terça-feira, 26 de julho de 2011

Noruega : Holofotes para a extrema-direita

Anders Breivik conseguiu seu objetivo: colocar sua plataforma fascista de 1500 páginas em destaque por todo o mundo. O mais importante nos seus ataques (e dos grupos que certamente o apoiaram, tanto no manifesto como na ação terrorista) não foi matar as pessoas, mas usar a barbaridade de repercussão internacional para dizer a que veio. Daí não ter se matado e não ter resistido à prisão.


A extrema-direita, assim, ganha uma cara, uma referência com um discurso. Mesmo preso, continua dando o recado, que repercute nas mentes de alguns outros simpatizantes da causa racista e xenófoba que defende. Para ele, o multiculturalismo é coisa da propaganda comunista, e está levando a Europa ao domínio islâmico, e por isso prega uma cruzada para que retornem às suas origens. Essa não é uma bandeira dele, mas de partidos de extrema-direita de todo o continente.

Como a Noruega parece estar num pesadelo, na maior atrocidade cometida desde a Segunda Guerra Mundial, sua polícia, despreparada para isso, demorou muito a prendê-lo, e a sua legislação é extremamente branda, prevendo no máximo 24 anos de prisão. Se conseguirem enquadrá-lo em crime contra a humanidade, pega uns 30, no máximo. Toda aparição de Anders serve de palanque. Ele chegou a querer ler, no depoimento à polícia, todo calhamaço de 1500 páginas para alegar que não cometeu crime nenhum e que buscou salvar o país.

Num mundo cheio de crises e desesperança, em busca de bodes expiatórios para os problemas econômicos, o discurso de Anders pode cair como luva nas mentes de gente preconceituosa. Na França, um candidato do partido Frente Nacional, de extrema-direita, foi suspenso pelo partido por ter feito apologia a Breivik como um "resistente", o "primeiro defensor da Europa", um "ícone". Já tenho um texto preparado para esculachar o primeiro sem noção que fizer essa apologia, e estou de olho em alguns sites que são verdadeiros redutos desse povo.

A mídia até que vem editorializando primeiro, condenando a intolerência, para depois dar a notícia de que Breivik citou o Brasil por 12 vezes no seu calhamaço, como referência de país que não deu certo pela miscigenação de raças, e aponta nisso a origem da corrupção, da violência, etc. Creio que os grandes meios de comunicação sabem que aqui temos algum terreno para essas idéias fertilizarem, em especial os que odeiam negros, indios, pobres em geral, nordestinos, mulheres, gays, latinos, etc.

Eles sabem disso, porque durante muitos anos fomentaram o ódio a Lula, porque era pobre, nordestino, iletrado, e fez o melhor governo, e ao PT, porque questionava tudo e defendia os mesmos perseguidos pela direita. Não querem, entretanto, assumir o ônus por fomentarem movimentos extremistas por aqui.

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