terça-feira, 16 de junho de 2009

Fora Sarney!

O Senado é uma aberração: dá a cada ente federativo (estados e DF) a igualitária quantidade de 3 senadores, obrigatoriamente cidadãos brasileiros acima dos 35 anos, com mandatos de 8 anos reelegíveis indefinidamente. Por definição, uma instância conservadora, onde praticamente não há jovens, e o poder das unidades menos populosas e menos influentes economicamente se multiplica. Por fim, a aberração das aberrações: um dos estados mais miseráveis do país tem 4 senadores, sendo três pelo próprio território, e um pelo Estado do Amapá. Quem? José Sarney, atual presidente do congresso, e um dos maiores caudatários eleitorais do atraso político do Maranhão. Para não dizerem que nada faz pelo Amapá, seu site no Senado tem uma meia dúzia de artigos sobre o estado. O último é de 2004... Um escárnio com o Amapá.



Sarney chegou à Presidência da República por um golpe...de sorte. O presidente eleito indiretamente pelo colégio eleitoral, Tancredo Neves, do MDB, morreu de diverticulite em 21/04/85 sem tomar posse. Sarney era o vice. A chapa tinha sido um arranjo para fazerem uma transição civil palatável ao regime militar. Sarney pertencia às oligarquias da Arena, partido de apoio à ditadura, e tinha apoio dos militares. Tancredo era da tradicional política mineira, cobra criada que negociou o parlamentarismo em 1961 para tirar poderes de João Goulart e acabou primeiro-ministro. Era contra a ditadura. Foi um político tão eficiente que as duas pessoas que o velavam na hora da morte elegeram-se governadores: Antônio Brito, o porta-voz, pelo RS, e Aécio Neves, no neto, por MG.




Sarney fez um péssimo governo e praticou um golpe eleitoral com base econômica: o Plano Cruzado, de 1986. O Congresso que se elegeria naquele ano teria poderes constituintes. A inflação era galopante. De repente, num passe de mágica, o Plano Cruzado zerou a inflação, aumentando instantaneamente o poder de compra da população mais pobre. Toda uma jogada de marketing político montada sobre o Plano fez o MDB eleger 22 dos 23 governadores e uma enorme bancada no Congresso que, junto com outras forças conservadoras, esculpiu a Constituição de 1988. Passada a eleição, o controle da inflação acabou e ficou claro o estelionato eleitoral.




Sarney também decretou a moratória da dívida externa em 1987 e fez os Planos Bresser e Verão, que confiscaram salários e poupanças, gerando ações judiciais que correm até hoje. Em 1988, houve o movimento FORA SARNEY, puxado pelos partidos de esquerda. Foi o ano em que o salário mínimo chegou ao menor valor histórico, e eclodiram greves gerais contra o arrocho salarial e os planos de confisco. Em 1989 grandes greves foram feitas em resposta ao Plano Verão, também conhecido como Plano Ladrão, que mais uma vez roubou salários dos trabalhadores.

Sempre aliado a quem esteja no poder, hoje Sarney está na base aliada de Lula. E foi novamente eleito Presidente do Senado, e enfrenta uma forte crise de corrupção e desmandos começados exatamente na sua gestão anterior. Centenas de cargos em diretorias, apadrinhamentos, aparelhamento, verbas indenizatórias abusivas, nepotismo, tudo isso cerca Sarney, que a cada momento quer eleger um culpado para ver se atenua os escândalos. Agora surgem os "atos secretos", decisões administrativas não publicadas, até por serem impublicáveis, como a nomeação de parentes de Sarney para bons cargos do Senado.

Nosso povo passivo assiste a tudo esperando uma auto-regulamentação, que não virá porque o esquema de corporativismo político não deixa sequer que a Polícia Federal acesse as informações para investigação de malversação de dinheiro público. Depois da morte de Antônio Carlos Magalhães, Sarney é a personificação da política coronelista mais arcaica. Está há 50 anos em cargos eletivos. Sua filha ganhou agora de presente o governo do Maranhão, depois da cassação do governador eleito Jackson Lago. Mesmo que deixe a presidência pela pressão popular, continuará mandando muito.
Isso não é motivo para ficarmos olhando os fatos sem interferir. Uma campanha FORA SARNEY e a pressão para que o senador Cristóvão Buarque leve adiante sua idéia de consulta popular para colocar em discussão o destino do Senado são coisas que se pode fazer, com atos públicos no Congresso, campanhas com adesivos nos carros, divulgação pela Internet. O sistema é corrupto, mas deve temer a reação dos cidadãos. Não podemos ficar assistindo Sarney jogar toda a bandalheira para debaixo do tapete e perpetuar as práticas corruptas pagas com o nosso dinheiro.

Um comentário:

  1. É realmente incrível que um senador não saiba que recebia indevidamente cerca de 3 mil reais a mais em sua folha de pagamento. Ainda tem a cara de pau de dizer que não sabia disso e "vou devolver o que é indevido". Sou professor um dia meu amigo Nico que também é professor recebeu 300 reais a mais em sua conta. Imediatamente foi até o depaqrtamento financeiro do colégio e devolveu o que não era seu. A adiministração do colégio o elogiou pela sua atitude... Agora vem Sarney e disse que não sabia que recibia 3 mil gordos reias em sua conta? PALHAÇADA! Hipócrita, demagogo! Pensa que nós eleitores somos idiótas?
    Sem comentários...
    Jefferson Luís de Castilho
    Professor

    ResponderExcluir