Recente pesquisa no site do Senado apontou que, entre os que o acessaram e lá votaram, apenas 2,7% são favoráveis às chamadas cotas raciais (termo questionável), que 45% seriam contra e 52% seriam a favor de cotas sociais. O senador Demóstenes Torres, do DEMo, viu nesse resultado de pesquisa uma prova cabal da rejeição da sociedade à proposta de "divisão da sociedade por raças". A senadora Serys Slhessarenko, do PT, que irá votar na Comissão de Justiça do Senado em proposta já aprovada na Câmara, desqualificou a pesquisa pelo baixo rigor científico. Essa proposta prevê a reserva de 50% das vagas nas universidades federais para alunos oriundos de escolas públicas e, entre essas, se subcotas raciais para os que se autodeclararem negros, pardos e indígenas.
Hoje a coluna de Elio Gaspari, publicada na Folha com o título "As cotas desmentiram as urucubacas" traz dados e argumentações que afirmam que o sistema de cotas produziu resultados positivos acima dos esperados, como, por exemplo, que o aproveitamento dos alunos que entraram para as universidades pelo sistema está acima do rendimento dos não-cotistas, assim como há uma menor evasão. Tudo isso a despeito das falácias e pragas rogadas pela cultura racista vigente.
É fértil a criatividade para jogar fumaça e encobrir a cultura de dominação racial branca sobre as demais, num mundo onde todos querem ser vistos como modernos e sem preconceitos. O cerne da questão se resume a "quero essa vaga para o meu filho e não para alguém de outra raça que não merece", isso para não usar as adjetivações usuais dos racistas enrustidos.
A cota social, e não racial, seria um subterfúgio válido por permitir fraudes como as 1.800 havidas no Prouni, de acesso ao programa por comprovação falsa de renda baixa. No sistema de cotas fica mais complicado que filhos de brancos burlem a comprovação. Branco é maneira de dizer, já que séculos de miscigenação colocaram no DNA de quase todos os brasileiros os genes de muitos grupos étnicos. A questão é mais cultural, porque ressalvadas as raríssimas exceções, toda a riqueza e poder no Brasil estão nas mãos de pessoas "brancas".
Não se trata a desigualdade com igualdade. Uma nação socialmente democrática precisa ter igualdade em todos os seus segmentos. Na Constituição temos o princípio da igualdade entre gêneros e raças, e o da gratuidade da educação pública. A promoção da igualdade passa pela consciência da desigualdade. Quando partidos estabelecem cotas de mulheres para suas candidaturas, estão tentando corrigir a distorção que leva uma grande maioria de homens aos cargos eletivos, e que dificilmente será corrigida mantendo-se a regra de igualdade, já que a cultura machista sempre preferirá homens nessas funções. O mesmo se pode dizer da cultura racista dominante, que disputará ideologicamente espaços com base na "igualdade de oportunidades" que historicamente privilegiou os seus.
Nos Estados Unidos, país dito democrático, a segregação tirou por séculos os direitos civis dos negros, que foram sendo conquistados na luta, por ações afirmativas e por cotas. O senado brasileiro, casa do conservadorismo, poderá ter mais uma mácula se optar pela perpetuação da cultura de dominação racial se rejeitar o projeto em tramitação ou dilapidá-lo. Ali estão muitos dos herdeiros dos senhores de engenho e da aristocracia escravagista e de tudo farão para impedir políticas de igualdade de qualquer espécie.
quarta-feira, 3 de junho de 2009
Cultura racista em jogo no Senado
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