segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Efeito Tea Party afunda economias liberais

Só a incompetência de Obama no trato político da questão econômica poderá tirar-lhe uma reeleição no ano que vem, com o bônus de fazer pesadas baixas do lado republicano. Para o americano, mesmo o mais despolitizado, ficou clara a maior responsabilidade do Partido Republicano na intransigência da negociação que levou ao acordo de 2 de agosto, de cortes sem elevação aparente de impostos.


Agora deverá ficar mais clara ainda a responsabilidade com o rebaixamento da nota de crédito da dívida americana de AAA para AA+, que está mexendo com a auto-estima da classe política que não quer enxergar o tamanho do estrago que fizeram colocando o mundo à beira do abismo econômico. Basta ver nos telejornais da FOX e da CNN o nervosismo histérico dos apresentadores e dos entrevistados, uns negando a realidade do rebaixamento, colocando a culpa na Standard & Poors porque nos cálculos teve um erro, outros minimizando o erro dos republicanos, em especial do Tea Party, dizendo que a culpa é "dos políticos".

Um paradoxo é visível nessa crise que derruba bolsas e aponta para o aprofundamento da crise mundial: a ultra-direita representada pelo grupo Tea Party, do Partido Republicano, ao defender um programa extremamente liberal de cortes do orçamento e contra a criação de novos impostos, criou o problema que agora leva o mundo todo a tomar medidas intervencionistas dos estados na economia. Hoje o Banco Central Europeu deverá intervir nos mercados para minimizar a sangria do primeiro dia pós-rebaixamento americano.

Tudo que liberal não quer ouvir é de falar em estado intervindo. Para piorar, a mesma Standard & Poors, que deve ter na diretoria o Rambo, o Van Damme, o Schwarzenegger e como presidente o Chuck Norris, porque sua decisão foi de enorme macheza, mesmo depois de descoberto um erro nas contas, já disse que se o programa de equilíbrio orçamentário americano não for bem sucedido, em dois anos rebaixará de novo a nota. Aí entra o Obama com uma nova estaca no coração do vampiro: para equilibrar, tem que aumentar impostos. É a tal da Vitória de Pirro da direita.

Durante a semana vamos ver desesperos em mercados de capitais. Moedas se desvalorizando, ações derretendo, e a busca por ativos mais seguros, como ouro, imóveis, títulos de países ainda sólidos, etc. Uma queima imensa de capitais, como em 2008. Com sorte, isso chegará a um fundo de poço de onde se recomeçará tudo de novo.

Aí vem o paradoxo dois: como levantar economias sem a liderança do estado? Aí Adam Smith vai se revirar na cova e a turma do liberalismo extremista vai urrar, babar e se descabelar. O mundo só saiu da crise de 29 com a intervenção estatal, principalmente nos Estados Unidos, abrindo frentes de trabalho, dando comida e renda mínima. Hoje nos EUA, antes dessa nova fase da crise, 46 milhões de cidadãos dependem do Programa Food Stamp para comer. É uma espécie de Fome Zero, que a nossa mídia esconde para não justificar os programas sociais de Lula, mas é um dos alvos da desumanidade da direita mais rica, que não quer pagar impostos para não bancar esse tipo de "luxo" para os pobres.

Por uma coincidência, os países que estão melhor nesse cenário são os que têm maior presença do estado na economia, como China, Rússia e Brasil. Vão sofrer também as consequências, mas têm mercados internos aquecidos que atenuarão os impactos mais imediatos. Nada se pode dizer no longo prazo. Na Europa a crise ganhará as ruas com mais intensidade. Vários países, já em crise, terão suas situações agravadas com a recessão nos países centrais do capital, levando a mais conflitos sociais. Governos cairão perante povos que lutarão por mais justiça social e por menos privilégios para os ricos. É o Efeito Tea Party. Paradoxo 3: Os próprios liberais sepultarão o liberalismo. Fabricam a corda onde serão enforcados.

Isso era previsível. Mais em:

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