O noticiário dos últimos dias fala da operação de fusão entre as duas maiores beneficiadoras de alimentos do país - Sadia e Perdigão - aprovada pelo CADE com restrições. O que poucos se lembram é de como começou o processo. A Sadia apostou no câmbio baixo, mas com a crise americana, em setembro de 2008, o dólar disparou e a empresa teve que registrar pesados prejuízos no seu balanço, fazendo o preço das suas ações derreter. A saída para não quebrar foi a proposta de fusão com a sua maior concorrente, a Perdigão, esse processo que agora está terminando.
Outras empresas quase quebraram quando o dólar subiu. A Aracruz Celulose foi outra que entrou na jogatina do mercado de derivativos de câmbio, apostando na valorização do real ante o dólar. Ao contrário da expectativa, o dólar subiu 18% em setembro de 2008, trazendo prejuízos. Podemos ter o mesmo, de novo? Sim, e o Banco Central já trabalha com essa possibilidade, restringindo as apostas dos bancos na queda do dólar. Limitou o volume de depósito compulsório sobre os bancos que ultrapassem R$ 1 bi em posição vendida, ou seja, que aposta na continuidade da apreciação (valorização) do Real.
Essa sinalização do Bacen vem de análises de cenários que apontam para mais turbulências nos mercados internacionais a curto prazo. A enxurrada de dólares que chega por aqui tem a ver com a baixa atratividade das taxas de juros praticadas nos países capitalistas centrais - na base de 1%. No Brasil esses capitais encontram maiores retornos tanto na atividade produtiva como na especulação do mercado financeiro, por isso há excesso de oferta e a queda do preço do dólar no mercado flutuante. A crise na zona do Euro aumentará as taxas de juros em vários países, podendo haver reversão de fluxo e consequente desvalorização do Real.
Além disso, há uma bomba-relógio ativada no mercado. Se até 2 de agosto o congresso norte-americano não aumentar o teto da dívida pública, títulos emitidos pelo governo americano deixarão de ser honrados, ou seja, moratória ou calote. Para atrair novos recursos para financiar seus déficits, os americanos serão forçados a aumentar as taxas de juros, mesmo que as agências classificadoras de risco mantenham o maior nível de investimento. Como os títulos americanos são considerados os mais seguros do mundo, capitais em busca de tranquilidade em meio às incertezas dos próximos anos certamente optarão por migrar para lá.
Caso tenhamos esse cenário, o Brasil também terá problemas para financiar suas dívidas, e o governo poderá aumentar as taxas de juros, freando a economia. Outra razão para esse movimento seria a inflação, que viria pela perda de competitividade dos produtos estrangeiros no mercado brasileiro, deixando os produtores nacionais à vontade para aumentarem seus preços.
Além disso, haveria uma inflação de custos em diversos setores, pois muitos insumos importados ficariam mais caros. Com a fuga de capitais a partir de melhores oportunidades externas, as bolsas também sofreriam impactos. Do lado positivo, as exportações brasileiras teriam mais competitividade mas, com uma eventual recessão americana, nossos clientes também diminuiriam suas compras. O Banco Central está dando o recado para que depois não haja choradeira.
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