sexta-feira, 19 de junho de 2009

Esporte: da paixão popular a negócio


Ganhei um ingresso para ver o jogo de vôlei Brasil 3 x 2 Finlândia que foi hoje em Brasília. Eu não ia a um jogo de vôlei desde antes do marketing descobri-lo como filão. Naquele tempo, a coisa era semi-profissional, com muita garra dos atletas, muito suor na camisa e pouca badalação. O jogador tinha uma profissão e tocava o esporte nas horas vagas. Com o vôlei dando ibope como esporte da juventude, tornando-se o segundo esporte nacional, a transmissão de jogos passou a fazer parte de um modelo de negócios milionário.








Hoje a TV marca o horário para o jogo, não importando se as pessoas poderão frequentá-lo. Os melhores jogos só passam nos canais por assinatura, ou seja, para ver se paga. Para um patrocinador a visualização da marca por mais de duas horas por jogo custa pouco, comparada à propaganda comercial em meio à programação das emissoras. E o retorno torna atrativos outros patrocinadores. E faz os jogadores virarem mercadorias, negociados para o exterior por altos valores.




A dificuldade para a torcida começa pela quantidade pequena de ingressos posta à venda. Metade do Ginásio Nilson Nelson foi reservada a convites distribuídos pelos patrocinadores, com direito a ganhar um kit de camisa e dois troços de plástico inflável que serviam para bater um contra o outro para fazer barulho. Uma ampla faixa da arquibancada foi dedicada a alunos da rede pública de ensino. Um setor para o SESI. Devem ter sobrado poucos ingressos para venda, de cadeiras, para deleite dos cambistas que os vendiam abertamente nas entradas do ginásio.

Como o importante era o espetáculo, e não o foco no jogo, não faltaram as brincadeiras de animadores, musiquinhas de academia de ginástica e muita coreografia. Se perguntassem às pessoas por que estavam ali, a grande maioria diria que veio porque ganhou o ingresso, ou porque a escola botou ônibus. Ali não estava jogando o Brasil. Quando terminou o segundo set, houve uma debandada dos alunos de escolas, porque os ônibus deviam ter horários de retorno. Como o jogo se arrastou para o "tie-break", ao meio-dia houve outra debandada das pessoas que tinham algum compromisso. No fim, creio que havia metade do público inicial.



Bastava o jogo parar por tempo pedido por algum técnico que entrava em campo o circo do merchandising, tipo Chacrinha, onde pessoas jogavam de tudo para a platéia, usando estilingues, bazucas de ar comprimido ou simplesmente arremessando com as mãos. Num momento entrou um jacaré, símbolo do time, voando amarrado a uma corda no teto. Um grupo de percussão da Universidade de Goiás teve que se submeter ao ridículo de entrar na quadra e tocar 30 segundos, porque o merchandising ocupou o resto do tempo. Depois entraram num intervalo e tocaram mais uns 2 minutos. Em poucas oportunidades de ouviu o côro "Brasil, Brasil". Era mais festa que jogo. O mais importante, para efeito da transmissão de TV, era mostrar uma platéia de figurantes muito energizada valorizando o espetáculo, e lançaram mão de várias técnicas para manter o povo gritando o tempo todo, por emoções do jogo ou não.

Por fim, o jogo teve poucas emoções e muitos erros do time brasileiro, que poderia ter fechado a partida por 3 x 0 se tivesse focado no objetivo. Foi cansativo. Rolou um pouco de sofrimento. Acho que todo esse circo acaba prejudicando a concentração até dos jogadores. Havia momentos de muita garra e disposição para ganhar um ponto, que no momento seguinte era desperdiçado com um saque na rede ou para fora. Novamente, em suma: vôlei só na televisão ou a gente jogando.








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