domingo, 4 de setembro de 2011

Rio : O bonde da morte



Andei duas vezes nos bondes de Santa Teresa, uma em 1987 e outra em 2008. Em cada uma dessas oportunidades, vi coisas muito perigosas. Na primeira vez, peguei o bonde cheio quando já estava para descer pelos Arcos da Lapa, e fiquei no estribo, como várias outras pessoas. No sacolejo do bonde, mesmo na ponta dos pés, sentia a parede do velho aqueduto ralar a borracha do tênis no calcanhar. Aquilo foi muito perigoso, porque poderia esmagar o pé, e eventualmente despencar de lá de cima, a exemplo do turista francês que caiu noutro dia, não sei se pela mesma razão.


O bonde só tem ordem quando sai da estação no centro, ao lado da Petrobrás. Vai todo mundo sentado, direitinho. Quando cruza os Arcos e chega ao morro de Santa Teresa, começa o
esculacho de superlotação, de crianças correndo ao lado do bonde para brincar de pegar carona e pedir esmolas aos turistas (eventualmente fazer um furto de alguém de bobeira com câmeras), fora os raspões em carros, ônibus, etc.

A falta de freios, que causou o grande acidente com cinco mortos e muitos feridos há uma semana, foi apenas o ingrediente que faltava para, finalmente, alguém ver que o transporte se fazia de forma muito arriscada.

Infelizmente, o Rio se tornou, com o tempo, um lugar de responsabilidades diluídas, difusas, onde um erro acaba justificando outro, e ao final, uma tragédia revela tudo. Isso vale para bondes mal cuidados, vans organizadas por milícias, etc. Quebrou peça do freio? Bota um arame que resolve. Morreu gente em acidente? Bota a culpa no motorneiro morto, como fez uma "autoridade" carioca.

Nada muda, muitas desculpas, até o próximo acidente. Perdem os moradores de Santa Teresa, que podem ter o transporte extinto por conta da incompetência das autoridades (e pressão do lobby dos ônibus e vans), perde o turismo no Rio com uma possível extinção de uma atração importante.


Um comentário:

  1. A imagem que todos temos desse meio de transporte é algo sentimental. Os bondes nos seduzem em filmes e noutras aparições. Fica difícil para nós associar os bondes a desgraças, mas elas, infelizmente, acontecem. Sou contra a extinção desse tipo de tranporte. E, pegando carona, creio que temos de investir melhor também em trens e em transporte de navegação. Seria legal rodar o Brasil de trem (em tese).

    Abraços!

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