quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Bancários : Com greve o bicho pega, sem greve o bicho come

A chegada do PT ao governo armou uma cilada de difícil solução para a categoria bancária. Para evitar que a cobrança das perdas por 8 anos de congelamento salarial dos bancos públicos fosse feita imediatamente, já que grande parte dos bancários apoiou todas as campanhas de Lula, em 2003 as lideranças sindicais governistas pediram aos trabalhadores paciência por causa da "herança maldita" recebida de FHC e das tentativas de desestabilização da direita logo no início do mandato. Foi feito acordo abaixo da inflação nesse ano.

Em 2004 os bancários públicos partiram para a cobrança do passivo dos anos FHC. Numa manobra congressual, os petistas da CUT enterraram a cobrança do passivo e passaram a falar em "ganhos reais", ou seja, o que se conquistasse acima da inflação não seria deduzido do passivo, mas seria contabilizado como "conquista".

A  pretexto de fortalecer a campanha salarial com toda a categoria, foi estabelecida a mesa única de negociações com a FEBRABAN onde o governo colocou uma camisa de força na reivindicação de perdas, ou seja, só pagaria o que o "mercado" dos bancos privados oferecessem. No BB houve ordem expressa do governo para liquidar a greve que escapou ao controle das lideranças sindicais formais, sendo tocada pelas oposições. Acabou no TST.

Nos anos seguintes a mesma ladainha: pequenas conquistas no piso, acima da inflação, conseguiram que os anos Lula terminassem sem perdas para a inflação do período, mas nada de reposição do poder de compra do passado. Com Dilma está acontecendo a mesma coisa.

O paradoxal é que ano a ano existe a sensação de manipulação e traição da direção sindical governista entre os bancários, mas a cada eleição sindical o voto vai para quem tenta negociar merrecas se greve. Nenhuma oposição sindical conquistou um sindicato cutista nesses 10 anos.

Em nenhum desses anos deixou de haver greve forte, para desespero dos governistas, que de tudo fazem para abortá-las por esvaziamento ou manipulação de assembléia. Até aqui parece que os parcos resultados são obtidos por paralisações.

Neste ano a greve começou com um setor importante no BB se recusando a fazer greve, mesmo com histórico de lutas. A desmotivação vem das sucessivas manipulações do sindicato, inclusive na assembléia de deflagração, onde não foram contados os votos apesar de visualmente haver empate.

E se todos deixarem de fazer greve porque acham que a direção sindical conseguirá "ganhos reais" sem luta?

Os banqueiros são os mais preparados patrões na defesa dos seus lucros. Compram mídia, influem na economia e no governo, que por sua vez quer mais lucros nos bancos públicos para equilibrar suas contas.

O que dirão dos seus funcionários se rebelarem contra os dirigentes sindicais, recusando-se a fazer greve mesmo tendo condições para isso? Tenderão a não oferecer nada além da inflação e não avançar na pauta social. Só que para eles não interessa desmoralizar o sindicalismo com quem acordos razoáveis. Se a fórmula do "ganho real" de merreca anual falhar, os atuais sindicalistas perderão as futuras eleições para as oposições mais à esquerda que lhes trarão mais problemas.

Uma possível saída seria a criação de uma nova mesa de negociações respaldada por setores da categoria que não aceitam essa ciranda. O maior problema é que as forças com condições de romper com a mesa de negociações viciada insistem em usar as instâncias da CUT como forma de desmascarar seus dirigentes, sem muita preocupação com os resultados a obter. Tudo vai ficando do mesmo jeito a cada ano.

Para os banqueiros, se não derem a migalha anual perdem os aliados no movimento sindical, deixando-os numa sinuca de bico.  Com ou sem greve. Para os trabalhadores, não fazer a greve é atender ao que querem o governo e os banqueiros. Se tem greve o circo do sindicalismo com os patrões se alimenta, porque não há muito maiores ganhos com as paralisações. Se não fazem a greve os patrões e o governo dão a mesma coisa para respaldar seus parceiros de paz social, que vão se perpetuando porque grande parte da categoria quer ganhar sem lutar e vota neles. Complicadíssimo sair dessa cilada.


Um comentário:

  1. O governo FHC foi lamentável com os bancos públicos, até com outras estatais, como os Correios, reduzindo número de contratações de empregados, congelando salários, enfim, preparando essas empresas para privatizações, ou melhor, para vendê-las a preço de banana, como fez com a Telebrás. Trabalho no BB, entrei a pouco tempo, hoje meu salário é R$ 1892,00, alguns colegas que estão a mais tempo dizem que hoje a remuneração inicial da carreira do escriturário deveria ser de uns R$3500,00, em grande parte isso se deve ao FHC, já estou caçando outro emprego no setor privado mesmo, por que se com um salário de quase 2k está complicado, imagina com o R$ 678,00, aliás R$ 678,00 não, é R$ 590,00 (por que desconta o INSS, sindicato e plano de saúde). Trabalhar no banco já foi bom, hoje somos meros vendedores, e pelo jeito logo estaremos ganhando como tais. Quando vi o novo modelo de agência bancária do Banco do Brasil (vídeo da agência Trianon do BB), tive certeza logo o bancário não será mais bancário, apenas um atendente treinado para vendas. Deve ser por isso que a rotatividade aumenta cada vez mais, mesmo em bancos públicos, hoje a maioria dos que entram são jovens entre 18 e 25 anos, usam o banco apenas como forma de se sustentar durante a faculdade, vejo muito isso onde trabalho.

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