segunda-feira, 7 de março de 2011

Kadafi, o Pelego das Arábias

O ditador líbio Muamar Kadafi escancarou em entrevista aquilo que corria à boca miuda na diplomacia das superpotências: seu governo é importante no combate à Al Qaeda, e que a Líbia segura com empregos milhões de potenciais imigrantes ilegais que iriam para a Europa. E pede que as superpotências o ajudem, senão haverá crescimento do terrorismo, ondas de imigrantes ilegais, etc.


A passividade das grandes potências, escondida por trás de resoluções da ONU e bravatas de um ou outro governo, tem sentido pragmático, e será decisiva para Kadafi vencer a guerra civil. O mundo ocidental está iniciando um processo de recuperação econômica lenta, gradual e ainda pouco sustentável, e não quer saber de turbulência no fornecimento não apenas do petróleo líbio, mas também de outros países onde são mantidos ditadores fantoches como garantias de estabilidade para o fornecimento de combustíveis.

Nos Estados Unidos, em especial, onde todo mundo tem carro, é sensível a elevação do preço da gasolina, causando insatisfações. Graças à repressão de Kadafi, a família real da Arábia Saudita já decretou o banimento das manifestações públicas, e ninguém da grande mídia reclamou. O preço do barril de petróleo, que chegou aos US$ 120, recuou e tende a baixar mais. Um banho de sangue está acontecendo também na Costa do Marfim, mas como ali não tem insumos interessantes às potências, tampouco alguém está ligando para o que acontece. Nem a imprensa vai lá ver o que se passa.

A Liga Árabe já se posicionou contra a intervenção estrangeira na Líbia, até sobre a criação de uma zona de exclusão aérea. Tropas estrangeiras em território líbio, nem pensar. A Liga Árabe, coincidentemente, é composta de países contrários à Al Qaeda, com ditaduras semelhantes à da Líbia, e seus membros não iriam querer dizer para Kadafi : "eu sou você amanhã". O ex-terror do mundo ocidental passou a ser intocável, afirmando a todo o mundo árabe sua adesão ao imperialismo das superpotências. É o Pelego das Arábias, aquele que traiu os ideais em troca de poder e dinheiro.

Esse é o grande e indecente pacto desenhado como solução para abortar as revoltas no mundo árabe. A Líbia fica com Kadafi, e a repressão aborta todas as demais revoltas da região, especialmente nos países produtores de petróleo. O ocidente garante estabilidade de preços e que não haverá uma onda de terrorismo, e tudo volta a ser como era antes. No Egito, ontem, manifestantes que derrubaram Mubarak foram espancados por grupos paramilitares, e praticamente nada mudou com a queda do ditador. A não ser que os povos tenham determinação revolucionária, todo o movimento será abafado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário