sexta-feira, 12 de julho de 2013

Dia Nacional de Luta dos trabalhadores superou expectativas

A expectativa para a mobilização que ontem parou parcialmente o país era de um dia de manifestações chamando a atenção para a pauta unificada entre as centrais sindicais, com destaque para o fim do fator previdenciário, jornada de 40 horas, aceleração da reforma agrária e derrubada do projeto de lei 4330, que flexibiliza terceirizações. No que superou outras iniciativas, até algumas que tiveram o chamamento como "greve geral"?

Nunca tivemos algo que se possa chamar de "greve geral" no país. Mesmo nos momentos mais combativos do movimento operário e camponês houve paralisações até totais, mas em poucas cidades e em épocas onde o transporte rodoviário e de massas era incipiente, não impactando  tanto como hoje se houver uma greve de metrô ou bloqueio de estradas. Não era geral, em todos os estados, em diversas categorias.

Outra superação de expectativas foi ver o empenho das centrais sindicais na realização do movimento. Participei de duas greves gerais como sindicalista: a de 1989, contra o Plano Verão de Sarney, que congelava salários e criava o Cruzado Novo. Logo nos primeiros meses a inflação galopou e os salários tiveram grandes perdas. A CUT sozinha convocou a mobilização que atingiu algumas cidades e contou com o apoio de grande parte da população. A outra greve geral, desta vez convocada pela CUT e CGT, foi no governo Collor, em 1991, exigindo reposição de perdas salariais, garantia de empregos, defesa do patrimônio público, reforma agrária, etc.

Pode até ser que algum desses movimentos tenha tido uma adesão maior que a atual. A dúvida vem das fontes de informação. Antes de Lula e Dilma chegarem ao governo as greves eram criminalizadas e os grevistas considerados anarquistas, sobre os quais recaía forte repressão do estado. A mídia não mostrava nada além dos piores momentos, quando havia eventual destruição de patrimônio, etc. Desta vez, no vácuo da conquista do espaço público para manifestação pelo movimento de junho, a cobertura televisiva foi maior e permitiu avaliar a extensão nacional. Em capitais, interior, estradas e ruas houve protestos.

A mídia, como sempre patronal, não se negou a mostrar imagens, mas passou a criminalizar o movimento através de opiniões selecionadas. Se nas jornadas de junho os entrevistados ressaltavam a importância cívica dos protestos, agora o padrão foi o "normal" em caso de greves: pessoas se dizendo prejudicadas pelo movimento, casos escabrosos de pessoas que não foram atendidas nos postos de saúde, etc. Nenhum depoimento plenamente a favor. Em junho as principais ruas do país foram fechadas por vários dias e nenhuma opinião contrária aos movimentos passou na TV. Tudo era lindo e maravilhoso enquanto não afetava o capital e os patrões. Bóris Casoy babou no Jornal da Band ao dizer que "a greve geral foi um fracasso".

As máquinas sindicais, repousando nesses 10 anos de cooptação pelos governos Lula / Dilma, ganharam musculatura estrutural e, mesmo com o avanço da  pauta unificada e a adesão da CUT, a mais governista das centrais, concorreram entre si nos atos mostrando cada qual sua identidade. Camisas, balões, carros de som, panfletos, enfim, concorreram entre si nas ruas para mostrar mais serviço, o que acabou sendo positivo. Não houve conflitos. No Rio houve um episódio de auto-organização muito interessante, quando os trabalhadores expulsaram da passeata na Rio Branco pessoas mascaradas que queriam provocar saques, até com coquetéis molotov.

Os partidos políticos também aproveitaram a exposição para vender seus peixes. PSOL, PSTU e PC do B tinham bandeiras em toda parte. Na cobertura nacional na TV não vi bandeiras do PT. O MST também marcou boa presença. Aqui e ali uma faixa criticava Dilma. No Rio as mensagens eram mais radicais contra o governador Cabral. Não houve o "fora Dilma" que se tentou emplacar na "jornada cívica" de junho. Pelo contrário, até as críticas mais contundentes queriam de Dilma posicionamentos coerentes com o que deveria ser um governo dos trabalhadores: redução ou supressão da imensa carga de juros pagos a banqueiros e especuladores, mais recursos para saúde e educação, etc.

Outra coisa que chamou a atenção foi termos uma manifestação de agenda progressiva nos direitos. Nas greves anteriores as motivações eram por reação a ataques do governo aos trabalhadores. Não houve nas propostas unificadas qualquer ênfase no reajuste salarial, do salário mínimo, na criação de empregos. As bandeiras focaram em direitos de aposentados (fator previdenciário), na qualidade de vida (40 horas de jornada), na qualidade do emprego (contra a proposta de terceirização), no avanço em conquistas no campo (aceleração da reforma agrária), etc. Não houve bandeiras ambientais visíveis na TV, e em muitas imagens foram mostradas pautas locais.

Ficou a impressão de um bom ensaio. A classe trabalhadora voltou a ocupar os seus espaços, com grande potencial de ampliação num futuro movimento. Como desta vez não foram para  as ruas os filhos dos empresários e dos políticos, a reação do poder é bem diferente.

Gostaria de ver a presidente Dilma ir à TV dizer que o Brasil acordou mais forte com a classe trabalhadora indo às ruas. E o seu governo, também, porque alguns entenderão que as manifestações foram uma advertência para mudança de rumos, não uma tentativa de desestabilização como se tentou fazer nos movimentos de junho. Se o movimento não foi de apoio, também não foi de negação dos avanços dos últimos 10 anos. Os golpistas de plantão entenderam o recado.

Cabe a Dilma e ao PT escolherem seus aliados: se vão para as ruas buscar crescimento em uma frente de esquerda, ou se vão continuar negociando com mercenários cada passo dado pelo governo.



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