sábado, 12 de março de 2011

Libia Ocidental, Libia Oriental?

Nas guerras, a primeira vítima é a verdade, alguém já disse isto, e procede. Ontem foi morto em Benghazi, capital da oposição líbia, um câmera da TV Al Jazeera. Apesar disso, ninguém falou em combates próximos à cidade, e tudo que as agências de informação mostram é uma batalha sem fim pela cidade portuária de Ras Lanuf e pelo porto de Brega, que ficam no meio do caminho de Tripoli a Benghazi. Parece que Kadafi tem agora a iniciativa, sustentada, e logo poderá chegar aos redutos mais estratégicos dos opositores.

A recusa dos americanos em participar do apoio militar aos rebeldes ou da criação de zona de exclusão aérea é baseada em informes da própria inteligência que apontam para o esmagamento da oposição pelas tropas governamentais. Fontes dos rebeldes já falam que, se não houver ajuda internacional imediata, cerca de 500 mil pessoas morrerão na batalha por Benghazi. Se depender da turma de Kadafi, ninguém será poupado, porque consideram os rebeldes "impuros", "drogados" e "agentes da Al Qaeda".

As opções, que antes se discutia sobre o que fazer com Kadafi, foram invertidas. O que fazer com essas 500 mil pessoas, que não poderão ficar na Líbia sob risco de aniquilamento, caso Kadafi chegue ao confronto final e assimétrico? A Comunidade Européia vive um momento de xenofobia, com vários países, em especial a Itália e a França, vizinhos mais próximos da Líbia, expulsando imigrantes. Não vão querer receber esse contingente. O Egito já tem problemas de sobra que causaram a explosão de descontentamento popular. Como sair disso?

Encontrei ontem essa interessante matéria no jornal Daily Express falando da estratégia de Kadafi de retomar toda a área produtiva e os portos relacionados com o petróleo, encurralando os rebeldes num território a leste praticamente falido, com capital em Benghazi. Nem o ocidente, nem Kadafi, estão interessados no destino dos revoltosos, e a solução de dois países dentro de um, divididos por uma linha imaginária instável, pode acontecer, num grande acordo de superpotências com o ditador líbio.

Recentemente o Sudão votou pela divisão em dois, com a criação do Sudão do Sul. Por que não Líbia Ocidental e Líbia Oriental? Essa é uma formulação geopolítica que não resolveu problemas em vários países, mas acomodou por uns tempos a tomada de decisões difíceis. A alternativa de manter a oposição armada, numa guerra civil prolongada com Kadafi, poderá levar a muito mais mortos e exilados que essa possibilidade de divisão. Para as potências, interessa o petróleo, mesmo com uma nova instabilidade tipo Coréia do Norte x Coréia do Sul. Melhor para eles que um novo Vietnã.


Nenhum comentário:

Postar um comentário