos falam de excelente hospitalidade.

Falando em relatos acho que esses oferecem visões e informações interessantes:

Irã visto, sem intermediários, pelo olhar brasileiro


Iraniano no volante…



COLINAS DO IRÃ

COORDENADA XY - Relatos de uma brasileira pelo mundo


O texto abaixo resume essa realidade do estado islâmico na relação com a sociedade civil e demais crenças. Num dos vídeos que vimos de Diego Buñuel é mostrada a vida de judeus em Tehran , sinagogas e o parlamentar judeu no congresso.

"A pluralidade religiosa é assegurada pela Constituição iraniana. As minorias religiosas possuem, por lei, direito a representantes na Assembléia Legislativa Islâmica. Os fiéis dos diferentes credos podem participar igualmente na política, economia e assuntos sociais do país. A religião predominante é o islamismo, mas é comum encontrar sinagogas, igrejas católicas ortodoxas e, principalmente, templos zoroastras." 

Feito esse entendimento tiramos a conclusão de haver razões para os brasileiros não terem nenhuma restrição por parte do povo iraniano. Vamos ao planejamento com base em pesquisas na internet. Primeiro dado: pelo boicote não há cartões de crédito de bandeiras internacionais disponíveis. É praticamente impossível comprar coisas on line como passagens em linhas domésticas e hotéis por causa da falta dos cartões. Há uma inflação elevada que faz os preços subirem em poucos dias. Mesmo assim os preços são cerca de 30% mais baratos que no Brasil, exceto bebidas e fumo (que têm permissão muito restrita). Já os transportes públicos são na faixa de R$ 0,60 e a gasolina custa uns R$ 0,50 por litro.

O principal eixo turístico fica na direção norte-sul envolvendo as cidades históricas de Isfahan e Shiraz e Yazd. Para o noroeste, em direção à Turquia, o atrativo é Tabriz. Em direção ao Mar Cápio, ao norte, Ramsar é o centro mais importante. A nordeste, Mashhad. No Golfo Pérsico, a ilha de Kish. E Teerã é uma cidade gigante, com mais habitantes que São Paulo, com muitas curiosidades.

Num primeiro giro tentando contemplar tudo chegamos a uma base de 20 dias. Há roteiros oferecidos de 24 dias por operadoras locais e até de 5 dias muito corridos. Baixamos do Wikipedia e do Wikitravel todas as informações das cidades-alvos em formato PDF para serem lidas em qualquer meio (celular, tablet, notebook). Analisamos os padrões e elegemos, por exemplo, as principais obras arquitetônicas e paisagísticas, museus e bazares mais importantes. No roteiro global temos 10 noites para todo o Irã. Isso dá 9 dias líquidos (normalmente consideramos o primeiro e o último dia perdidos por causa da viagem, e o que sobrar é folga). Três dias completos em Teerã e seis no interior. Muito pouco, mas é o que a viagem comporta, a não ser que se tire de outro lugar.

Descartamos as cidades isoladas e consideramos apenas o circuito mais denso, que é o central. Não vimos passeios oferecidos (que são relativamente baratos) com menos de 7 noites que nos atendam. Testamos a hipótese de fazer de carro alugado, onde a vantagem seria a flexibilidade de roteiro, mas seriam cerca de 2,4 mil km em 6 dias. O que é isso? Bom, a gente vive andando do Rio a Brasília, onde uma viagem de ida e volta tem esse tamanho. O aluguel, combustível, seguros, GPS e até uma taxa para devolverem uma garantia depois de 75 dias (para ver se não houve multas) se encaixam no orçamento consideradas duas pessoas (melhor se fossem 4). O problema é o terrorismo sobre o trânsito iraniano.

Nos relatos falam de coisas incríveis que tornam o trânsito de Teerã o terceiro pior do mundo. Excesso de carros antigos, combustível de baixa qualidade poluindo muito, motoristas sem noção são a maioria, desrespeito à sinalização, etc. Até relato de motorista de Moscou achando Teerã barra pesada vi, e o motorista russo é um dos piores do mundo. Mas também vi que as estradas são muito boas, têm controle de velocidade (110 km/h é o limite)  e na região central são praticamente retas e planas. Há placas em alfabeto ocidental nas principais vias e aparentemente não há caminhos de terra a seguir. Já dirigi em lugares absolutamente bizarros, principalmente no Brasil. Não seria esse temor que iria eliminar a hipótese de andar de carro.

Não fechamos a questão, que pode ser resolvida com transportes coletivos em Teerã e carro alugado no interior. A prioridade será para excursões que nos atendam razoavelmente. No mais é encarar logo no primeiro dia chegar ao Irã, pegar o carro no aeroporto (que é fora do centro) e cair na estrada andando o máximo possível para depois vir fazendo trechos de 200-300 km por dia. Na foto está um possível roteiro de 2400 km com um duas noites em Isfahan, duas em Shiraz e duas em Yazd. Deixa-se o carro no aeroporto e passa-se mais 4 noites em Teerã.

Capitulo anterior: EURÁSIA 2014 - 000 - Projetando a viagem 

Um comentário:

  1. Ola tudo bem? Obrigado por citar o colinas do iran, blog que trabalha afim de desmitificar as noticias ruis sobre o iran, mostrando a cada dia, o verdadeiro iran que é, com pessoas honestas trabalhadeiras e lutadoras como nos Brasileiros. Este blog tambem dar dicas para tirar o visto, parte necessária para entrar no Pais Persa.
    http://colinasdoiran.blogspot.com.br/

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